Desenvolvimento moral, afetividade e complexidade: esgotamento das teorias morais racionalistas a partir de Carol Gilligan

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/

Palavras-chave:

desenvolvimento moral, complexidade, afetividade, racionalismo, Carol Gilligan

Resumo

As teorias morais de Jean Piaget e Lawrence Kohlberg são acusadas de esgotamento. Esse esgotamento seria devido, principalmente, a suas limitações em contemplar a complexidade envolvida no desenvolvimento moral, como o papel da afetividade nesse processo. A partir do trabalho pioneiro de Carol Gilligan que se ateve a essa relação entre cognição e afetividade, diversas teorias surgiram com proposições próprias visando sanar as limitações de suas predecessoras, e que por isso poderiam se dizer pós-kohlberguianas. Este artigo tem o objetivo de discutir a questão da complexidade no desenvolvimento moral, sobretudo quanto à influência da afetividade nesse processo, desvelada inicialmente a partir de Gilligan. Conclui-se que, caso haja, de fato, tal esgotamento, as teorias pós-kohlberguianas que consideram a complexidade, em débito com o trabalho pioneiro de Gilligan que lhes serviu de referência, parecem ter renovado o campo de investigação para mais um ciclo de décadas de estudo sobre o desenvolvimento moral.

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Publicado

2024-04-05

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Desenvolvimento moral, afetividade e complexidade: esgotamento das teorias morais racionalistas a partir de Carol Gilligan. (2024). Psicologia USP, 35, e210021. https://doi.org/10.1590/