A desqualificação das histórias (in)familiares: análise discursiva na suspensão e destituição do poder familiar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/0103-6564e230011

Palavras-chave:

acolhimento institucional, destituição do poder familiar, proteção social especializada

Resumo

Este estudo analisou o percurso de quatro famílias, destituídas do poder familiar, pelo Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente no Brasil. A análise do discurso de orientação psicanalítica foi empregada no corpus de informações de cada caso, compreendido por documentos relativos ao acompanhamento dos casos e entrevistas, realizadas com familiares e agentes institucionais. Os resultados apontam para formações discursivas que naturalizam ações judiciais punitivas de suspensão ou destituição do poder familiar, aplicadas hegemonicamente às famílias pobres, nas quais as mulheres são as principais culpabilizadas pelas falhas na gestão de cuidados. Verifica-se, também, a descontinuidade do acompanhamento, retomado quando há repetição da aplicação dessas medidas protetivas, assumindo a característica sintomática de falha. A escuta dos atores desses processos surge como uma estratégia de retificação subjetiva, ultrapassando práticas prescritivas e normativas, ratificadoras da exclusão e de criminalização da pobreza, particularmente das famílias negras.

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Publicado

2024-04-05

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

A desqualificação das histórias (in)familiares: análise discursiva na suspensão e destituição do poder familiar. (2024). Psicologia USP, 35, e230011. https://doi.org/10.1590/0103-6564e230011