Palavras carnais: sobre re-lembrar e re-esquecer, ser e não ser, entre os Filhos do Erepecuru
DOI:
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2016.124811Palavras-chave:
remanescentes de quilombos, ontologia, esquecimento, palavras, corpoResumo
Neste trabalho, exploro o potencial analítico daquilo que Martin Holbraad denomina ‘método ontográfico’, a partir das reflexões dos Filhos do Erepecuru – castanheiros, ribeirinhos e remanescentes de quilombos – acerca do processo de lembrar e esquecer relatos sobre os seus antepassados, e a atuação dessas palavras sobre o corpo. Inicio com uma consideração sobre a importância que os Filhos conferem ao esquecimento dos seus relatos sobre a vinda dos antigos para o rio Erepecuru, município de Oriximiná, Pará. A partir dessa questão etnográfica, descrevo como a necessidade de esquecer e os cuidados inerentes ao ato de lembrar estão relacionados ao poder das palavras de mobilizar forças e sentimentos, curas e doenças, para dentro da pessoa. Tal reflexão etnográfica possibilita sugerir como a linguagem e a experiência são relacionadas pelos Filhos do Erepecuru, e como essa relação opera com base em uma ontologia móvel.
Downloads
Referências
ALEXANDER, Jeffrey et al. 2004. Cultural Trauma and Collective Identity. Los Angeles, University of California Press.
CAMPOS, Augusto; CAMPOS, Haroldo; e PIGNATARI, Décio. 1956. “Manifesto Concretista”. ad, arquitetura e decoração, n. 20.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. 1997 [1980]. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo, Editora 34.
ECO, Umberto e MIGIEL, Marilyn. 1988. “An Ars Oblivionalis? Forget It!”. pmla, vol. 103, n. 3: 254-261.
EYERMAN, Ron. 2001. Cultural Trauma: Slavery and the Formation of African American Identity. Cambridge, Cambridge University Press.
GILROY, Paul. 1993. The Black Atlantic: Modernity and Double Consciousness. Cambridge, ma, University of Harvard Press.
GOLDMAN, Marcio. 2011. “Cavalo dos Deuses: Roger Bastide e as transformações das religiões de matriz africana no Brasil”. Revista de Antropologia, vol. 54, n. 1: 407-432.
GOW, Peter. 2001. An Amazonian Myth and its History. Oxford, Oxford University Press.
HOLBRAAD, Martin. 2014. “Truth Beyond Doubt: Ifá Oracles in Havana”. hau, Journal of Ethnographic Theory, vol. 2, n. 1: 81-109.
HOLBRAAD, Martin. 2012 Truth in Motion The Recursive Anthropology of Cuban Divination. Chicago e Londres, University of Chicago Press.
LIMA, Joaquim. 1992. História dos negros que através da luta conseguiram libertar-se dos senhores de escravos. Pará, 12 dat.
MACEDO, Valéria e SZTUTMAN, Renato. 2014. “A parte de que se é parte. Notas sobre individuação e divinização (a partir dos Guarani)”. Cadernos de Campo, n. 23: 287-302.
O’DWYER, Eliane. 2002. “Os Quilombos do Trombetas e do Erepecuru-Cuminá”. In (org.). Quilombos: identidade étnica e territorialidade. Rio de Janeiro, Editora fgv, pp. 255-280.
OVERING, Joanna. 1989. “Styles of manhood: an Amazonian contrast in tranquility and violence”. In HOWELL, S. e WILLIS, R. (orgs.), Societies at Peace. Londres, Tavistock Publications, pp 79-99.
RAMO Y AFFONSO, Ana. No prelo “O que nos levanta sobre a terra: alegria e saudade fazendo parentesco”. In GALLOIS, Dominique e MACEDO, Valéria (orgs.), Nas redes guarani. Um encontro de saberes, traduções e transformações.
SAUMA, Julia. 2013 The Deep and the Erepecuru: Tracing Transgressions in an Amazonian Quilombola Territory. Londres, tese, University College London.
SAUMA, Julia. 2014 “Entrosar-se, uma reflexão etnográfica afroindígena”. Cadernos de Campo, n. 23: 257-270.
SAUMA, Julia. 2015 “Consenso unânime: movimentos pela tranquilidade e a sobreposição de pensamentos entre os Coletivos-Quilombolas de Oriximiná”. In GRUPIONI, d. F. e DE ANDRADE, L. M. M. (orgs.), Entre águas bravas e mansas: índios e quilombolas em Oriximiná. São Paulo, Comissão Pró-Índio e Iepé, pp. 234-251.
SCOTT, David. 1991. “The Event, This Memory: Notes on the Anthropology of African Diasporas in the New World”. Diaspora: A Journal of Transnational Studies, v. 1: 261-284.
SMELSER, Neil. 2004. “Psychological Trauma and Cultural Trauma”. In ALEXANDER et al. (orgs.) Cultural Trauma and Collective Identity. Los Angeles, University of California Press.
SZTUTMAN, Renato. No prelo “O desabrochar da palavra: sobre o encontros dos Clastres com os Guarani”. In GALLOIS, Dominique e MACEDO, Valéria (orgs), Nas redes guarani. Um encontro de saberes, traduções e transformações.
VANZOLINI, Marina. 2014. “Daquilo que não se sabe bem o que é: a indeterminação como poder nos mundos afroindígenas”. Cadernos de Campo, n. 23: 271-285.
VIEIRA, Suzane. 2015 Resistência e pirraça na malhada: cosmopolíticas quilombolas no Alto Sertão de Caetité. Rio de Janeiro, tese, ufrj.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2006. “A floresta de cristal: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos”. Cadernos de Campo, n. 14/15: 319-338.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo; PEDERSEN, Morten; e HOLBRAAD, Martin. 2014. “The Politics of Ontology: Anthropological Positions”. Fieldsights- Theorizing the Contemporary, Cultural Anthropology Online.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2016 Revista de Antropologia
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Revista de Antropologia concordam com os seguintes termos:
a) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).