O tempo encantado ou as astúcias dos homens lentos
Um “hipócrita” diálogo com Michel de Certeau
DOI:
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.148934Palavras-chave:
Homens lentos, trabalho industrial, vida cotidiana, ritmos, resistência, cidades portuárias, criação musicalResumo
Este texto dedica-se ao “murmúrio das sociedades”, ou seja, à dimensão ordinária da vida dos heróis anônimos das sociedades industriais. Assumindo a postura da braconagem com a obra do Michel de Certeau, seguimos, em primeiro lugar, o uso crítico da metáfora sugerida por Milton Santos para falar dos pobres – os homens lentos – desdobrando um diálogo com a obra do sociólogo Jean Duvignaud. Este fez da observação das atitudes anômicas uma maneira de observar a linguagem perdida de uma sociedade. Após ter mostrado como a dominação da velocidade na era industrial (“a idade mecânica”) torna a lentidão uma forma de estigma dos dominados, ilustramos as astúcias dos homens lentos para tornar a lentidão um elemento de resistência (diminuição do ritmo de trabalho), quando não de reexistência (a partir das práticas musicais e da dança).
Downloads
Referências
ARANTES, Erica Bastos. 2009. “Negros do porto. Trabalho, cultura e repressão policial no Rio de Janeiro, 1900-1910”. In AZEVEDO, Alcienne et al. (org.). Trabalhadores na cidade; cotidiano e cultura no Rio de Janeiro e São Paulo, séculos XIX e XX. Campinas, Editora da Unicamp
BAUCOM, Ian. 2005. Specters of the Atlantic: Finance Capital, Slavery, and the Philosophy of History. Durham, Duke University Press.
BENATTE, Antonio Paulo. 2002. Os jogos que especulam com o acaso: contribuição a uma história do “jogo de azar” no Brasil moderno (1890-1950). Campinas, tese de doutorado, Unicamp.
BENJAMIN, Walter. [1938] 1990. “Le Paris du second Empire chez Baudelaire”. In______. Charles Baudelaire, un poète lyrique à l’apogée du capitalisme. Paris, Payot
BESSIN, Marc e ROULLEAU BERGER, Laurence. 2002. “Les Armes du faible sont-elles de faibles armes?”. L’homme et la société, n. 143-144: 3-11.
BOURDIEU, Pierre. 1997. Méditations pascaliennes. Paris, Seuil.
CARLYLE, Thomas. [1829] 1872. “Signs of the Time” Critical and Miscellaneous Essays. Nova York, Scribner, Welford & Co.
CÉSAIRE, Aimé. [1930] 1994. “Cahiers d’un retour au pays natal”. In
______. La Poésie. Paris, Seuil, p.40.
CRARY, Jonathan. [1994] 2016. Techniques de l’observateur. Vision et modernité au XIXe siècle. Paris, É ditions Dehors.
CHAZKEL, Amy. 2011. Laws of Chance: Brazil’s Clandestine Lottery and the Making of Urban Public Life. Durham, Duke University Press.
CERTEAU, Michel de. 1973. L’Absent de l’histoire. Tours, Éditeur Mame.
CERTEAU, Michel de. 1975. L’Écriture de l’histoire. Paris, Gallimard.
CERTEAU, Michel de. [1980] 2002. L’Invention du quotidien, 1/ Arts de faire. Paris, Gallimard/ Folio Essais.
DÉTIENNE, Marcel e VERNANT, Jean-Pierre. 1974.Les Ruses de l’intelligence: La Métis chez les Grecs. Paris, Flammarion.
DUVIGNAUD, Jean. 1973. L’Anomie, hérésie et subversion. Paris, Anthropos.
DUVIGNAUD, Jean. 1977a. “La Ruse”. Cause Commune, Paris, UGE, 10/18.
DUVIGNAUD, Jean. 1977b. Le Don du rien. Essai d’anthropolgie de la fête. Paris, Stock.
FARGE, Arlette. 2003. Le Bracelet de parchemin. L’écrit sur soi au XVIIIe siècle. Paris, Bayard.
FARIAS, Juliana Barreto et al. 2006. Cidades Negras. Africanos, crioulos e espaços urbanos no Brasil escravista do século XIX. São Paulo, Editora Alameda
FOUCAULT, Michel. 1977. “La Vie des hommes infâmes”. Les Cahiers du Chemin, 29 janvier 1977. Republicado em Dits et écrits , Paris, Gallimard, 1994, III, pp.237-253.
FREYRE, Gilberto. 1963. “On the Iberian concept of time”. The American Scholar, v. 32, n. 3: 415-430.
GIEDON, Siegfried. [1948] 1970. Mechanization Takes Command. A Contribution to Anonymous History. Nova York, Oxford University Press.
HALL, Edward T. [1983] 1992. La Danse de la vie. Temps culturel, temps vécu. Paris, Seuil.
HAREL, Simon. 2005. “Braconagem: um novo modo de apropriação do lugar?”. Interfaces Brasil/Canada, Rio Grande, n. 5: 211-2 30. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/interfaces/article/viewFile/6511/4593.
HERSCH, Charles B. 2007. Subversive Sounds: Race and the Birth of Jazz in New Orleans. Chicago, University of Chicago Press
HOGGART, Richard. [1957] 1970. La Culture du pauvre. Paris, Éditions de Minuit.
HYDE, Lewis. [1998] 2017. A astúcia cria o mundo. Trickster: trapaça, mito e arte. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.
JULLIEN, François. 2009. Les Transformations silencieuses . Paris, Grasset.
LATOUCHE, Serge et al. (orgs.). 2004. Les Raisons de la ruse. Une Perspective anthropologique et psychanalytique. Paris, Editions La Découverte.
LIEF, Shane. 2012. “Antonio Maggio anarchist blues”. The Jazz Archivist, vol. XXV: 34-43.
MORAZÉ, Charles. 1957. Les Bourgeois conquérants, XIXe siècle. Paris, Armand Colin.
PAYET, Jean-Paul et al. (orgs.). 2008. La Voix des faibles. De l’indignité à la reconnaissance. Rennes, Presses Universitaires de Rennes.
POMIAN, Krisztof. 1984. L’Ordre du Temps. Paris, Gallimard.
REIS, João J. 1993. “A greve negra de 1857 na Bahia”. Revista USP, n. 18: 8-29.
REY, Alain. 2005. Dictionnaire culturel en langue française. Paris, Robert éditions.
SANTOS, Milton. 1994. “Metrópole. A força dos fracos é seu tempo lento”. In______. Técnica, espaço e tempo. Globalização e meio técnico-científico-informacional. São Paulo, Editora Hucitec.
SCHILLING, Derek. 2006. Mémoires du quotidien, les lieux de Perec. Lille, Presses Universitaires du Septentrion.
SCHILLING, Derek. 2009. “French Sociologies of the Quotidian: From Dialectical Marxism to the Anthropology of Everyday Practice”. In
JACOBSEN, Michael Hviid (org). Encountaring the Everyday: An Introduction to the Sociologies of the Unnoticed. Basingtone (UK), Palgrave Macmillan.
SHAPIRO, Nat e HENTOFF, Nat (orgs.). 1966. Hear Me Talkin’ To Ya: The Story of Jazz as Told by the Men Who Made It . Nova York, Dover Publications.
SODRÉ, Muniz. [1979] 1998. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro, Mauad.
SPIX, Johann Baptiste von e MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von. [1823] 1981. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Belo Horizonte, Itatiaia.
STEIN, Stanley. 1960. Grandeza e decadência do café no vale do Paraíba. São Paulo, Editora Brasiliense.
STERNE, Laurence. 1762. The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman. Londres, Printed for T. Becket and P. Dehont in the Strand.
TAYLOR, F.W. [1911] 1998. The Principles of Scientific Management.
Mineola, Dover Publications.
TODESCHINI, Giacomo. [2007] 2015. Au Pays des sans-nom. Gens de mauvaise vie, personnes suspects ou ordinaires du Moyen- ge à l’époque moderne. Paris, Verdier.
VEYNE, Paul. 1996. “L’Interprétation, l’interprète. A Propos des choses de la religion”. Enquête, n. 3: 241-272.
VIDAL, Laurent. 2016. “Les Ruses des hommes lents”. L’Histoire, n. 425-426: 94-99.
WHITE, Kenneth. 2014. Investigations dans l’espace nomade. Paris, Isolato.
WALSH, Lorena S. 1995. “Work and Resistance in the New Republic. The Case of Chesapeake 1770-1820” In TURNER, Mary (org). From Chattel Slaves to Wage Slaves. The Dynamic of Labour Bargaining in the Americas. Londres, James Currey Ltd.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Revista de Antropologia
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Revista de Antropologia concordam com os seguintes termos:
a) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).