Alteridade e raça entre África e Brasil: branquidade e descentramentos nas ciências sociais brasileiras
DOI:
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2020.170727Palavras-chave:
Ciências Sociais, Antropologia Brasileira, Raça, Branquidade, AlteridadeResumo
A partir da minha experiência de campo em Angola, busco problematizar a tradicional caracterização da antropologia brasileira - e por extensão das ciências sociais - como feita por “brasileiros” sobre o “Brasil”, refletindo sobre o novo perfil dos cientistas sociais quanto ao pertencimento étnico, racial e de classe que tem se pluralizado nos últimos 20 anos. Esta transformação do perfil dos cientistas sociais desafia a ideia de um “nós antropológico” centrado em uma ideia naciocêntrica que não reconhece sua posição de classe, raça e território, ou seja, branca, de classe média, oriunda ou socializada no sul/sudeste do país. Defendo o descentramento das ciências sociais brasileiras inspirada pelos novos movimentos de descolonização das ciências sociais. Esse descentramento passa pelo reconhecimento e politização da branquidade hegemônica das ciências sociais como condição para sua revisão crítica.
Downloads
Referências
BECKER, Howard S. 1977. “De que Lado estamos?”. In: BECKER, Howard S. Uma Teoria da Ação Coletiva. Rio de Janeiro, Zahar Editores, pp. 122-136.
BENTO, Maria A S. 2002. “Branqueamento e branquitude no Brasil” In: CARONE I., BENTO M. A. S. (orgs.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, Vozes, pp. 25-57.
BHABHA, Homi. 1998. O Local da Cultura. Belo Horizonte, Editora UFMG. CARVALHO, José Jorge de. 2001. “O olhar etnográfico e a voz subalterna”. Horizontes Antropológicos, 7, n. 15: 107-147.
CHAKRABARTY, Dipesh. 2001. “Postcolonialismo y el artificio de la historia:
¿Quién habla por los pasados ‘indios’?”. In: MIGNOLO W. (Org.). Capitalismo y geopolítica del conocimiento. Buenos Aires, Ediciones del Signo/Duke University, pp. 133-170.
CHATTERJE, Partha. 2004. “A nação em tempo heterogêneo”. In: Colonialismo, Modernidade e Política. Salvador, Edufba.
CLIFFORD, James e MARCUS George (org.). 1986. Writing Culture — The Poetics and Politics of Ethnography. California University of California Press.
COLLINS, Patricia Hill. 2000. Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. Nova York/Londres, Routledge.
CRENSHAW, Kimberlé. [1989] 1991. “Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory, and Antiracist Politics”. In K. BARTLETT, K. & KENNEDY, R. Feminist Legal Theory: Readings in Law and Gender, San Francisco, Westview Press, pp. 57-80.
FIGUEIREDO, Ângela e GROSFOGUEL, Ramón. 2007. “Por que não Guerreiro Ramos? Novos desafios a serem enfrentados pelas universidades públicas brasileiras”. Ciência e Cultura, Campinas, v. 59, n. 2: 36-41].
FIGUEIREDO, Ângela e GROSFOGUEL, Ramón. 2010. “Racismo à brasileira ou racismo sem racistas: colonialidade do poder e a negação do racismo no espaço universitário”. Sociedade e Cultura, 12, n. 2: 223-234.
FONSECA, Claudia. 2002. “Antropologia e cidadania em múltiplos planos”. Debates. NACI: Núcleo de Antropologia e Cidadania. em: https://www.ufrgs.br›naci›documentos›humanas_fonseca. Acessado em 13 de janeiro de 2020.
FOUCAULT, Michel. [1969] 1992. O que é um autor? Lisboa, Passagens.
FREYRE, Gilberto. [1933] 2003. Casa Grande e Senzala. São Paulo, Global Editora.
FREYRE, Gilberto. 1953. Um brasileiro em terras portuguesas. Rio de Janeiro, José Olímpio.
FREYRE, Gilberto. [1953] 2001. Aventura e Rotina: Sugestões de uma viagem à procura das constantes portuguesas de caráter e ação.
Rio de Janeiro: Topbooks/Univercidade Editora.
FRY, Peter. 1991. “Politicamente Correto num Lugar, incorreto noutro?”. In: Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, n. 21. pp. 167-177.
FRY, Peter. 2003. “Culturas da diferença: sequelas das políticas coloniais portuguesas e britânicas na África Austral”. Afro-Ásia, Salvador, n. 29/30: 271-316.
FRY, Peter. 2005. A persistência da raça: ensaios antropológicos sobre o Brasil e a África austral. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.
GEERTZ, Clifford. 1988. Obras e vidas: o antropólogo como autor. Rio de Janeiro, Ed. UFRJ.
GEERTZ, Clifford. [1973] 1989. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC.
GUPTA, Akhil, FERGUSON, James. 2008. “Más allá de la “cultura”: espacio, identidad y las políticas de la diferencia”. Antipod. Rev. Antropol. Arqueol., n.7: 233-256.
HALL, Stuart. 2003. Da diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, Editora UFMG. HARRISON, Faye. 2012. “Racism in the Academy: Toward a Multi-Methodological Agenda for Anthropological Engagement”. University of Florida. Additional findings of the Commission on Race and Racism in Anthropology and the American Anthropological Association. February. Disponível em: http://s3.amazonaws.com/rdcms-aaa/files/production/public/FileDownloads/pdfs/cmtes/commissions/upload/02_Harrison-2.pdf. Acessado em 13 de janeiro de 2020.
LIMA, Viviane de Souza. 2017. Solidariedade atlântica: Movimento brasileiro em apoio às independências africanas, entre percursos e conexões (1961-1975), dissertação de mestrado em História Social, UFMG.KRENAK Ailton. 2018. “A Potência do Sujeito Coletivo”. Entrevista concedida a Jailson de Souza e Silva. Revista Periferia, vol. 1, n. 1. Disponível em: http://revistaperiferias.org/materia/a-potencia-do-sujeito-coletivo-parte-i/. Acessado em 13 de janeiro de 2020.
MARCUS, George E. e FISCHER Michael. 1986. Anthropology as Cultural Critique: An Experimental Moment in the Human Sciences. Chicago, Chicago University Press.
MARGARIDO, Alfredo. 2000. A Lusofonia e os Lusófonos: Novos mitos portugueses. Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas.LUGONES María. 2008. Colonialidad y Género. Tabula Rasa, jul-dic, n. 9: 73-101.
MBEMBE, Achille. 2018. Crítica da Razão Negra. São Paulo, N-1 Edições.
MCCLINTOCK, Anne. 2010. Couro imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas, Editora da Unicamp.
MIGNOLO, Walter. 2003. Histórias locais — projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte, Editora UFMG.
NOVAES, Regina Reyes. 1994. “Religião e política: sincretismos entre alunos de Ciências Sociais”. Comunicações do ISER, n. 45: 62-74.
PECHINCHA, M. T. S. 2006. O Brasil no Discurso da Antropologia Nacional. Goiânia, Cânone Editorial.
PEIRANO, Mariza. 1999. “Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada)”. In: MICELI, Sergio (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). Antropologia (volume I). São Paulo, Editora Sumaré, pp. 225-266.
PEREIRA, Luena. 2000. Os Regressados na cidade de Luanda: um estudo sobre identidade étnica e nacional em Angola, dissertação de mestrado em Antropologia Social, Universidade de São Paulo.
PEREIRA, Luena. 2005. Os Bakongo em Angola: religião, política e parentesco num bairro de Luanda, tese de doutorado em Antropologia social, Universidade de São Paulo.
PEREIRA, Luena. 2013. “Identidades racial e religiosa em Angola e no Brasil: reflexões a partir da experiência em campo em Luanda”. In DULLEY, I. E JARDIM. M. (orgs.). Antropologia em Trânsito: reflexões sobre deslocamento e comparação. São Paulo, Annablume, pp.59-89.
PEREIRA, Luena. 2015. Os Bakongo de Angola: Etnicidade, Política e Parentesco num bairro de Luanda. Rio de Janeiro, Contra Capa.
PINHO, Osmundo. 2019. “A antropologia no espelho da raça”. Revista do PPGCS – UFRB – Novos Olhares Sociais. Vol. 2. n. 1: 99-118.
QUIJANO, Anibal. 2005. “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Colección Sur Sur, CLACSO, pp.227-278.
RATTS, Alex (Alecsandro J. P.). 2009. “Encruzilhadas por todo percurso: individualidade e coletividade – movimento negro de base acadêmica”. In: PEREIRA, Amauri Mendes; SILVA, Joselina da (org.). Movimento Negro Brasileiro: escritos sobre os sentidos de democracia e justiça social no Brasil. Belo Horizonte, Nandyala Editora, pp. 81-108.
RATTS, Alex (Alecsandro J. P.). 2011. “Corpos negros educados: notas acerca do Movimento Negro de base acadêmica”. Nguzu, ano1, março/julho, n. 1: 28-39.
RIBEIRO, Djamila. 2017. O que é lugar de fala? Belo Horizonte, Letramento.
SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. 1999. “Questão racial e etnicidade”. In: MICELI,
Sergio (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). São Paulo, Editora Sumaré/ ANPOCS; Brasília, CAPES.
SILVA, Vagner Gonçalves da. 2000. O antropólogo e sua magia: trabalho de campo e texto etnográfico nas pesquisas antropológicas sobre as religiões afro-brasileiras. São Paulo, Edusp.
SOVIK, Liv. 2009. Aqui ninguém é branco. Rio de Janeiro, Aeroplano.
SPIVAK, Gayatri. 2010. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte, Editora UFMG.
VALE DE ALMEIDA, Miguel. 2007. “O Atlântico pardo: Antropologia, colonialismo e o caso ‘lusófono’”. In BASTOS, C., ALMEIDA, M. Vale de e FELDMAN-BIANCO, B. (org.). Trânsitos Coloniais: Diálogos críticos luso-brasileiros. Campinas, Unicamp, pp.27-43.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Revista de Antropologia
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Revista de Antropologia concordam com os seguintes termos:
a) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).