A História de Carolina. Um estudo de caso sobre a difusão de um mito no Sudoeste Amazônico
DOI:
https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192829Palavras-chave:
Ensemble, Mitologia, Incesto, História, LuaResumo
Um povo pode desaparecer, mas não uma história. Isso foi o que ocorreu com um mito kuniba, narrado a Nimuendaju por Carolina, em uma situação de remoção forçada promovida pelo Estado brasileiro no começo do século XX. O mito em questão falava da origem da lua, ocasionada pelo incesto de um irmão com uma irmã. Até o começo do século XX, povos vizinhos dos Kuniba, como os Cashinahua e os Kanamari, tinham narrativas muito distintas sobre a origem da lua. No entanto, ao longo do século, com a partida dos Kuniba, o tema do incesto entre irmão e irmã passa a estar presente nas narrativas, difundindo-se pela região das bacias dos rios Juruá e Purus. Isso conduz a uma reflexão sobre o problema da “causalidade informacional”, sobre a “política externa” estabelecida entre diferentes povos e sobre a “dialética espacial” promovida pelos mitos.
Downloads
Referências
ABREU, João Capistrano de. 1941 Rã-txa hu-ni-ku-i: Grammatica, textos e vocabulário Caxinauás. Edição da Sociedade Capistrano de Abreu.
CARVALHO, Maria Rosario Gonçalves de. 2002 Os Kanamari da Amazônia Ocidental. História, mitologia, ritual e xamanismo. Salvador: Ed. Casa de Palavras.
CHANDLESS, William. 1986 “Notes of a Journey up the River Juruá”. Journal of the Royal Geographical Society of London, Vol. 39: 296-311.
COSTA, Luiz. 2007 As Faces do Jaguar: Parentesco, História e Mitologia entre os Kanamari da Amazônia Ocidental. Tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Rio de Janeiro.
CUNHA, Euclydes da. 1907 Peru versus Bolívia. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves.
DESHAYES, Patrick; KEIFENHEIM, Barbara. 2003 Pensar el Otro entre los Huni Kuin de la Amazonía Peruana. Trad. Balbina Vallejo. Lima: CAAAP.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1949 [2019] “La politique étrangère d’une societé primitive”. In: Anthropologie Structurale Zéro. Vicent Debaene (ed.). Paris: Éditions du Seuil: 201-219.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1964 [2004] Mitológicas: O Cru e o Cozido. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Cosac & Naify.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1968 [2006] Mitológicas: A origem dos modos à mesa. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Cosac & Naify.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1971 [2011] Mitológicas: O homem nu. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Cosac & Naify.
MCCALLUM, Cecilia. 2001 Gender and Sociality in Amazonia. How real people are made. Oxford: Berg.
MUNN, Nancy. 1973 Walbiri Iconography: Graphic Representation and Cultural Symbolism in a Central Australian Society. Ithaca: Cornell University Press.
NIMUENDAJU, Curt. 1986 “Mitos Indígenas na Obra de Curt Nimuendaju”. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. n. 21: 64-111.
SASS, Walter (org.). 2007 Tâkuna. Nawa Bûh Amteiyam Amkira. Mitos Kanamari. São Leopoldo: Ed. Oikos & COMIN.
TASTEVIN, Constant; RIVET, Paul. 1923/1924 “Les langues du Purús, du Juruá et des régions limitrophes. Io Le groupe arawak pré-andin (Fin)”. Anthropos, Bd. 18/19, H. 1./3.: 104-113.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2001 “GUT feelings about Amazonia: potential affinity and the construction of sociality”. In: Laura Rival e Neil Whitehead (eds), Beyond the visible and the material. The Amerindianization of society in the work of Peter Rivière. Oxford: Oxford University Press: 19-43.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002 A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista de Antropologia
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Revista de Antropologia concordam com os seguintes termos:
a) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).