ReXistências musicais entre arte e política
DOI:
https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.202284Palavras-chave:
Música, arte, políticaResumo
O que têm em comum o musicar (Small, 1998) de Apeshit, o videoclipe do casal de artistas estadunidenses Beyoncé e Jay-Z, as performances musicais de João do Crato no interior do Ceará, um projeto entre uma cantora lírica, um musicólogo e um líder indígena na Colômbia, o álbum AmerElo do rapper paulistano Emicida, o artivismo musical de Linn da Quebrada e a música de imigrantes africanos em São Paulo? À primeira vista, nada. Mas neste Dossiê estes fazeres musicais servem todos ao mesmo intuito: são formas de reXistência.[1] A ligação entre música e política é vetusta e nem sempre perceptível. Do clamor patente, ao simples comentário, do motim pessoal ao social, a música tem atuado para agitar consciências e – menos frequentemente – sistemas, instituições e estruturas (Blacking, 1995). Schreiber (2019) considera que a música é plena energia para a ação. Uma expressão de poder, não apenas sônica ou emocional. A música, especialmente quando criada em resposta aos problemas sociais do mundo, torna-se uma força única (Guerra et al., 2019). E talvez desse poder criador e criativo é que venha a insistência de DeNora (2003) para considerarmos a música uma prática social de fato e de direito e não apenas um mero reflexo da estrutura social. Portanto, a música é uma parte da nossa vida social.
[1] Para a noção de reXistência com a qual trabalhamos, cf. Grunvald, neste dossiê.
Downloads
Referências
ANDERTON, Chris. 2022. “Festivals”. In: STAHL, Geoff; PERCIVAL, Mark (Eds.). The Bloomsbury Handbook of Popular Music, Space and Place. London, Bloomsbury Publishing, pp. 580-594.
ANSDELL, Gary. 2005. “Being who you aren't; Doing what you can't: Community music therapy & the paradoxes of performance”. Voices: A World Forum for Music Therapy, vol. 5, n. 3: 5. DOI 10.15845/voices.v5i3.229
APPADURAI, Arjun. 1996. “The Production of Locality”. In: Modernity at Large: Cultural Dimensions of Globalization. Minneapolis, University of Minnesota Press, pp. 178-200.
APPADURAI, Arjun. 2013. The Future as Cultural Fact: Essays on the Global Condition. London, Verso.
BAKER, Sarah. 2018. Community custodians of popular music's past. A DIY Approach to Heritage. London, Routledge.
BECKER, Howard. 1997. Outsiders: studies in the sociology of deviance. Nova York, Free Press.
BERNÁRDEZ, Asunción Rodal el al. 2019. “From Action Art to Artivism on Instagram: Relocation and instantaneity for a new geography of protest”. Catalan Journal of Communication & Cultural Studies, vol. 11, n.1: 23-57. DOI: 10.1386/cjcs.11.1.23_1
BLACKING, John. 1995. Music, culture & experience. Chicago, University of Chicago Press.
BLACKMAN, Shane. 2010. “Youth subcultures, normalisation and drug prohibition: the politics of contemporary crisis and change?” British Politics, vol. 5, n. 3: 337-366. DOI 10.1057/bp.2010.12
BUTLER, Judith. 1999. Gender trouble. Feminism and the subversion of identity. New York, Routledge.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. 1986. Nomadology. Nova York, Semiotext.
DENORA, Tia. 2000. Music in everyday life. Cambridge, Cambridge University Press.
DENORA, Tia. 2003. “Music sociology: getting the music into the action”. British Journal of Music Education, vol. 20, n. 2: 165–177. DOI 10.1017/S0265051703005369.
DENORA, Tia. 2013. Music Asylums: Wellbeing Through Music in Everyday Life. Farnham, Ashgate.
DI GIOVANNI, Julia Ruiz. 2015. “Artes de abrir espaço. Apontamentos para a análise de práticas em trânsito entre arte e ativismo”. Cadernos de Arte e Antropologia, vol. 4, n. 2: 13-27. DOI 10.4000/cadernosaa.911
EYERMAN, Ron; JAMIESON, Aandrew. 1998. Music and social movements. Cambridge, Cambridge University Press.
FINNEGAN, Robert. 1989. The Hidden Musicians: Music-making in an English town. Cambridge, Cambridge University Press.
FISCHLIN, Daniel. 2021. “Remix One: Music and Transformation: Sounding, Agency and Direct Action”. In: FISCHLIN, Daniel; HEBLE, Ajay (Eds). Rebel Music. Human Rights, Resistant Sounds, and the Politics of Music Making. Canada, Black Rose Books, pp. 5-50.
FOSTER, Victoria. 2015. Collaborative Arts-based Research for Social Justice. London, Routledge.
GALEANO, Eduardo. 2006. Memória do fogo. Porto Alegre, L&PM Editores.
GALEANO, Eduardo. 2017. Hunter stories. USA, Nation Books.
GELDER, Ken. 2007. Subcultures: cultural history and social practices. London, Routledge.
GIESBRECHT, Érica; HIKIJI, Rose; GRUNVALD, V. 2021. “Musicar local – Tema e variações”. GIS – Gesto, Imagem e Som – Revista de Antropologia, vol. 6, n. 1: 1-10. DOI: 10.11606.
GILROY, Paul. 2001. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo, Ed. 34.
GLICK-SCHILLER, Nina; MEINHOF, Ulrike H. 2011. “Singing a New Song? Transnational Migration, Methodological Nationalism and Cosmopolitan Perspectives”. Music and Arts in Action, vol. 3, n. 3: 21–39.
GRUNVALD, V. 2019. “Lâmpadas, corpos e cidades: reflexões acadêmico-ativistas sobre arte, dissidência e a ocupação do espaço público”. Horizontes Antropológicos, n. 55: 263-290. DOI 10.1590/S0104-71832019000300010
GUERRA, Paula. 2022. “Os desacordes do fado e do folclore na modernidade tardia. Um trajeto pelos artivismos musicais do Fado Bicha e de Filipe Sambado”. In: FERNANDES, Cíntia Sanmartin; HERSCHMANN, Micael; ROCHA, Rose de M.; PEREIRA, Simone Luci (Orgs). A(r)tivismos urbanos. (Sobre)vivendo em tempos de urgência. Porto Alegre, Sulina, pp. 221-250.
GUERRA, Paula. 2021. “So close yet so far: DIY cultures in Portugal and Brazil”. Cultural Trends, vol. 30, n. 2: 122-138. DOI 10.1080/09548963.2021.1877085
GUERRA, Paula. 2020. “Cidade, pedagogia e rap”. Quaestio Revista de Estudos em Educação, vol. 22, n. 2: 431-453. DOI https://www.doi.org/10.22483/2177-5796.2020v22n2p431-453
GUERRA, Paula. 2019. The song is still a ‘weapon’: The Portuguese identity in times of crisis. YOUNG – Nordic Journal of Youth Research, 28 (1). 1-18. DOI 10.1177/1103308819829603.
GUERRA, Paula et al. 2019. “Introduction: songs that sing the crisis: music, words, youth narratives and identities in late modernity”. YOUNG – Nordic Journal of Youth Research, vol. 28, n. 1: 5-13. DOI 10.1177/1103308819829603.
HAENFLER, Ross. 2004. “Rethinking subcultural resistance. Core values of the straight edge movement”. Journal of Contemporary Ethnography, vol. 33, n. 4: 406-436. DOI 10.1177/0891241603259809.
HARTMAN, Saidiya. 1997. Scenes of Subjection: Terror, Slavery, and Self-Making in Nineteenth-Century America. New York, Oxford University Press.
HEBDIGE, Dick. 2018. Subculturas. O significado do estilo. Lisboa, Maldoror
ISTVANDITY, Lauren. 2022. “The lifetime soundtrack ‘on the move’: Music, autobiographical memory and mobilities”. Memory Studies, vol. 15, n. 1: 170-183. DOI https://www.doi.org/10.1177/1750698019856064
JOHANSSON, Thomas; LALANDER, Philip. 2012. “Doing resistance – youth and changing theories of resistance”. Journal of Youth Studies, vol. 15, n. 8: 1078-1088. DOI https://www.doi.org/10.1080/13676261.2012.693591
KATER, Michael; RIETHMÜLLER. 2003. Music and Nazism. Art under Tyranny, 1933–1945. Laaber, Laaber-Verlag.
MCROBBIE, Angela. 1991. Feminism and youth culture: from Jackie to Just Seventeen. Londres, MacMillan.
MBEMBE, Achille. 2015. "Afropolitanismo". Áskesis, vol. 4, n. 2: 68-71. DOI 10.46269/4215.74
MOTEN, Fred. 2020. “A Resistência do Objeto: O Grito de Tia Hester”. Revista Eco-Pós, v. 23, n. 1: 14-43. DOI 10.29146/eco-pos.v23i1.27542
RAMNARINE, T. K. (Ed.) 2020. Dance, Music and Cultures of Decolonisation in the Indian Diaspora. London, Routledge.
RAPOSO, Paulo. 2015. “Artivismo: articulando dissidências, criando insurgências”. Cadernos de Arte e Antropologia, vol. 4, n. 2, 3-12. DOI https://www.doi.org/10.4000/cadernosaa.909
REILY, Suzel; BRUCHER, Katherine (Eds.). 2018. The Routledge Companion to the study of local musicking. New York/London, Routledge.
SCHREIBER, Brad. 2019. Music is power: Popular songs, social justice, and the will to change. New Brunswick, New Jersey, Rutgers University Press.
SMALL, Christopher. 1998. Musicking: the meanings of performance and listening. Middletown, Wesleyan University Press.
TAYLOR, Diana. 2016. Performance. Durham, Duke University Press
VILLELA, Alice et al. 2019. “O musicar como trilha para a etnomusicologia”. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 73: 17-26. DOI https://www.doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i73p17-26
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista de Antropologia

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Revista de Antropologia concordam com os seguintes termos:
a) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).