Lutas pela terra, mulheres e violências: aproximações e distanciamentos desde as indígenas Guarani e Kaiowa, as posseiras de Trombas e Formoso e as mulheres dos faxinais de Pinhão

Autores

  • Dibe Ayoub
  • Lauriene Seraguza
  • Maiara Dourado

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.205164

Palavras-chave:

terra, gênero, luta, casa, violência

Resumo

Lutas pela terra são parte expressiva das vidas de povos indígenas, camponeses e comunidades tradicionais no Brasil. Esses conflitos são organizados com o gênero, diferenciando lugares, corpos e formas de atuação de homens e mulheres. Neste artigo, traçamos um diálogo entre as experiências vividas por mulheres Kaiowa e Guarani, por posseiras em Trombas e Formoso, e por mulheres em faxinais do Paraná, a fim de discutir como elas se conduzem nessas disputas e cultivam potências que as habilitam a segurar ou retomar terras. Destaca-se a centralidade da casa como entidade viva, lugar de conexão de corpos e terras, que participa dos conflitos e sofre violências. Argumenta-se que as agências das mulheres refletem a intimidade das lutas, e entrelaçam o gênero como forma de ordenamento de projetos de colonização e expansão do agronegócio, e como forma de organização dos modos de vida de indígenas e posseiras.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. 2006. Terras de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livres”, “castanhais do povo”, “faxinais e fundos de pasto”: Terras tradicionalmente ocupadas. Manaus, PPGSCA-UFAM.

ALVES, Yara de Cássia. 2016. A casa raiz e o voo de suas folhas: família, movimento e a casa entre os moradores de Pinheiro – MG. São Paulo, Dissertação de mestrado em Antropologia Social, Universidade de São Paulo.

AMADO, Janaína. Eu quero ser uma pessoa: revolta camponesa e política no Brasil (Mimeo), s/d.

AYOUB, Dibe. 2014. “Sofrimento, tempo, testemunho: expressões da violência em um conflito de terras”. Horizontes Antropológicos, 20(42): 107-131.

AYOUB, Dibe. 2018. “Land as home: women, life and violence in land conflicts”. Vibrant, 15 (3): 1-19.

AYOUB, Dibe. 2021. “Terra e desaforo: violência no campo, brigas e éticas de luta nos faxinais do Paraná”. Mana, 27 (1): 1-29.

BENITES, Eliel & SERAGUZA, Lauriene. “Levantar gente, Levantar terra: lutas pela terra e resistências como modos de vida entre os Guarani e Kaiowa em Mato Grosso do Sul”. Anais Cipial, 2019. Disponível em: Anais do 3º Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (congressopovosindigenas.net).

BUTLER, Judith. 1990. Gender trouble: feminism and the subversion of identity. New York, Routledge.

BUTLER, Judith. 1993. Bodies That Matter: on the discursive limits of “sex”. London, Routledge.

CABNAL, Lorena. 2010. “Acercamiento a la construcción de la propuesta de pensamiento epistémico de las mujeres indígenas feministas comunitarias de Abya Yala”. In: CABNAL, Lorena; ACSUR-LAS SEGOVIAS. Feminismos diversos: el feminismo comunitario. Madrid, ACSUR-Las Segovias, pp. 10-25.

CARNEIRO, Ana. 2022. “O que faz Marco Feliciano no WhatsApp do Sertão? Família, corpo e memória de violência por terra na ditadura militar”. In: COMERFORD, John; CARNEIRO, Ana; AYOUB, Dibe & DAINESE, Graziele. Casa, corpo, terra, violência: Abordagens etnográficas. Rio de Janeiro, 7Letras, pp. 327-360.

CASTRO, Sueli Pereira. 2009. “Sesmaria como terra da parentalha: direito de fato versus direito legal”. In: GODOI, Emilia P.; MENEZES, Marilda A. de & MARIN, Rosa A. Diversidade do campesinato: expressões e categorias, vol. II. São Paulo, Editora Unesp; Brasília, Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, 2009, pp. 67-88.

CERQUEIRA, Ana Carneiro. 2017. “‘Mulher é trem ruim’: a ‘cozinha’ e o ‘sistema’ em um povoado norte-mineiro”. Estudos Feministas, 25 (2): 707-731.

CICCARONE, Celeste. 2001. “Drama e sensibilidade: migração, xamanismo e mulheres mbya guarani”. São Paulo, Tese de doutorado em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP.

CLASTRES, Pierre. 2013. Sociedade contra o Estado. Pesquisas de Antropologia Política. São Paulo, Cosac Naify.

DAINESE, Graziele. 2015. “Desentendimentos entre parentes: variações da intimidade”. Revista de Antropologia, 58 (2): 371-89.

DAS, Veena. 2007. Life and words: violence and the descent into the ordinary. Berkeley, University of California Press.

DOURADO, Maiara. 2014. Memórias da luta de Trombas e Formoso: a construção da significância interpretativa e memorialística de um evento político. Goiânia, Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal de Goiás.

DOURADO, Maiara. 2022. Misturados na terra: uma etnografia da Luta do povo de Trombas e Formoso (GO). Campinas, Tese de doutorado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas.

EFREM FILHO, Roberto. 2017. Mata-mata: reciprocidades constitutivas entre classe, gênero, sexualidade e território. Campinas, Tese de doutorado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas.

FIGURELLI, Mónica Fernanda. 2011. Família, escravidão, luta: histórias contadas de uma antiga fazenda. Rio de Janeiro, Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

FOUCAULT, Michel. 2010. História da sexualidade 2: O uso dos prazeres. São Paulo, Graal.

GUARANI, Jera. 2020. “Tornar-se selvagem”. Piseagrama, São Paulo.

HARAWAY, Donna. 1995. “Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial”. Cadernos Pagu, 5: 7-41.

HEREDIA, Beatriz Maria Alásia de. 1979. A Morada da Vida: trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra.

HEREDIA, Beatriz. 1988. Formas de dominação e espaço social: a modernização da agroindústria canavieira em Alagoas. São Paulo, Marco Zero; Brasília, MCT/CNPq.

MONTEIRO, Nilson. 2008. Madeira de lei: uma crônica da vida e obra de Miguel Zattar. Curitiba, Edição do autor.

PEREIRA, Levi Marques. 2004. Imagens Kaiowa do sistema social e seu entorno. São Paulo, Tese de doutorado, Universidade Federal de São Paulo.

PERRONE-MOISÉS, Beatriz. 2015. Festa e guerra. Tese de livre-docência. São Paulo, Departamento de Antropologia Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

PERUTTI, Daniela. 2022. Tecer amizade, habitar o deserto: Território e política no Quilombo Família Magalhães. São Paulo, Edusp.

PINA-CABRAL, João de & SILVA, Aparecida Vanda da. 2013. Gente livre. Consideração e pessoa no Baixo sul da Bahia. São Paulo, Terceiro Nome.

PORTO, Liliana; SALLES, Jefferson de Oliveira & MARQUES, Sônia M. dos Santos. 2013. Memórias dos povos do campo no Paraná – Centro-Sul. Curitiba, ITCG.

ROSSI, María. 2016. Identidade sem pertencimento? Dimensões íntimas da etnicidade feminina no Vaupés. Rio de Janeiro, Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

RUALES, Gabriela & ZARAGOCIN, Sofía. 2020. “De-géneros y territorios: Tiene género la tierra?”. In: HERNÁNDEZ, Delmy & JIMÉNEZ, Manuel. Cuerpos, Territorios y feminismos. Compilación latino-americana de teorías, metodologías y prácticas políticas. Quito/México, Instituto de Estudios Ecologistas del Tercer Mundo, Ediciones Abya-Yala, Bajo Tierra Ediciones, Libertad Bajo Palabra, pp. 303-312.

SALLES, Jefferson de Oliveira. 2013. Institucionalização da propriedade fundiária e conflitos agrários no município de Pinhão/PR. Curitiba, Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Paraná.

SANTOS, Júlia Otero dos. 2015. Sobre mulheres brabas, parentes inconstantes e a vida entre outros: a festa do jacaré entre os arara de Rondônia. Brasília, Tese de doutorado, Universidade de Brasília.

SANTOS, Thais Giselle Diniz. 2023. Territórios de vida x terra-mercadoria: direitos, natureza e violências a partir dos conflitos fundiários de Pinhão-PR. Curitiba, Tese de doutorado, Universidade Federal do Paraná

SERAGUZA, Lauriene. 2017. “Do fluxo do sangue aos cortes da vida em reserva: sangue, ritual e intervenção entre as mulheres Kaiowa e Guarani em MS”. Revista Tellus, Campo Grande, MS, 17(33): 139-162, maio/ago.

SERAGUZA, Lauriene Olegário e Souza. 2023. As donas do fogo: política e parentesco nos mundos guarani. São Paulo, Tese de doutorado, Universidade de São Paulo. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-17022023-161454/. Acesso em: 4 dez. 2023.

SEGATO, Rita Laura. 2011. “Género y colonialidad: en busca de claves de lectura y de un vocabulário estratégico descolonial”. In: BIDASECA, Karina & LABA, Vanesa Vazquez (orgs.). Descolonizando el feminismo desde y en América Latina. Buenos Aires, Ediciones Godot Argentina, pp. 17-47.

ULLOA, Astrid. 2016. “Feminismos territoriales en América Latina: defensas de la vida frente a los extractivismos”. Nómadas, 45: 123-139.

VELHO, Otávio. 2009 [1976]. Capitalismo autoritário e campesinato: um estudo comparativo a partir da fronteira em movimento. Rio de Janeiro, Centro Edelstein de Pesquisas Sociais.

WEITZMAN, Rodica. 2016. Tecendo deslocamentos: Relações de gênero, práticas produtivas e organizativas entre trabalhadoras rurais. Rio de Janeiro, Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

WOORTMANN, Ellen. 1982. “O sítio camponês”. Anuário Antropológico, 6(1): 164-203.

WOORTMANN, Ellen, WOORTMANN, Klaas. 1997. O trabalho da terra: a lógica e a simbólica da lavoura camponesa. Brasília, Editora da Universidade de Brasília.

WOORTMANN, Klaas. 1990. “‘Com parente não se neguceia’: O campesinato como ordem moral”. Anuário Antropológico/87, Brasília, Editora da Universidade de Brasília, pp. 11-73.

Downloads

Publicado

2024-06-19

Edição

Seção

Dossiê

Como Citar

Ayoub, D., Seraguza, L., & Dourado, M. (2024). Lutas pela terra, mulheres e violências: aproximações e distanciamentos desde as indígenas Guarani e Kaiowa, as posseiras de Trombas e Formoso e as mulheres dos faxinais de Pinhão. Revista De Antropologia, 67. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.205164