Entre frases de efeito, há ideologia: Robocop e o neoliberalismo estadunidense na Era Reagan (1981-1989)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2179-5487.21.2025.235147Palavras-chave:
cinema e história, neoliberalismo, Robocop, Ronald ReaganResumo
A partir de autores como Douglas Kellner e Mark Fisher, este artigo argumenta que o filme Robocop: O policial do futuro (1987) não estava alinhado ao discurso dominante na década de 1980 dos Estados Unidos, que então destacava o otimismo cultural, econômico e social do governo do republicano Ronald Reagan (1981-1989). Por meio deste texto, buscamos compreender o modo como o filme de 1987 estabelece um diálogo crítico com os preceitos reaganistas. Em concordância com historiadores como Gary Gerstle e Douglas C. Rossinow, pontuamos que a administração Reagan atacou o Estado de Bem Estar Social, herdeiro do New Deal (1933-1937) e da Grande Sociedade (1964-1968), e os programas sociais de administrações passadas, inaugurando um modelo de governo neoliberal no país. O setor industrial, localizado no Meio-Oeste, foi substituído por polos tecnológicos das costas leste/oeste e o movimento trabalhista sofreu perdas significativas. Neste artigo, a utilização dos conceitos “desindustrialização” e “neoliberalismo” propõe um debate com as obras de David Harvey, Kim Moody e Vladimir Safatle. Em nossas conjecturas, sugerimos perceber como o filme, pelas lentes da ficção científica, criticou estes aspectos do governo Reagan, observando determinadas cenas e sequências que dialogam com a perda de identidade da classe trabalhadora estadunidense. Além disso, defendemos a seguinte hipótese: Robocop satiriza o neoliberalismo reaganista a partir do roteiro de Edward Neumeier e Michael Miner e dos elementos cinematográficos mobilizados pelo diretor Paul Verhoeven.
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