"Boa-fé", Treu Und Glauben e História das Ideias do Direito Comercial Brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.0102-8049.ip%25pPalavras-chave:
história comparada do direito , direito comparado, direito comercial, boa-féResumo
A boa-fé objetiva tem uma história controversa nas fontes do
Direito Privado brasileiro. Com fundamento na literatura comercialista
do século XIX e início do século XX, o presente texto investiga a
suposta origem da boa-fé objetiva no revogado art. 131 do Código
Comercial brasileiro de 1850. Haveria, assim, uma norma expressa
de boa-fé objetiva, equivalente ao que os alemães denominam de Treu
und Glauben, na cultura jurídica do Brasil Imperial? Ao confrontar
os entendimentos contemporâneos sobre a cláusula geral da boa-
fé objetiva sob a égide do Código Civil de 2002, de nítida inspiração
alemã, com a interpretação dada pelos comercialistas do século XIX
ao preceito de boa-fé contido no Código Comercial de 1850, este texto
defende a tese de que não se encontra propriamente uma norma de
boa-fé objetiva no Código Comercial de 1850, mas que já havia algumas
aproximações à evolução futura do conceito.
Downloads
Referências
AGUIAR JR, Ruy Rosado de. Extinção dos contratos por incumprimento
do devedor. Rio de Janeiro: AIDE Editora, 2003.
______. Proteção da boa-fé subjetiva. Revista Ajuris (Associação dos
Juízes do Rio Grande do Sul), v. 39, n. 126, p. 187–234, jun. 2012.
AL-SHAMARI, Nadia. Die Verkehrssitte im § 242 BGB: Konzeption und
Anwendung seit 1900. Tübingen: Mohr Siebeck, 2006.
ANDRADE NEVES, Julio Gonzaga. A Suppresio (Verwirkung) no Direito
Civil. São Paulo: Almedina, 2016.
AUER, Marietta. Materialisierung, Flexibilisierung, Richterfreiheit:
Generalklauseln im Spiegel der Antinomien des Privatrechtsdenkens.
Tübingen: Mohr Siebeck, 2005.
BENTIVOGLIO, Julio. Elaboração e aprovação do Código Comercial
brasileiro de 1850: debates parlamentares e conjuntura econômica
(1832-1850). Justiça & História, v. 10, n. 5, p. 37-52, 2005
BENTO DE FARIA, Antonio. Codigo Commercial brazileiro: annotado
de accordo com a doutrina, a legislação e a jurisprudencia nacional
e extrangeira e os principios e regras do Direito Civil. 2. ed. Rio de
Janeiro: Jacinhto Ribeiro dos Santos, 1918.
BEVILÁQUA, Achilles. Codigo Comercial brasileiro anotado. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1940.
CARVALHO, Porfírio Hemeterio Homem de. Primeiras Linhas do Direito
Commercial deste Reino. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1816.
CARVALHO DE MENDONÇA, José Xavier. Tratado de Direito Commercial
brazileiro. São Paulo: Cardozo Filho, v. 1-8, 1910.
______. Tratado de Direito Commercial brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro:
Typog. do Jornal do Commercio, v. 1-8, 1930.
Tratado de Direito Commercial brasileiro. Vol. 1, Livro 1, Dos Actos de
Commercio. 2a ed., refundida e ampliada. Rio de Janeiro: Typog. Do
Jornal do Commercio, 1930; 6. ed. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1957.
COSTA, Salustiano Orlando de Araujo. Código Commercial do Imperio do
Brazil: annotado com toda a legislação do paiz que lhe e referente, com
os arestos e decisões mais notaveis do tribunaes e juizes, concordado
com a legislação dos paizes estrangeiros mais adiantados com um vasto
e copioso appendice, tambem annotado, contendo não só todos os
Regulamentos Commerciaes, como os mais recentes actos do Governo
Imperial, quer sobre Bancos e Sociedades Anonymas, quer sobre
impostos, dispensando consultar-se a Collecção das Leis do Imperio.
ed. cuidadosamente rev., mais corr. e consideravelmente ampl. Rio
de Janeiro: Laemmert, 1886; 6. ed. cuidadosamente rev., mais corr. e
consideravelmente augmentada. Rio de Janeiro: Laemmert, 1896.
COUTO E SILVA, Clóvis do. A obrigação como um processo. Rio de
Janeiro: FGV, 2006.
______. O Direito Civil brasileiro em perspectiva histórica e visão de
futuro. Revista de Informação Legislativa, v. 25, n. 97, p. 163-180, jan.-
mar. 1988.
______. O princípio da boa-fé no Direito brasileiro e português. In:
ALMEIDA COSTA, Mário Júlio; CAETANO, Marcello; COUTO E SILVA,
Clóvis do; MOREIRA ALVES, José Carlos (Orgs.). Estudos de Direito Civil
Brasileiro e Português (I Jornada Luso-Brasileira de Direito Civil). São
Paulo: RT, 1980, p. 43-72.
DUVE, Thomas; HAFERKAMP, Hans-Peter. § 242. Leistung nach Treu
und Glauben. In: ZIMMERMANN, Reinhard; RÜCKERT, Joachim;
SCHMOECKEL, Mathias (Orgs.). Historisch-kritischer Kommentar zum
BGB. Schuldrecht: Allgemeiner Teil §§ 241-432. Tübingen: Mohr
Siebeck, 2007, v. 2, p. 274-364.
GRAU, Eros; FORGIONI, Paula. Cláusula de não-concorrência ou de
não-restabelecimento. In: ______. O Estado, a empresa e o contrato. São
Paulo: Malheiros, 2005, p. 273-300.
FERREIRA BORGES, José. Diccionario juridico-commercial. 2. ed. Porto:
Typ. de Sebastião José Pereira, 1856.
FLUME, Johannes W. Law and Commerce: The Evolution of Codified
Business Law in Europe. Comparative Legal History, v. 2, 2014, p. 45-83.
FORGIONI, Paula. Apontamentos sobre algumas regras de
interpretação dos contratos comerciais: Pothier, Cairu e Código
Comercial 1850. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e
Financeiro, v. 141, p. 31-59, 2007.
______. Contratos empresariais: teoria geral e aplicação. 4. ed., rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2018.
______. A evolução do Direito Comercial brasileiro: da mercancia ao
mercado. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2021.
GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes; FERRAZ, Daniel Amin. A
cláusula de interdição de concorrência no Direito brasileiro e sua
fundamentação histórica: o caso da Companhia dos Tecidos de
Juta (1914). Notas sobre seus reflexos normativos, doutrinários e
jurisprudenciais. Revista Brasileira de Politicas Publicas, v. 6, n. 3, p. 157-
, dez. 2016.
GOMES, Elena de Carvalho. Entre o actus e o factum: os comportamentos
contraditórios no Direito Privado. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
______. Sobre a cláusula geral de boa-fé e sua abordagem por Pontes
de Miranda no ‘Tratado de Direito Privadoʼ. Rivista Roma e America, v.
, p. 331-346, 2014
HENRIQUES DE SOUZA, Braz Florentino. Codigo Commercial do Imperio
do Brasil: annotado com as referencias dos diversos artigos do mesmo
Codigo e dos respectivos Regulamentos entre si; assim como com os
Decretos e Avisos expedidos até o presente, explicando ou additando
algumas de suas disposições. Recife: Typ. de Santos & Companhia,
INGLEZ DE SOUZA, Herculano Marcos. Direito Commercial (prelecções
professadas na Faculdade Livre de Sciencias Juridicas e Sociaes do Rio
de Janeiro e compiladas pelo Bacharel Alberto Biolchini com revisão
da cadeira). 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1910.
JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antonio. Entrevista. Revista Trimestral de
Direito Civil, v. 9, n. 34, p. 299-308, abr-jun. 2008.
LARENZ, Karl. Lehrbuch des Schuldrechts. Allgemeiner Teil. 5. ed. rev.,
atual. e ampl. Berlin/München: C.H. Beck, 1962, v. 1.
LIMA LOPES, José Reinaldo de. A formação do Direito Comercial
brasileiro: a criação dos tribunais de comércio do Império. Cadernos
Direito GV, v. 4, p. 5-70, nov. 2007.
LINS, Jair. Clausula ‘rebus sic stantibusʼ. Revista Forense, v. 40, p. 512-
, jan.-jun. 1923.
LISBOA, José da Silva. Principios de Direito Mercantil, e Leis de Marinha
para uso da mocidade portugueza, destinada ao commercio, divididos
em oito tratados elementares, contendo a respectiva legislaçaõ patria, e
indicando as fontes originaes dos regulamentos maritimos das principaes
praças da Europa : de ordem de Sua Alteza Real, o Principe Regente Nosso
Senhor. t. 1-7, Lisboa: Impressão Regia, 1806.
LOUREIRO, Antonio José da Silva. Codigo mercantil da França, traduzido
do francez, e offerecido ao Muito Alto e Muito Poderoso Senhor D. Pedro I,
Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Imperio do Brasil. Rio de
Janeiro: Typ. Nacional, 1825.
LUCCA, Newton de. Normas de interpretação contratual no Brasil.
Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, v. 101, jan.-
dez. 2006, p. 181-227.
MARTINS-COSTA, Judith; BENETTI, Giovana. Comentário ao artigo 2o,
inciso II: o princípio da “boa-fé do particular perante o poder público”.
In: MARTINS-COSTA, Judith; NITSCHKE, Guilherme Carneiro
Monteiro (Coords.). Direito Privado na Lei da Liberdade Econômica:
Comentários. São Paulo: Almedina, 2022, p. 73-94.
MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a
sua aplicação. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
______. A boa-fé no Direito Privado: sistema e tópica no processo
obrigacional. São Paulo: RT, 1999.
______. Os campos normativos da boa-fé objetiva: as três perspectivas
do Direito Privado brasileiro. In: AZEVEDO, Antonio Junqueira;
TÔRRES, Heleno Taveira; CARBONE, Paolo (Coords.). Princípios do
Novo Código Civil e Outros Temas: Homenagem a Tullio Ascarelli. São
Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 388-421.
MENDONÇA, Manoel Ignacio Carvalho de. Doutrina e Pratica das
Obrigações ou Tratado Geral dos Direitos de Credito. Curityba: Imp.
Paranaense, 1908.
MENEZES CORDEIRO, António. Direito Comercial. 3. ed. Coimbra:
Almedina, 2012.
______. Da boa fé no Direito Civil. Coimbra: Almedina, 2017.
METTLACH-PINTER, João Carlos. Summa divisio do Direito Civil
patrimonial: estrutura, sistematização e sentido da distinção entre
direitos reais e obrigacionais. Curitiba: Juruá, 2023.
MOREIRA ALVES, José Carlos. A boa-fé objetiva no sistema contratual
brasileiro. Rivista Roma e America, v. 7, p. 187-204, 1999.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito
Privado. Atualizado por Marcos Bernardes de Mello e Marcos Ehrhardt
Jr. São Paulo: Ed. RT, 2012. t. 3.
______. Tratado de Direito Privado. Atualizado por Otavio Luiz Rodrigues
Jr., Tilman Quarch e Jefferson Carús Guedes. São Paulo: Ed. RT, 2012.
t. 6.
RAMOS, Joaquim José Pereira da Silva. Apontamentos Jurídicos sobre
Contractos. Rio de Janeiro: Eduardo & Henrique Laemmert, 1868.
REALE, Miguel. História do novo Código Civil. São Paulo: Ed. RT, 2005.
RODRIGUES JR., Otavio Luiz. Direito Civil contemporâneo: estatuto
epistemológico, Constituição e direitos fundamentais. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2019.
______. A revisão judicial dos contratos de consumo. In: GOUVEIA,
Jorge Bacelar; SILVA, Heraldo de Oliveira (Orgs.). I Congresso Luso-
Brasileiro de Direito. Coimbra: Almedina, 2014, p. 41-77.
SCHMIDT, Jan Peter. Die Rezeption deutschen Rechtsdenkens
in Brasilien am Beispiel der Lehre von Treu und Glauben. In:
GRUNDMANN, Stefan; BALDUS, Christian; LIMA MARQUES, Claudia
et. al. (Orgs.). Altruistische Rechtsgeschäfte sowie Methoden- und
Rezeptionsdiskussionen im deutsch-lusitanischen und internationalen
Rechtsverkehr. Baden-Baden: Nomos, 2014, p. 191–211.
______. Zivilrechtskodifikation in Brasilien. Strukturfragen und
Regelungsprobleme in historisch-vergleichender Perspektive.
Tübingen: Mohr Siebeck, 2009.
SEELAENDER, Airton Cerqueira-Leite. A História do Direito
contemporâneo: um projeto possível?. Revista da Faculdade de Direito
da UFRGS, n. 36, p. 20-35, ago. 2017.
SILVA, Antonio Delgado da. Collecção da Legislação Portugueza desde a
última compilação das Ordenações. Legislação de 1750 a 1762. Lisboa:
Typografia Maigrense, 1830.
______. Collecção da Legislação Portugueza desde a última compilação das
Ordenações. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense,
VEIGA, Didimo Agapito da. Codigo Commercial commentado e posto
ao par da doutrina, legislação e jurisprudencia modernas. 2. ed. Rio de
Janeiro: Laemmert, 1898.
VOGENAUER, Stefan. §§ 133, 157 BGB: Auslegung, In: ZIMMERMANN,
Reinhard; RÜCKERT, Joachim; SCHMOECKEL, Mathias (Orgs.).
Historisch-kritischer Kommentar zum BGB. Allgemeiner Teil §§ 1–240.
Tübingen: Mohr Siebeck, 2003, v. 1, p. 562-653.
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Caio Azuirson, Diogo Camboim Pitta

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.