Confessa-se um real: Graciliano Ramos e o paradoxo da alienação

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DOI:

https://doi.org/10.14201/reb20207157188

Palavras-chave:

São Bernardo, Vidas secas, realismo, confissão, moderno

Resumo

Este estudo tem como objetivo examinar a obra de Graciliano Ramos, mais especificamente São Bernardo (1934) e Vidas secas (1938). Partirei do insight de Antonio Candido a respeito da obra do autor: ela oscilaria entre dois polos, ficção e confissão. Em vez de considerá-los mutuamente exclusivos, a hipótese é que a oscilação diz respeito a uma leitura paradoxal da modernização, na qual ela é vista como necessária, mas impossível. Os traços dessa impossibilidade, por sua vez, dizem respeito a uma compreensão particular da ideia de alienação: a saber, a ferramenta chave para produzir uma falta que, em si, constitui o objeto em que Ramos se interessa, o sertão como locus de exploração. Será levado em consideração o contexto específico do romance dos anos 1930 no Brasil, bem como sua relação com os acontecimentos políticos da época e o lugar particular que o país ocupou no capitalismo ocidental. Por fim, será levantada uma hipótese a respeito do arranjo formal de Ramos. Afirmo que seu realismo depende da confissão dessa impossibilidade, na qual a alienação é exposta e por meio da qual seria possível vislumbrar um traço utópico além dos limites do moderno.

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Biografia do Autor

  • Felipe Bier, Universidade Estadual de Campinas

    Professor colaborador no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, Brasil).

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Publicado

2021-08-23

Edição

Seção

Seção Geral

Como Citar

Confessa-se um real: Graciliano Ramos e o paradoxo da alienação. (2021). Revista De Estudios Brasileños, 7(15), 71-88. https://doi.org/10.14201/reb20207157188