Os États Généraux de 1593 e as incertezas da semântica política católica

Resumo

O artigo analisa o debate político em torno dos États Généraux de 1593, convocados pela Liga Católica para eleger um rei católico para a França em oposição ao “herético” Henrique de Bourbon. A referida assembleia foi realizada sob a pressão de Filipe II da Espanha, que aspirava coroar sua filha Isabel Clara Eugênia como rainha da França. O exame da correspondência dos embaixadores enviados a Paris permite identificar as expectativas e as dificuldades do projeto filipino na prática. Esse corpus documental é comparado com outros tipos de discursos que circularam naquele contexto, tanto orais quanto impressos, produtos da intensa disputa que se seguiu às sessões. Concluímos que os embates ideológicos acerca dos Estados Gerais não resultaram de confrontos dualistas — franceses versus espanhóis ou politiques versus ultracatólicos —, mas derivaram de um quadro intelectual muito mais complexo e ambíguo, expressão das incertezas da semântica política católica diante dos desafios político-confessionais. Isso explica não apenas o fracasso da assembleia, mas também o seu desfecho oposto ao esperado: a conversão de Bourbon, sua coroação como Henrique IV e a posterior conquista de Paris em 22 de março de 1594.