Informe 16 : Chamada Aberta Revista ARA 7

2019-04-04

Horizontes extremos: desafios ou fronteiras,

por Marcia Sandoval Gregori e Angela Maria Rocha 

O que chamamos princípio é quase sempre o fim
E alcançar um fim é alcançar um princípio.
Fim é o lugar de onde partimos.  T.S. Eliot 

ARA 7 chama ao debate sobre horizontes, desafios e fronteiras na ágora da publicação acadêmica. Evoca e reitera a urgente necessidade de reflexão, conhecimento e prática na expansão da consciência sobre as relações na pólis. Elementos fundantes e indissociáveis da experiência coletiva e da própria academia, no que compreende estudos de arquitetura, artes, geografia, cultura, sociologia, filosofia, antropologia, seja em formato de ensaios literários, fotográficos, artísticos ou híbridos, seja na forma de artigos em que o texto acadêmico é o protagonista.

Gestar e projetar horizontes na ligeira desarticulação da vida, valendo-se das pequenas folgas que respiram entre o existir, desafios e fronteiras, é ser – ter comportamento – contemporâneo. A atitude, propõe o filósofo Giorgio Agamben, não se limita ao momento atual, mas é procedimento atemporal capaz de desarmar e profanar o ambíguo [des]conforto dos hábitos consagrados. Trata-se da habilidade de perceber desajustes sutis, evidenciá-los e subverter um estado de coisas que perdura, incrustado nas diferentes instâncias e escalas da existência enquanto relações de poder – por isso tensas, dinâmicas e mutáveis –, em forma de dispositivos que ordenam, disciplinam e adestram ações, pensamentos e práticas humanas desde sua escala global até o nível individual, no âmbito do próprio corpo.

A possibilidade de exploração dessas frestas e rachaduras, diria o filósofo Michel Foucault, será uma atribuição, uma prerrogativa ou, mais precisamente, uma capacidade das ciências humanas – embora não se possa classificá-las estritamente como ciências, dada a acepção humanista do termo, que Foucault reputa problemático por sua origem utilitária e evolucionista. É neste lugar/nexo penumbroso e denso, nas pequenas deslocalizações e desvios da vida cotidiana, que talvez seja possível vislumbrar novos caminhos e sopros de esperança. Cenários que evoquem aquilo que o geógrafo Milton Santos chamou de nova globalização: uma configuração em que a solidariedade, a troca pacífica, ao contrário da belicosidade do processo competitivo, dão o tom.

O momento atual contempla a diversificação e multiplicação dos fenômenos e instituições culturais, bem como a de seus agentes, nem sempre contabilizados por catracas. Ampliaram-se as alternativas para incluírem-se nesse rol a cultura imaterial, a cultura popular, a memória das práticas e dos fazeres cotidianos, os espaços sistematicamente desvalorizados, como ruas, praças, muros e calçadas, além de outros, devidamente mercantilizados.

Ao convidar-nos à reflexão sobre as bordas que limitam e exercem pressão de estrangulamento e ao exame de práticas do espectro sócio-cultural que distendam, desafiem e dessacralizem as forças de retração das fronteiras do hábito e das tradições, ARA 7 convoca, pois, a atitude contemporânea do olhar crítico, que vê no agora as raízes de horizontes possíveis, extremos horizontes, divergentes ou convergentes, que alimentem as ações e decisões no presente.