“Querem matar de fome”: médicos e “bestas-feras” na dietética do Hospital de Caridade Juvino Barreto em Natal (1909-1927)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v2i1p223-250Palavras-chave:
Hospital de Caridade Juvino Barreto, Dietética hospitalar, Alimentação popularResumo
Este artigo se propõe a rastrear alguns aspectos da alimentação institucional do Hospital de Caridade Juvino Barreto (HCJB), na cidade de Natal, entre 1909, data da criação do nosocômio, e 1927, quando sua administração passou às mãos da Sociedade de Assistência Hospitalar (SAH). Explorando fontes documentais diversas (arquivo hospitalar, artigos de imprensa, memórias médicas, mensagens de autoridades governamentais), buscamos acompanhar o processo de constituição de uma “dietética hospitalar” no HCJB nas primeiras três décadas do século XX, analisando, para isso, as relações entre médicos e doentes a partir dos regimes alimentares praticados no hospital, o que nos levou ao exame das “espacialidades do comer” no interior da instituição (cozinha, refeitório, enfermarias), do corpo de agentes responsáveis pela produção, circulação e consumo dos alimentos, das prescrições médico-alimentares e do comportamento dos doentes diante desses regimes dietéticos. O estudo apontou-nos que o disciplinamento do regime dietético hospitalar do HCJB teve de ser construído na difícil relação entre determinação da teoria médica, aspectos da economia local e hábitos alimentares, produzindo-se, muitas vezes, conflitos nos arranjos alimentares institucionais e, por consequência, na própria terapêutica médica.
Downloads
Referências
ARRAIS, Raimundo; ANDRADE, Alenuska; MARINHO, Márcia. O corpo e a alma da cidade: Natal entre 1900 e 1930. Natal: EDUFRN, 2008.
BARROS, José D’Assunção. A fonte histórica e seu lugar de produção. Petrópolis: Vozes, 2020.
CARNEIRO, Henrique Soares. Bebida, abstinência e temperança na História Antiga e Moderna. São Paulo: Editora Senac, 2010.
CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Natal: EDUFRN, 2010.
CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil. 4. ed. São Paulo: Global, 2011.
CICCO, Januário. Como se hygienizaria Natal: algumas considerações sobre o seu saneamento. Natal: Atelier Typ. M. Victorino A. Camara & C, 1920.
CICCO, Januário. Notas de um médico de província: ensaios de crítica médico-social. Rio de Janeiro: Paulo, Pongetti & Cia., 1928.
CORBEAU, Jean-Pierre. Alimentar-se no hospital: as dimensões ocultas da comensalidade. In: CANESQUI, Ana Maria; GARCIA, Rosa Wanda Diez (org.). Antropologia e nutrição: um diálogo possível [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005, p. 227-238. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/v6rkd>. Acesso em: 09 ago. 2020.
DINIZ, Luís Carlos. A história do Hospital de Santa Águeda. Recife: Avellar, 1994.
FERREIRA, Ângela Lúcia; EDUARDO, Anna Rachel Baracho; DANTAS, Ana Caroline; DANTAS, George (coord.). Uma cidade sã e bela: a trajetória do saneamento de Natal (1850-1969). Natal: IAB/RN; CREA/RN, 2018.
GASTALDO, Édison. O fato social total brasileiro: uma perspectiva etnográfica sobre a recepção pública da Copa do Mundo no Brasil. Horizontes Antropológicos, v. 19, n. 40, p. 185-200, 2013.
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 143-179.
GODOY, Andresa Michele; LOPES, Doraci Alves; GARCIA, Rosa Wanda Diez. Transformações socioculturais da alimentação hospitalar. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, p. 1197-1215, out./dez. 2007.
KANDELA, Peter. Hospital food. Lancet, London, v. 353, n. 9154, p. 763, 1999.
KHOURY, Yara Aun (coord.). Guia dos arquivos das Santas Casas de Misericórdia do Brasil, 1500-1900. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/PUC-SP/Cedic/Fapesp, 2004, 2v.
KHOURY, Yara Aun. O silêncio de seus arquivos, as misericórdias nos falam. In: MONTEIRO, Yara Nogueira. História da saúde: olhares e veredas. São Paulo: Instituto de Saúde, 2010.
MEDEIROS, Tarcísio de. Ontem, Hospital do “Monte”, Hoje “Miguel Couto”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Natal, v. 53, p. 33-46, 1960.
MENESES, Ulpiano Bezerra de; CARNEIRO, Henrique Soares. História da alimentação: balizas historiográficas. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 5, p. 9-91, jan./dez. 1997.
MIRANDA, João Maurício Fernandes de. Evolução urbana de natal em 400 anos. Natal: s. e., 1999.
RODRIGUES, Eugénea. Discurso médico e práticas alimentares no Hospital Real de Moçambique no início do século XIX. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 609-627, abr./jun. 2014.
SILVA, Márcia Regina Barros da. Periódicos médicos em São Paulo entre 1889 e 1950. In: MONTEIRO, Yara Nogueira (org.). História da saúde: olhares e veredas. São Paulo: Instituto de Saúde, 2010.
TANCREDI, Rinaldini C. P.; MARINS, Bianca Ramos. Evolução da higiene e do controle de alimentos no contexto da saúde pública. In: MARINS, Bianca Ramos; TANCREDI, Rinaldini C. P.; GEMAL, André Luís (org.). Segurança alimentar no contexto da vigilância sanitária: reflexões e práticas. Rio de Janeiro: EPSJV, 2014, p. 15-36.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).