Representações da fome e suas metamorfoses nas décadas de 1930 e 1940 no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p91Palavras-chave:
Fome endêmica, Fome epidêmica, Brasil, Alimentação, Josué de CastroResumo
A fome é elemento inescapável na história. Se não estava presente em algum momento em determinado lugar, ela era um paradigma do qual se buscava distanciar. E se a fome assim o é, perpassando as diferentes sociedades, não é, entretanto, homogênea nem no seu entendimento nem enquanto fenômeno. As definições dos dicionários não são suficientes para lidar com a complexidade do assunto. Na maioria das vezes, eles se limitam ao problema biológico individual e não a um grupo complexo de problemas sociais. Aqui pretende-se se debruçar sobre a fome enquanto questão e não enquanto fenômeno e desmembrar suas diferentes interpretações. O propósito aqui não é dizer que não existe uma realidade enquanto tal ou que a fome é apenas cultural, e sim assumir a direção da análise: o foco é como um determinado grupo social olhava para o fenômeno da fome. Ela não é exclusiva do período proposto, mas as novas ferramentas científicas disponibilizaram um novo entendimento sobre a fome. Desta forma, suas ocorrências serão usadas para entender como elas ajudaram o fenômeno a se tornar um tema debatido publicamente como questão política, mudando sua percepção, sua conceitualização e, consequentemente, as políticas públicas do período. Como, por exemplo, os relatos de fome intensa durante as secas nordestinas desde o fim do século XIX e os da Segunda Guerra Mundial que ampliaram as discussões sobre o tema, possibilitando uma nova compreensão. Somado a essa exposição, nesse momento houve também a racionalização da alimentação – novas ferramentas que possibilitaram medir a ingestão cotidiana assim como suas ausências, ampliando o debate em torno do que seria uma alimentação ideal. As descobertas científicas que estavam acontecendo desde meados do século XIX na Europa e nos Estados Unidos reverberaram no Brasil principalmente depois da Primeira Guerra Mundial e promoveram diferentes pesquisas sobre a temática. Josué de Castro foi um dos personagens importantes para esse novo olhar para fome no país. A sua publicação Geografia da Fome, em 1946, evidenciou o tema e colocou na mesma esfera debates que ocorriam em paralelo: fome endêmica e fome epidêmica. Enfim, a proposta é jogar luz sobre os debates da época que possibilitaram uma nova compreensão do fenômeno como a levada a cabo por Castro.
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