Barulhinho do vapo vapo: pensando através do som e das pretitudes sônicas
DOI:
https://doi.org/10.11606/rm.v24i1.225636Palavras-chave:
música afrodispórica, música negra, epistemologias negrasResumo
A ideia de "música negra" é evocada constantemente na imprensa, nas pesquisas acadêmicas e também entre fãs e artistas. Mas do que exatamente falamos quando pensamos em música negra? Seria toda e qualquer música tocada por pessoas negras? Ou estamos falando da música ouvida majoritariamente ouvida por pessoas negras? Ou talvez é o caso dos gêneros musicais mais populares nos bairros periferizados, para onde a população negra foi empurrada? Este artigo apresenta a proposta teórica das pretitudes sônicas como um meio para investigar a questão rompendo com uma visão que afirma a "música negra" como determinante biológico ou sociológico de representação. Em contraponto, as pretitudes sônicas configuram-se como um princípio metodológico para analisar a música negra enquanto epistemologia e discurso artístico. Dissociando-se da lógica da representação e da representatividade (que identificaria uma música negra como música apenas feita por negros e/ou majoritariamente apreciada por negros), as pretitudes sônicas trazem ao primeiro plano as reflexões sobre métodos criativos, formas artísticas e imaginações estéticas escuras — isto é, modos de fazer que tornam a racialização uma proposição formal radical capaz de desafiar as concepções musicais da tradição hegemônica branca ocidental. Deste modo, insistimos numa epistemologia do pensar através do som, tomando-o como um sistema de pensamento próprio, no qual novas questões e premissas emergem aos estudos sobre som, música e negritude.
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