Entre nós e os outros: a história ambivalente dos museus etnográficos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2024.182919

Palavras-chave:

Museu Etnográfico, Benoît de l'Estoile, Museologia, Museus, Musée de l'Homme

Resumo

Qualquer museu destinado a apresentar “outras” culturas se constitui como uma exceção em relação à função usual de um museu: a ambição de retratar um mundo em miniatura requer uma expografia muito específica, na qual a alteridade tensiona com a continuidade, que os museus em geral presumem, entre os visitantes e os objetos que vieram ver. A ambição de constituir um microcosmo, portanto, levanta um problema de legitimidade: quem, entre “nós”, tem legitimidade para assumir a responsabilidade paradoxal de colocar em cena o “Outro”? Mais do que uma simples abordagem sobre a história dos museus, mais do que uma viagem pelos problemas colocados pela Antropologia, o livro de Benoît de l’Estoile (2007) permite encarar de frente tal dificuldade, comum a todas as instituições francesas que se sucederam após a exposição colonial de 1931 (mas não somente). Entregando-se aos prazeres da intertextualidade cinematográfica, para além de ser uma forma de apresentar a questão fundamental da legitimidade (bom gosto contra mau gosto), o título da obra coloca o “gosto” em questão: “por ‘gosto alheio’, entendo as diversas formas de apropriação ‘das coisas dos Outros’, entendidas em um sentido amplo como manifestações da alteridade cultural” (L’Estoile 2007: 20). O gosto, portanto, remete aos modos de apropriação em todos os processos de apropriação, cuja legitimidade se apresenta, imediatamente, de maneira problemática. É sob este ângulo, considerando o problema da legitimidade como uma tensão que atravessa todo o texto, que abordaremos uma obra que demonstra como a alteridade foi construída ao longo de um século, segundo modos diferenciados, colocando em evidência a mais fundamental das questões: “O que significa a distinção entre nós e os outros no mundo em que vivemos?”.

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Biografia do Autor

  • Gustavo Ruiz da Silva, University of Warwick. Monash University

    Pesquisador da University of Warwick, Monash University

  • Mariana Slerca, Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP)

    Pesquisadora da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP. Atualmente pesquisa a Pinacoteca do Estado de São Paulo sob orientação do professor Cauê Alves. 

  • Maxime Rovère, Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RJ)

    Doutor em História da Filosofia pela École Normale Supérieure (Lyon, 2006). Professor do Departamento de Filosofia da PUC-RJ. 

Referências

L’Estoile, Benoît. 2007. Le Goûte des Autres. Paris, Flammarion.

Leach, Edmund. 1958. « Ritual ». In: International Encyclopedia of the Social Sciences. Macmillan, Chicago, vol. XIII, p. 520-526.

Njami, Simon.2005. Africa remix, l’art contemporain d’un continente. Paris, Centre Pompidou.

Lévi-Strauss, Claude. 1983. Le Regard éloigné. Paris, Plon.

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Publicado

2024-11-26

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

ROVÈRE, Maxime. Entre nós e os outros: a história ambivalente dos museus etnográficos. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Brasil, n. 42, p. 220–227, 2024. DOI: 10.11606/issn.2448-1750.revmae.2024.182919. Disponível em: https://revistas.usp.br/revmae/article/view/182919.. Acesso em: 4 dez. 2024.