Perfis clínico, epidemiológico e laboratorial de infecção ou colonização bacteriana em pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) COVID-19 e não COVID-19 no sudeste do Pará
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.rmrp.2023.204460Palavras-chave:
COVID-19, Coinfecção, Resistência a múltiplos medicamentos, Medicina baseada em evidênciasResumo
Objetivos: Comparar o perfil clínico, epidemiológico e laboratorial das infecções ou colonizações bacterianas entre pacientes internados em UTI COVID-19 e não-COVID-19 no Sudeste do Pará, Brasil. Métodos: Trata-se de um estudo analítico retrospectivo baseado na análise de prontuários eletrônicos e laudos microbiológicos de pacientes internados em um hospital regional localizado no Pará, na Amazônia brasileira, devido a complicações associadas à COVID-19 e outras causas no período de março de 2020 a dezembro de 2021. A amostra foi constituída por dados dos prontuários de 343 pacientes coletados após aprovação pelo Comitê de ética em Pesquisa (parecer número 5281433). Os dados extraídos dos laudos de cultura bacteriológica e antibiograma foram analisados para caracterizar o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes.
Foram realizadas análises descritivas e inferenciais utilizando o Stata 17.0 statistical software. Resultados: Do total de pacientes, 59,5% estavam internados na UTI COVID-19 e 40,5% na UTI não-COVID-19. A maioria dos indivíduos apresentavam
idades entre 54 e 78. O tempo de internação na UTI COVID-19 foi inferior a 15 dias, enquanto na UTI não-COVID-19 foi de 15 a 30 dias. Os óbitos foram mais frequentes na UTI Covid-19 em relação à UTI não-Covid-19 (64% versus 41%). Em contrapartida, a alta hospitalar foi mais frequente na UTI não Covid-19 (58,3% versus 34,8%). A comorbidade mais prevalente em ambas as UTIs foi a doença do aparelho circulatório. As bactérias Gram-negativas foram os agentes etiológicos mais frequentes em ambos os grupos e estiveram presentes em 63,1% das culturas analisadas. Em relação ao perfil fenotípico de resistência, a produção de carbapenemase foi detectada em 43,0% das culturas analisadas. A multirresistência aos antimicrobianos foi mais frequente na UTI não COVID-19 (55,7%). A maioria das prescrições de antimicrobianos foram empíricas. Conclusões: A recorrência de infecções secundárias e colonizações bacterianas em pacientes
com COVID-19 e não COVID-19 em UTIs não devem ser subestimadas. Os perfis de resistência bacteriana elucidados neste estudo destacam a necessidade da implementação de estratégias holísticas e assertivas visando o controle e mitigação dessa problemática, o que contribuirá para a melhoria do prognóstico, bem como, a qualidade e segurança dos pacientes.
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