Profilaxia pós-exposição ocupacional contra o vírus da imunodeficiência humana para trabalhadores da área de saúde vítimas de acidentes com material biológico
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.rmrp.2024.213236Palavras-chave:
Infecções por HIV, Exposição ocupacional, Trabalhador da saúde, Profilaxia pós-exposiçãoResumo
Introdução: O uso da profilaxia pós-exposição (PEP) é uma medida preconizada para reduzir o risco de transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV) após uma exposição ocupacional com materiais biológicos sofrida pelos trabalhadores da área de saúde. Objetivos: Avaliar a adesão à profilaxia pós-exposição ocupacional contra o HIV, as características dos acidentes ocorridos, o tempo de início da medicação após o acidente e os efeitos colaterais relatados entre os trabalhadores da área de saúde que fizeram uso da terapia. Métodos: Estudo epidemiológico, descritivo, retrospectivo, realizado a partir da consulta das fichas de notificação dos casos de acidente de trabalho com exposição a material biológico, ocorridos no período de 2011 a 2020, em um complexo hospitalar universitário. A análise foi realizada por estatística descritiva; a razão de chances por regressão logística simples; e a comparação das variáveis pelo teste Exato de Fisher (p<0,05). Resultados: Foram analisados 516 casos elegíveis para prescrição da profilaxia, que foram divididos em três grupos de risco: 168 (32,6%) envolveram paciente-fonte (P-F) com sorologia positiva para HIV; 263 (50,9%) P-F desconhecido; e 85 (16,4%) com P-F em período de janela imunológica. Observou-se predomínio do gênero feminino (74,80%), lesões por exposição percutânea (80,42%), contato com sangue (56,59%), e entre os técnicos de enfermagem (30,46%). Houve uma adesão completa ao tratamento (28 dias) de 77,45%, e o tempo para início da profilaxia, em 94,27% dos casos, foi de até 24h após o acidente. O abandono do seguimento ambulatorial ocorreu com 205 (39,73%) dos trabalhadores e estava associado à escolaridade, ao grupo de risco e à ocupação. Conclusão: Os acidentes causados por materiais perfurocortantes contaminados representam maior risco para infecções transmitidas por patógenos, principalmente, pelo sangue. As estratégias para prevenir a infecção ocupacional pelo HIV envolvem a obrigação dos empregadores desenvolverem programas de treinamento sobre práticas de trabalho adequadas, uso de dispositivos com agulhas retráteis e sistemas protetores de agulhas, descarte seguro e adequado dos materiais, uso do equipamento de proteção individual e medidas apropriadas pós-exposição ocupacional, incluindo a PEP. Não houve casos de soroconversão para o HIV entre as pessoas que completaram o seguimento ambulatorial, demonstrando o efeito protetor da PEP. Recomenda-se a necessidade de treinamentos regulares com ênfase na prevenção de acidentes, controle de infecções e educação em saúde, aliado à elaboração de estratégias para notificação dos casos.
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