Avaliação curricular do ensino da espiritualidade nas escolas médicas brasileiras
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.rmrp.2025.216460Palavras-chave:
Espiritualidade, Avaliação curricular das faculdades de medicina, Educação médicaResumo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua a saúde como um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social. No entanto, a espiritualidade muitas vezes é negligenciada pelos médicos, devido à falta de conhecimento, treinamento insuficiente e desconforto ao abordar o tema, podendo ser esse o resultado do déficit na formação médica. Considerando a espiritualidade como um determinador da saúde, este trabalho objetivou analisar a oferta de disciplinas voltadas para a relação entre espiritualidade e saúde (E/S) nas grades curriculares das Faculdades de Medicina do Brasil verificando possíveis correlações entre método de acesso, metodologia de ensino, qualidade do ensino e região do país. A pesquisa abrangeu todas as faculdades médicas do Brasil, coletando dados sobre acreditação junto ao Ministério da Educação (MEC), forma de acesso, ano de implementação do curso, nota do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) e região de instalação no país. Ainda, os projetos pedagógicos do curso e/ou matriz curricular foram analisados quanto à oferta de disciplinas com conteúdo espiritual em termos de obrigatoriedade, conteúdo, carga horária e período de oferta. Das 346 faculdades, somente 77 (22,25%) ofereciam disciplinas que abordavam a E/S, sendo principalmente instituições públicas (53,24%), com ENADE ≥3 (68,83%), localizadas na região sudeste (33,77%) e nordeste (32,47%), implementadas a partir de 2001 (49,35%) e com metodologia de ensino tradicional (48,05%). Em relação ao conteúdo das disciplinas, somente 50,65% abordavam a E/S de forma específica e profunda, sendo 56,41% eletivas. Esses resultados revelam a desestruturação e a falta de padronização na oferta das disciplinas de E/S, sinalizando uma adesão insuficiente por parte das escolas médicas às recomendações de organizações nacionais e internacionais. Além disso, é importante notar que as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) não abordam de maneira explícita a importância de integrar a espiritualidade no currículo da graduação e na prática médica, o que pode contribuir para a resistência ou baixa adesão a esse tipo de ensino nas instituições. Conclui-se a necessidade de introdução da educação espiritual nas escolas médicas brasileiras, com a implementação de um currículo comum, buscando melhorar a formação espiritual na área médica e proporcionar as habilidades necessárias para abordar essa temática com segurança e eficácia.
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