Utilização de benzodiazepínicos em idosos brasileiros: um estudo de base populacional

Autores

  • Marina de Borba Oliveira Freire Universidade Federal de Pelotas. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. Pelotas, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0002-9307-4337
  • Bruna Gonçalves Cordeiro da Silva Universidade Federal de Pelotas. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Social. Pelotas, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0003-2917-7320
  • Andréa Dâmaso Bertoldi Universidade Federal de Pelotas. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Social. Pelotas, RS, Brasi https://orcid.org/0000-0002-4680-3197
  • Andréia Turmina Fontanella Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. Porto Alegre, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0003-0455-9429
  • Sotero Serrate Mengue Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. Porto Alegre, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0002-3349-8541
  • Luiz Roberto Ramos Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. São Paulo, SP, Brasil https://orcid.org/0000-0003-3143-8315
  • Noemia Urruth Leão Tavares Universidade de Brasília. Faculdade de Ciências da Saúde. Departamento de Farmácia. Brasília, DF, Brasil https://orcid.org/0000-0001-6180-7527
  • Tatiane da Silva Dal Pizzol Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Farmácia. Departamento de Produção e Controle de Medicamentos. Porto Alegre, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0002-7566-7745
  • Paulo Sérgio Dourado Arrais Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem. Departamento de Farmácia. Fortaleza, CE, Brasil https://orcid.org/0000-0002-4502-8467
  • Mareni Rocha Farias Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Ciências Farmacêuticas. Florianópolis, SC, Brasil https://orcid.org/0000-0002-4319-9318
  • Vera Lucia Luiza Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Departamento de Política de Medicamentos e Assistência Farmacêutica. Rio de Janeiro, RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0001-6245-7522
  • Maria Auxiliadora Oliveira Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Departamento de Política de Medicamentos e Assistência Farmacêutica. Rio de Janeiro, RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0003-2400-536X
  • Ana Maria Baptista Menezes Universidade Federal de Pelotas. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Social. Pelotas, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0002-2996-9427

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2022056003740

Palavras-chave:

Idoso, Uso de Medicamentos, Benzodiazepinas, Fatores de Risco, Estudos Transversais

Resumo

OBJETIVO: Avaliar a utilização de benzodiazepínicos (BZD) em idosos brasileiros, a partir de dados da Pesquisa Nacional de Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos (PNAUM). MÉTODOS: A PNAUM é um estudo transversal, conduzido entre 2013 e 2014, com representatividade da população urbana brasileira. No presente estudo, foram incluídos indivíduos com 60 anos ou mais (n = 9019). Foi calculada a prevalência de utilização de BZD nos 15 dias anteriores à coleta dos dados da pesquisa, geral e segundo as variáveis independentes, por meio de análise bruta e ajustada, utilizando modelo hierárquico de regressão de Poisson. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista domiciliar. RESULTADOS: A prevalência de utilização de BZD em idosos foi de 9,3% (IC95%: 8,3–10,4). Após análise ajustada, foram associados à maior utilização de BZD: sexo feminino (RP = 1,88; IC95%: 1,52–2,32), depressão (RP = 5,31; IC95%: 4,41–6,38), multimorbidade (RP = 1,44; IC95%: 1,20–1,73), visita à emergência ou internação hospitalar nos últimos 12 meses (RP = 1,42; IC95%: 1,18–1,70), polifarmácia (RP = 1,26; IC95%: 1,01–1,57) e autopercepção de saúde ruim ou muito ruim (RP = 4,16; IC95%: 2,10–8,22). A utilização foi menor na região Norte (RP = 0,18; IC95%: 0,13–0,27) e em indivíduos que relataram consumo abusivo de álcool no último mês (RP = 0,42; IC95%: 0,19–0,94). CONCLUSÃO: Apesar das recomendações contrárias ao uso, os resultados demonstraram elevada prevalência de utilização de BZD em idosos, particularmente naqueles que apresentam depressão, além de amplas diferenças em relação às regiões do país e ao sexo do indivíduo.

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Publicado

2022-03-11

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Freire, M. de B. O., Silva, B. G. C. da, Bertoldi, A. D., Fontanella, A. T., Mengue, . S. S., Ramos, L. R., Tavares, N. U. L., Pizzol, T. da S. D. ., Arrais, P. S. D., Farias, M. R., Luiza, V. L., Oliveira, M. A., & Menezes, A. M. B. (2022). Utilização de benzodiazepínicos em idosos brasileiros: um estudo de base populacional. Revista De Saúde Pública, 56, 10. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2022056003740

Dados de financiamento