Nas intersecções: operacionalizando análise temática interseccional em prevenção ao HIV

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2024058005728

Palavras-chave:

HIV, Enquadramento, Interseccional, Pesquisa Qualitativa, Métodos

Resumo

OBJETIVO: Este artigo objetiva fornecer instrumentação teórica e metodológica inicial para auxiliar a produção de análises temáticas sob orientação interseccional em estudos qualitativos de base empírica em saúde. Argumenta-se que o encontro da perspectiva interseccional com a análise temática tem o potencial de atualizar essa última – bastante popular nas investigações qualitativas no campo da saúde – acerca das importantes discussões sobre os múltiplos e relacionados padrões de privilégio e opressão que operam nos níveis estrutural e institucional e produzem experiências de desvantagem relativa nos indivíduos segundo suas posições de gênero, raça/cor, classe, sexualidade, geração, entre outras.
MÉTODO: Este trabalho, com caráter ensaístico e metodológico, foi realizado a partir de um artigo que analisou dados empíricos qualitativos de um estudo longitudinal demonstrativo da Profilaxia Pré-Exposição sexual ao HIV (PrEP) entre jovens de 15 a 19 anos em três capitais brasileiras. Foram discutidas as limitações, os desafios e as potencialidades dos esforços teóricos e metodológicos empreendidos pelos seus autores, e apresentada uma proposta de operacionalização da análise temática com sensibilidade interseccional.
RESULTADOS: Observou-se que a análise temática com sensibilidade interseccional pode ser potencializada com a utilização de triangulação de técnicas para a produção de dados qualitativos. A proposição inicial, desde a etapa do desenho da pesquisa, da construção e da aplicação dos instrumentos de produção de dados com intencionalidade interseccional favorece e viabiliza o reconhecimento das relações entre marcadores sociais nas categorias analíticas.
DISCUSSÃO: O fato de a perspectiva teórico-metodológica da interseccionalidade não estar presente desde a concepção da pesquisa e a fase de produção dos dados não inviabiliza a utilização da interseccionalidade como ferramenta metodológica, embora possa implicar algumas limitações em termos de análise e discussão dos resultados. Tais limitações podem ser contornadas com a proposição de pressupostos de caráter interseccional e o cotejamento dos resultados com a literatura referente ao tema e objeto de estudo.

Biografia do Autor

  • Cristiane Spadacio, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. São Paulo, SP, Brasil.

  • Lorruan Alves dos Santos, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. São Paulo, SP, Brasil

  • Ramiro Andres Fernandez Unsain, Universidade Católica de Santos

    Universidade Católica de Santos. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Santos, SP, Brasil.

  • Isa da Silva Sorrentino, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. São Paulo, SP, Brasil

  • Marcia Thereza Couto, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. São Paulo, SP, Brasil

Referências

Strauss A, Corbin J. Pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman; 2008.

Bradbury-Jones C, Breckenridge J, Clark MT, Herber OR, Wagstaff C, Taylor J. The state of qualitative research in health and social science literature: a focused mapping review and synthesis. Int J Soc Res Methodol. 2017 Nov 2;20(6):627-45. https://doi.org/10.1080/13645579.2016.1270583

Vaismoradi M, Turunen H, Bondas T. Content analysis and thematic analysis: Implications for conducting a qualitative descriptive study. Nurs Health Sci. 2013 Sep;15(3):398-405. https://doi.org/10.1111/nhs.12048

Braun V, Clarke V. Using thematic analysis in psychology. Qual Res Psychol. 2006;3(2):77-101.

Humble N. Content analysis or thematic analysis: doctoral students’ perceptions of similarities and differences. Electron J Bus Res Methods. 2022 Nov 8;20(3):89-98. https://doi.org/10.34190/ejbrm.20.3.2920

Couto MT, Oliveira E, Separavich MAA, Oliveira E, Separavich MAA, Luiz OC. The feminist perspective of intersectionality in the field of public health: A narrative review of the theoreticalmethodological literature. Salud Colect. 2019 Mar;15(1):e1994.

Gkiouleka A, Huijts T, Beckfield J, Bambra C. Understanding the micro and macro politics of health: Inequalities, intersectionality & institutions – A research agenda. Soc Sci Med. 2018;200:92-8. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2018.01.025

Kelly C, Kasperavicius D, Duncan D, Etherington C, Giangregorio L, Presseau J, et al. “Doing’’ or “using’’ intersectionality? Opportunities and challenges in incorporating intersectionality into knowledge translation theory and practice.”’ Int J Equity Health. 2021;20(1):187.

Carbado DW, Crenshaw KW, Mays VM, Tomlinson B. Intersectionality: mapping the movements of a theory. Du Bois Rev Soc Sci Res Race. 2013 Jan 3;10(2):303-12. https://doi.org/10.1017/S1742058X13000349

Dhamoon RK. Considerations on Mainstreaming Intersectionality. Polit Res Q. 2011 Mar 22;64(1):230-43. https://doi.org/10.1177/1065912910379227

Prins B. Narrative Accounts of Origins. Eur J Women’s Stud. 2006 Aug 24;13(3):277-90. https://doi.org/10.1177/1350506806065757

Collins PH, Bilge S. Intersectionality. Cambridge: John Wiley & Sons; 2020.

Bauer GR. Incorporating intersectionality theory into population health research methodology: Challenges and the potential to advance health equity. Soc Sci Med. 2014;110:10-7. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2014.03.022

Abrams JA, Tabaac A, Jung S, Else-Quest NM. Considerations for employing intersectionality in qualitative health research. Soc Sci Med. 2020 Aug 1;258:113138. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2020.113138

Bowleg L. Evolving intersectionality within public health: from analysis to action. Am J Public Health. 2021 Jan;111(1):88-90. https://doi.org/10.2105%2FAJPH.2020.306031

Marques ALM, Couto M. Políticas de drogas en el contexto brasileño: un análisis interseccional de “Cracolandia” en San Pablo, Brasil. Salud Colect. 2020 Aug 24;16. https://doi.org/10.18294/sc.2020.2517

Dutta M, Agarwal D, Sivakami M. The “invisible” among the marginalised: Do gender and intersectionality matter in the Covid-19 response? Indian J Med Ethics. 2020 Nov;5(4):302-8. https://doi.org/10.20529/IJME.2020.086

Corrêa MD, Moura L, Almeida LP, Zirbel I. As vivências interseccionais da violência em um território vulnerável e periférico. Saúde soc. 2021;30(2). https://doi.org/10.1590/S0104-12902021210001

Christensen AD, Jensen SQ. Doing Intersectional Analysis: Methodological Implications for Qualitative Research. NORA - Nord J Fem Gend Res [Internet]. 2012 Jun;20(2):109-25. https://doi.org/10.1080/08038740.2012.673505

Watkins-Hayes C. Intersectionality and the sociology of HIV/AIDS: Past, present, and future research directions. Annu Rev Sociol. 2014;40:431-57. https://doi.org/10.1146/annurev-soc-071312-145621

Dworkin SL. Who is epidemiologically fathomable in the HIV/AIDS epidemic? Gender, sexuality, and intersectionality in public health. Cult Health Sex. 2005 Nov;7(6):615-23. https://doi.org/10.1080/13691050500100385

Bredström A. Intersectionality: a challenge for feminist HIV/AIDS research?. Eur J Women’s Stud. 2006 Aug 24;13(3):229-43. https://doi.org/10.1177/1350506806065754

Olofsson A, Zinn JO, Griffin G, Nygren KG, Cebulla A, Hannah-Moffat K. The mutual constitution of risk and inequalities: intersectional risk theory. Health Risk Soc. 2014 Jul;16(5):417-30. https://doi.org/10.1080/13698575.2014.942258

Santos LAA, Unsain RAFAF, Brasil SAA, Silva LAVAV, Duarte FMM, Couto MTT. PrEP perception and experiences of adolescent and young gay and bisexual men: an intersectional analysis. Cad Saúde Pública. 2023;39(Suppl 1):1-13. https://doi.org/10.1590/0102-311XEN134421

Dourado I, Magno L, Greco DB, Zucchi EM, Ferraz D, Westin MR, Grangeiro A. Interdisciplinarity in HIV prevention research: the experience of the PrEP1519 study protocol among adolescent MSM and TGW in Brazil. Cad Saude Publica. 2023;39(Suppl 1). https://doi.org/10.1590/0102-311XEN143221

Couto MT, Unsain RF, Zucchi EM, Ferraz DAS, Escorse M, Silveira RA, Grangeiro A. Territorialidades, desplazamientos, performatividades de géneros y sexualidades: juventudes LGBTQIA+ en las áreas suburbanas de la ciudad de São Paulo, Brasil. Sex Salud y Soc (Rio J.). 2021;(37). https://doi.org/10.1590/1984-6487.sess.2021.37.e21212a

Hancock AM. Intersectionality as a normative and empirical paradigm. Polit Gend. 2007;3(2):248-54. https://doi.org/10.1017/S1743923X07000062

Moradi B, Grzanka PR. Using intersectionality responsibly: Toward critical epistemology, structural analysis, and social justice activism. J Couns Psychol. 2017 Oct;64(5):500-13.

Wyatt TR, Johnson M, Zaidi Z. Intersectionality: a means for centering power and oppression in research. Adv Heal Sci Educ. 2022 Aug 2;27(3):863-75. https://doi.org/10.1007/s10459-022-10110-0

Gloria Holguín Cuádraz LU. Intersectionality and In-depth Interviews: methodological strategies for analyzing race, class, and gender. Race, Gend Cl. 1999;6(3):156-86.

Bourdieu P, Chamboredon J, Passeron J. Ofício de Sociólogo: Metodologia da pesquisa na sociologia. Petrópolis: Vozes; 2015.

Cho S, Crenshaw KW, McCall L. Toward a field of intersectionality studies: theory, applications, and praxis. Signs J Women Cult Soc. 2013;38:785-810.

Agamben G. Medios sin fin: notas sobre la política. Buenos Aires: Pre-Textos; 2001.

Bowleg L. When Black + lesbian + woman ≠ Black lesbian woman: The methodological challenges of qualitative and quantitative intersectionality research. Sex Roles. 2008 Sep;59(5-6):312-25.

Vigoya, MV. La interseccionalidad: una aproximación situada a la dominación. Debate feminista, 2016;52:1-17. https://doi.org/10.1016/j.df.2016.09.005

Bowleg L. Towards a critical health equity research stance: why epistemology and methodology matter more than qualitative methods. Heal Educ Behav. 2017 Oct 9;44(5):677-84. https://doi.org/10.1177/1090198117728760

Publicado

2024-12-12

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Spadacio, C., Santos, L. A. dos, Unsain, R. A. F., Sorrentino, I. da S., & Couto, M. T. (2024). Nas intersecções: operacionalizando análise temática interseccional em prevenção ao HIV. Revista De Saúde Pública, 58(Supl.1), 5s. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2024058005728