Eficiência da atenção primária nas capitais brasileiras e modelos de gestão: 2008–2019

Autores

  • Marismary Horsth De Seta Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Programa de Pós-graduação em Saúde Pública. Rio de Janeiro, RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0003-4764-5159
  • André Luis Paes Ramos Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Programa de Pós-graduação em Saúde Pública. Rio de Janeiro, RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0002-3262-7321
  • Marcelo Battesini Universidade Federal de Santa Maria. Programa de Pós-Graduação em Gestão de Organizações Públicas. Santa Maria, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0002-9063-0959

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2025059006346

Palavras-chave:

Atenção Primária à Saúde, Serviços Terceirizados, Avaliação em Saúde, Eficiência

Resumo

OBJETIVO: Analisar a eficiência na atenção primária à saúde das capitais brasileiras no período 2008–2019, considerando o modelo de gestão: administração pública direta ou administração cedida a terceiros.  MÉTODOS: Estudo de propósito avaliativo, objetivo analítico, com dados secundários de acesso público, analisados em recorte transversal (2019) e longitudinal (2008, 2012, 2016 e 2019). Para caracterizar as cidades e sua atenção primária à saúde, utilizaram-se dados demográficos, socioeconômicos e sete indicadores relacionados à atenção primária à saúde (cobertura em atenção básica, internações por condições sensíveis à atenção básica, cura de tuberculose, mortalidade infantil, materna e prematura por condições crônicas, incidência de sífilis congênita). A esses indicadores foram acrescidos os de gastos em saúde e em atenção primária à saúde e realizou-se a análise envoltória de dados voltada a outputs (sem admitir redução de gastos) para cálculo da eficiência em 2008, 2012, 2016 e 2019. Com o índice de Malmquist, buscou-se identificar possíveis ganhos de produtividade entre 2008 e 2019.  RESULTADOS: Quatro capitais identificadas como de administração cedida a terceiros (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Fortaleza) não obtiveram maior eficiência perante a administração pública direta, tampouco evoluíram quando comparados os seus próprios resultados no tempo. Em 2019, e na abordagem longitudinal, apenas capitais de gestão por administração pública direta obtiveram índice máximo de eficiência relativa na comparação entre as capitais. Doze capitais em administração pública direta mantiveram-se eficientes em todos os anos, ao passo que as em administração cedida a terceiros apresentaram, consistentemente, ineficiência fraca em atenção primária à saúde, ou seja, no período estudado, a relação entre investimentos na atenção primária à saúde e resultados obtidos é inferior ao alcançado pelas capitais eficientes. CONCLUSÕES: Não encontramos evidências de ganhos de eficiência com a adoção de administração cedida a terceiros. Ressalte-se que a eficiência produtiva não representa, necessariamente, o atendimento de necessidades de saúde. 

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Publicado

2025-03-14

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Seta, M. H. D., Ramos, A. L. P., & Battesini, M. (2025). Eficiência da atenção primária nas capitais brasileiras e modelos de gestão: 2008–2019. Revista De Saúde Pública, 59, 6. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2025059006346