O mito do déficit proteico
DOI:
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2025059006669Palavras-chave:
Necessidade Proteica, Recomendações Nutricionais, Alimentos Formulados, Kwashiorkor, PopulaçãoResumo
Dados epidemiológicos apontam que o consumo de alimentos de origem animal nos países de alta renda é excessivo e prejudicial à saúde. Mas é frequente, tanto na literatura científica como nos documentos das organizações multilaterais, a associação entre pobreza e carência de proteínas. Há uma armadilha conceitual neste vínculo, que consiste em concentrar a atenção em um nutriente e não no conjunto do padrão alimentar. Em 1974, num texto que se tornou um clássico da ciência da nutrição, Donald McLaren já mostrava o erro das organizações multilaterais de desenvolvimento em focar seus esforços na oferta de proteínas (inclusive sob formas industrializadas) sem levar em conta que, com raras exceções, quando se alcança suficiência energética, dificilmente haverá déficit proteico. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2017 a 2018 ajudam a desfazer esse mito: mesmo entre os 20% mais pobres da população brasileira, é ínfima a proporção dos que apresentam ingestão proteica insuficiente.
Referências
McLaren DS. The great protein fiasco. Lancet. 1974 Jul;2(7872):93-6. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(74)91649-3.
International Panel of Experts on Sustainable Food Systems. The politics of protein: examining claims about livestock, fish, ‘alternative proteins’ and sustainability. IPES-Food; 2022 [citado 1 out 2024]. Disponível em: https://www.ipes-food.org/_img/upload/files/PoliticsOfProtein.pdf.
Godfray HC, Aveyard P, Garnett T, Hall JW, Key TJ, Lorimer J, et al. Meat consumption, health, and the environment. Science. 2018 Jul;361(6399):eaam5324. https://doi.org/10.1126/science.aam5324.
Smith K, Watson AW, Lonnie M, Peeters WM, Oonincx D, Tsoutsoura N, et al. Meeting the global protein supply requirements of a growing and ageing population. Eur J Nutr. 2024 Aug;63(5):1425-33. https://doi.org/10.1007/s00394-024-03358-2.
Hayek MN. The infectious disease trap of animal agriculture. Sci Adv. 2022 -citado Nov;8(44):eadd6681. https://doi.org/10.1126/sciadv.add6681.
Monbiot G. Regenesis: Feeding the world without devouring the planet. Londres: Penguin; 2022.
Briscoe MD. The meatless menu paradox? Environmental theory and plant-based fast-food options. Soc Anim. 2022;31(5-6):815-24. https://doi.org/10.1163/15685306-bja10105.
Kim Y, Je Y. Meat consumption and risk of metabolic syndrome: results from the Korean population and a meta-analysis of observational studies. Nutrients. 2018 Mar;10(4):390. https://doi.org/10.3390/nu10040390.
Berners-Lee M, Kennelly C, Watson R, Hewitt CN. Current global food production is sufficient to meet human nutritional needs in 2050 provided there is radical societal adaptation. Elementa. 2018 Jul;6(1):52. https://doi.org/10.1525/elementa.310.
Howard SJ, Hopwood S, Davies SC. Antimicrobial resistance: a global challenge.sci. Transl.Med. 2014; 6,236ed10-236ed. https://doi.org/10.10.1126/scitranslmed.3009315.
Van Boeckel TP, Glennon EE, Chen D, Gilbert M, Robinson TP, Grenfell BT, et al. Reducing antimicrobial use in food animals. Science. 2017 Sep;357(6358):1350-2. https://doi.org/10.1126/science.aao1495.
Abramovay R, Matte A, Sanseverino EC, Ritt AL, Galiano MW. Pecuária bovina regenerativa na América Latina e no Caribe, muito além do oximoro. RESR. 2025;63:E289950. https://doi.org/10.1590/1806-9479.2025.289950pt.
Joint WHO/FAO/UNU Expert Consultation. Protein and amino acid requirements in human nutrition. World Health Organ Tech Rep Ser. 2007;(935):1-265, back cover.
Mittendorfer B, Klein S, Fontana L. A word of caution against excessive protein intake. Nat Rev Endocrinol. 2020 Jan;16(1):59-66. https://doi.org/10.1038/s41574-019-0274-7.
Blaxter T, Garnett T. Primed for power: a short cultural history of protein. University of Oxford, Swedish University of Agricultural Sciences and Wageningen University and Research; 2022.
Zhang X, Kapoor D, Jeong SJ, Fappi A, Stitham J, Shabrish V, et al. Identification of a leucine-mediated threshold effect governing macrophage mTOR signalling and cardiovascular risk. Nat Metab. 2024 Feb;6(2):359-77. https://doi.org/10.1038/s42255-024-00984-2.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria de Pesquisa, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2020[citado 5 out 2024]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101742.
Herrero M, Hugas M, Lele U, Wirakartakusumah A, Torero M. A Shift to Healthy and Sustainable Consumption Patterns. In: Braun J, Afsana K, Fresco LO, Hassan MH, editors. Science and innovations for food systems transformation. Springer; 2023. p. 59-86.
Ministério da Saúde (BR). Vigitel Brasil 2023: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos
estados brasileiros e no Distrito Federal em 2023. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2023 [citado 7 nov 2024]. Disponível em: www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/vigitel/vigitel-brasil-2023-vigilancia-de-fatores-de-risco-e-protecao-paradoencas-cronicas-por-inquerito-telefonico.
World Heath Organization. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases: report of a joint WHO/FAO expert consultation. Geneva: World Heath Organization; 2003.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Ricardo Abramovay, Nadine Marques Nunes-Galbes, Fernanda Helena Marrocos-Leite, Eduardo Augusto Fernandes Nilson, Maria Laura da Costa Louzada

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.