Utilização do pré-natal e estrutura hospitalar segundo o risco obstétrico no Rio de Janeiro
DOI:
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2025059006571Palavras-chave:
Cuidado Pré-natal, Estrutura dos Serviços, Qualidade da Assistência à SaúdeResumo
OBJETIVO: Estimar a utilização e adequação de serviços de pré-natal e verificar a estrutura da maternidade para atender às necessidades de cuidado de saúde durante o parto no Sistema Único de Saúde.
MÉTODOS: Estudo seccional de base hospitalar realizado no estado do Rio de Janeiro. Foram elegíveis 1.073 puérperas cujo parto ocorreu em hospitais públicos e mistos. As entrevistas foram realizadas no hospital e foram extraídos dados da caderneta de pré-natal e do prontuário materno. Para avaliar a estrutura hospitalar foram entrevistados os gestores. As características sociodemográficas, obstétricas e do cuidado pré-natal das puérperas foram descritas segundo o risco obstétrico. A avaliação da estrutura da maternidade englobou: recursos humanos, medicamentos, equipamentos de emergência e serviços de apoio, segundo o nível de complexidade. Ao final, analisou-se a distribuição das puérperas classificadas em risco obstétrico segundo a complexidade da estrutura hospitalar.
RESULTADOS: As maiores prevalências de alto risco obstétrico foram observadas nos hospitais localizados no interior, entre as mulheres brancas, com 35 ou mais de idade, com até 11 anos de estudo, multíparas e obesas. A adequação do pré-natal, o controle da hipertensão arterial, diabetes e da avaliação nutricional foram baixos e a peregrinação foi expressiva. Os hospitais com UTI/UTIN apresentaram melhores níveis de adequação em todas as dimensões de estrutura avaliadas. Ao nível estadual, 30,5% das mulheres de alto risco obstétrico foram atendidas em maternidades sem UTI/UTIN e 40,4% de risco habitual em maternidades com UTI/UTIN.
CONCLUSÃO: O estudo sublinha a necessidade de melhorar a assistência pré-natal e a implementação de uma rede articulada dos serviços que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), centrada em maternidades que garantam as condições de estrutura para a qualidade e segurança no cuidado obstétrico e neonatal, tanto nas boas práticas no risco habitual quanto no manejo de intercorrências e no alto risco obstétrico, de forma a impactar os persistentes resultados elevados de morbimortalidade materna e neonatal.
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