Nascer no Brasil continuidade do cuidado na gestação e pós-parto à mulher e ao recém-nato

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002021

Palavras-chave:

Serviços de Saúde Materno-Infantil, Cuidado Pré-Natal, Gravidez, Período Pós-Parto, Sistema Único de Saúde, Inquéritos Epidemiológicos

Resumo

OBJETIVO: Estimar a adequação da linha de cuidado da atenção à saúde durante a gestação e o pós-parto em puérperas e recém-natos usuários do Sistema Único de Saúde e verificar os fatores associados à maior adequação. MÉTODOS: Foram utilizados os dados obtidos na entrevista hospitalar, no cartão de pré-natal e na primeira entrevista telefônica de 12.646 mulheres participantes do estudo Nascer no Brasil, realizado em 2011 e 2012. Na primeira etapa da análise, descrevem-se as características sociodemográficas e obstétricas das mulheres e a estimativa de adequação de indicadores de cuidado pré-natal e pós-parto. Na segunda etapa, apresenta-se a cascata de cuidados das ações relativas ao cuidado da mulher e do recém-nascido. Por último, verificam-se os fatores maternos associados à adequação da linha de cuidado, por meio de regressão logística múltipla. RESULTADOS: Apenas dois dos quatro indicadores do pré-natal foram considerados satisfatórios: início até a 16ª semana de gestação e número adequado de consultas. Atingiram patamar parcial de adequação a orientação sobre qual maternidade procurar para ter o parto, a orientação para comparecer ao serviço de saúde para realizar a consulta de puerpério e a realização do teste do pezinho. A consulta de puerpério, a primeira consulta de rotina do recém-nascido e o recebimento do teste do pezinho apresentaram adequação insatisfatória. Na análise conjunta dos indicadores que dizem respeito à efetiva utilização dos serviços, apenas 1,5% das mães e seus bebês receberam todos os cuidados em saúde recomendados. Mulheres residentes no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com menor escolaridade e multíparas apresentaram as menores chances de continuidade do cuidado. CONCLUSÕES: Os indicadores avaliados sinalizam que quase a totalidade das mulheres e seus filhos apresentaram uma assistência parcial e desarticulada, indicando que a coordenação do cuidado ainda é um desafio na atenção à saúde de mulheres e crianças no período gravídico puerperal.

Biografia do Autor

  • Sonia Duarte de Azevedo Bittencourt, Fundação Oswaldo Cruz

    Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

  • Elenice Machado Cunha, Fundação Oswaldo Cruz

    Fundação Oswaldo Cruz. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde (LAVSA/EPSJV). Rio de Janeiro, RJ, Brasil

  • Rosa Maria Soares Madeira Domingues, Fundação Oswaldo Cruz

    Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas. Laboratório de Pesquisa Clínica em DST/Aids. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

  • Barbara Almeida Soares Dias, Fundação Oswaldo Cruz

    Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

  • Marcos Augusto Bastos Dias, Fundação Oswaldo Cruz

    Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes
    Figueira. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

  • Jacqueline Alves Torres, Agência Nacional de Saúde Suplementar

    Agência Nacional de Saúde Suplementar. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

  • Maria do Carmo Leal, Fundação Oswaldo Cruz

    Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Referências

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Publicado

2020-11-20

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Bittencourt, S. D. de A., Cunha, E. M., Domingues, R. M. S. M., Dias, B. A. S., Dias, M. A. B., Torres, J. A., & Leal, M. do C. (2020). Nascer no Brasil continuidade do cuidado na gestação e pós-parto à mulher e ao recém-nato. Revista De Saúde Pública, 54, 100. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002021