Por que a assistência em saúde mental não acompanha a estruturação da atenção primária?

Autores

  • Antonio Moacir de Jesus Lima Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde. Departamento de Enfermagem. Diamantina, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0003-2725-8995
  • Eli Iola Gurgel Andrade Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0002-0206-2462
  • Antonio Thomaz Gonzaga da Matta Machado Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva e Social. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0002-0516-8529
  • Alainer de Fátima dos Santos Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0002-7674-0449

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003344

Palavras-chave:

Assistência à Saúde Mental, Atenção Primária à Saúde, Qualidade da Assistência à Saúde, Administração de Serviços de Saúde

Resumo

OBJETIVO: Verificar se equipes de atenção básica que possuem atributos mais bem estruturados da atenção primária à saúde (APS) conseguem oferecer melhor assistência em saúde mental (SM). MÉTODOS: Estudo transversal realizado a partir dos dados da avaliação externa do segundo ciclo do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), envolvendo 31.587 equipes de atenção básica, entre 2013 e 2014. Foram construídas duas tipologias: qualidade da assistência em saúde mental (variável dependente) e estruturação da APS segundo atributos essenciais (variável independente). Para a construção da tipologia de saúde mental, foram identificados conteúdos sobre o tema no módulo II do PMAQ e realizados somatórios das perguntas para a categorização dos índices. Para a estruturação da APS segundo atributos, utilizou-se técnica Delphi para consensualidade em quatro rodadas referendadas por especialistas. Com análises de regressão logística multinomial, verificou-se associação entre as tipologias e identificou-se qual atributo mais contribuía para qualidade da atenção em saúde mental. RESULTADOS: Verificou-se que 29,2% das equipes encontram-se em um nível baixo de qualidade em assistência à SM, enquanto 7,5% das equipes apresentam um nível baixo de estruturação da APS segundo atributos essenciais. Diferenças regionais são mantidas, tanto para estruturação da APS quanto para a qualidade da assistência à saúde mental. Evidenciou-se uma chance maior de realizar uma assistência em SM com melhor qualidade quando a APS está mais bem estruturada em nível alto (OR = 14,74) e em nível médio (OR = 2,193). Alto nível de Integralidade está associado a alto nível de Qualidade da Assistência em SM (OR = 3,21). CONCLUSÕES: Os resultados indicam que há predomínio de baixos níveis de qualidade da assistência à saúde mental, em descompasso com o processo de estruturação da APS, considerando seus atributos essenciais.

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Publicado

2021-12-08

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Lima, A. M. de J., Andrade, E. I. G., Machado, A. T. G. da M., & Santos, A. de F. dos. (2021). Por que a assistência em saúde mental não acompanha a estruturação da atenção primária?. Revista De Saúde Pública, 55, 99. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003344