Ressurgimento do sarampo no Brasil: análise da epidemia de 2019 no estado de São Paulo

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2022056003805

Palabras clave:

Sarampo, epidemiologia, Transmissão de Doença Infecciosa, Epidemias, Controle de Doenças Transmissíveis, Cobertura Vacinal

Resumen

OBJETIVO Analisar o perfil epidemiológico dos casos e o padrão de difusão espacial da maior epidemia de sarampo do Brasil ocorrida no período pós-eliminação, no estado de São Paulo. MÉTODO Estudo transversal, baseado em casos confirmados de sarampo em 2019. Foi conduzida análise bivariada das variáveis socioeconômicas, clínicas e epidemiológicas, segundo vacinação prévia e ocorrência de hospitalização, combinada a uma análise de difusão espacial dos casos por meio da metodologia de interpolação pela ponderação do inverso da distância. RESULTADOS Dos 15.598 casos confirmados, 2.039 foram hospitalizados e 17 evoluíram para o óbito. O pico epidêmico ocorreu na semana epidemiológica 33, após a confirmação do primeiro caso, na semana epidemiológica 6. A maioria dos casos era homem (52,1%), com idade entre 18 e 29 anos (38,7%), identificados como brancos (70%). Adultos jovens (39,7%) e menores de cinco anos (32,8%) foram as faixas etárias mais acometidas. Observou-se maior proporção de vacinação prévia em brancos, quando comparados a pretos, pardos, amarelos e indígenas (p < 0,001), assim como no grupo mais escolarizado, quando comparado às demais categorias (p < 0,001). O risco de hospitalização foi maior em crianças, quando comparado à faixa etária mais idosa (RI = 2,19; IC95% 1,66–2,88), assim como entre não vacinados, quando comparado a vacinados (RI = 1,59; IC95% 1,45–1,75). O padrão de difusão por contiguidade combinado à difusão por realocação seguiu a hierarquia urbana das regiões de influência das principais cidades. CONCLUSÃO Além da vacinação de rotina em crianças, os achados indicam a necessidade de campanhas de imunização de adultos jovens. Adicionalmente, estudos que busquem investigar a ocorrência de clusters de populações vulneráveis, propensas a menor cobertura de vacinação, são essenciais para ampliar a compreensão sobre a dinâmica de transmissão da doença e, assim, reorientar estratégias de controle que garantam a eliminação da doença.

Referencias

Anekwe TD, Newell ML, Tanser F, Pillay D, Bärnighausen T. The causal effect of childhood measles vaccination on educational attainment: a mother fixed-effects study in rural South Africa. Vaccine. 2015;33(38):5020-6. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2015.04.072

Brownwright TK, Dodson ZM, Willem GP. Spatial clustering of measles vaccination coverage among children in sub-Saharan Africa. BMC Public Health. 2017;17:957. https://doi.org/10.1186/s12889-017-4961-9

Lemos DRQ, Franco AR, Garcia MHO, Pastor D, Bravo-Alcântara P, Moraes JC, et al. Risk analysis for the reintroduction and transmission of measles in the post-elimination period in the Americas. Rev Panam Salud Publica. 2017;41:e157. https://doi.org/10.26633/RPSP.2017.157

Hagan JE, Takashima Y, Sarankhuu A, Dashpagma O, Jantsansengee B, Pastore R, et al. Risk factors for measles virus infection among adults during a large outbreak in postelimination era in Mongolia, 2015. J Infect Dis. 2017;216(10):1187-95. https://doi.org/10.1093/infdis/jix449

Organização Pan-Americana de Saúde. Casos de sarampo têm aumentado de 300% no mundo conforme dados preliminares de 2019. Brasília, DF: OPAS; 2019 [citado 14 jan 2022]. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5913:casos-de-sarampo-cresceram-300-no-mundo-conforme-dados-preliminares-de-2019&Itemid=820

Organização Pan-Americana de Saúde.CE160.R2 - Plano de ação para assegurar a sustentabilidade da eliminação do sarampo, rubéola e síndrome da rubéola congênita nas Américas 2018-2023. Brasília, DF: OPAS; 2017 [citado 14 jan 2022]. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/34446/CSP29-8-p.pdf?sequence=4&isAllowed=y

Naouri B, Ahmed H, Bekhit R, Teleb N, Mohsni E, Alexander JP Jr. Progress toward measles elimination in the Eastern Mediterranean Region. J Infect Dis. 2011;204 Suppl 1:S289-98. https://doi.org/10.1093/infdis/jir140

Pan American Health Organization. Region of the Americas is declared free of measles. Washington, DC:PAHO [citado 14 jan 2022]. Disponível em: https://www3.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=12528:region-americas-declared-free-measles&Itemid=1926&lang=

Dimala CA, Kadia BM, Nji MAM, Bechem NN. Factors associated with measles resurgence in the United States in the post-elimination era. Sci Rep. 2021;11:51. https://doi.org/10.1038/s41598-020-80214-3

Goldani LZ. Measles outbreak in Brazil, 2018 [editorial]. Braz J Infect Dis. 2018;22(5):358. https://doi.org/10.1016/j.bjid.2018.11.001

Medeiros EAS. Entendendo o ressurgimento e o controle do sarampo no Brasil [editorial]. Acta Paul Enferm. 2020;33:e-EDT20200001. https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020edt0001

Litvoc MN, Lopes MIBF. From the measles-free status to the current outbreak in Brasil. Rev Assoc Med Bras. 2019;65(10):1229-30. https://doi.org/10.1590/1806-9282.65.10.1129

Borba RCN, Vidal VM, Moreira LO. The re-emergency and persistence of vaccine preventable diseases. An Acad Bras Cienc. 2015;87(2 Suppl):1311-22. https://doi.org/10.1590/0001-3765201520140663

Wang X, Boulton ML, Montgomery JP, Carlson B, Zhang Y, Gillespie B, et al. The epidemiology of measles in Tianjin, China, 2005-2014. Vaccine. 2015;33(46):6186-91. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2015.10.008

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades: São Paulo. Rio de Janeiro: IBGE; c2017 [citado 19 abr 2021]. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/panorama

Stevenson M, Sergeant E. epiR: tools for the analysis of epidemiological data. R package version 2.0.19. Wien (AT): Institute for Statistics and Mathematics of WU; 2021 [citado 15 mar 2021]. Disponível em: https://CRAN.R-project.org/package=epiR

Edmonson MB, Addiss DG, McPherson JT, Berg JL, Circo SR, Davis JP. Mild measles and secondary vaccine failure during a sustained outbreak in a highly vaccinated population. JAMA. 1990;263(18):2467-71. https://doi.org/10.1001/jama.1990.03440180073035

Risco-Risco C, Masa-Calles J, López-Perea N, Echevarría JE, Rodríguez-Caravaca G. Epidemiology of measles in vaccinated people, Spain 2003-2014. Enferm Infecc Microbiol Clin. 2017;35(9):569-73. https://doi.org/10.1016/j.eimc.2016.05.001

Damien B, Huiss S, Schneider F, Muller CP. Estimated susceptibility to asymptomatic secondary immune response against measles in late convalescent and vaccinated persons. J Med Virol. 1998;56(1):85-90. https://doi.org/10.1002/(SICI)1096-9071(199809)56:1<85::AID-JMV14>3.0.CO;2-V

Centers for Disease Control and Prevention. Measles vaccine efficacy -- United States. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 1980;29(39):470-2. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/23301238

Coughlin MM, Beck AS, Bankamp B, Rota PA. Perspective on global measles epidemiology and control and the role of novel vaccination strategies. Viruses. 2017;9(1):11. https://doi.org/10.3390/v9010011

Muscat M. Who gets measles in Europe? J Infect Dis. 2011;204 Suppl 1: S353-65. https://doi.org/10.1093/infdis/jir067

Plotkin SA. Measles: breakouts and breakthroughs. J Pediatric Infect Dis Soc. 2019;8(4):289-90. https://doi.org/10.1093/jpids/piz043

Nasab GSF, Salimi V, Abbasi S, Fard FAN, Azad MT. Comparison of neutralizing antibody titers against outbreak-associated measles genotypes (D4, H1 and B3) in Iran. Pathog Dis. 2016;74(8):ftw089. https://doi.org/10.1093/femspd/ftw089

Cheng WY, Tung HP, Wang HC, Lee LL, Wu HS, Liu MT. Molecular epidemiology of measles virus in Taiwan in 2010–2011: the common genotype changed from H1 to D9 and the first appearance of D4. J Med Virol. 2013;85(6):1095-9. https://doi.org/10.1002/jmv.23563

Woundenberg T, Binnendijk RS, Sanders EAM, Wallinga J, Melker HE, Ruijs WLM, et al. Large measles epidemic in the Netherlands, May 2013 to March 2014: changing epidemiology. Euro Surveill. 2017;22(3):30443. https://doi.org/10.2807/1560-7917.ES.2017.22.3.30443

Torner N, Anton A, Barrabeig I, Lafuente S, Parron I, Arias C, et al; Measles Elimination Program Surveillance Network of Catalonia, Spain. Epidemiology of two large measles virus outbreaks in Catalonia: what a difference the month of administration of the first dose of vaccine makes. Hum Vaccin Immunother. 2013;9(3):675-80. https://doi.org/10.4161/hv.23265

Toure A, Saadatian-Elahi M, Floret D, Lina B, Casalegno JS, Vanhems P. Knowledge and risk perception of measles and factors associated with vaccination decisions in subjects consulting university affiliated public hospitals in Lyon, France, after measles infection. Hum Vaccin Immunother. 2014;10(6):1755-61. https://doi.org/10.4161/hv.28486

De Serres G, Markowski F, Toth E, Landry M, Auger D, Mercier M, et al. Largest measles epidemic in North America in a decade--Quebec, Canada, 2011: contribution of susceptibility, serendipity, and superspreading events. J Infect Dis. 2013;207(6):990-8. https://doi.org/10.1093/infdis/jis923

Delaporte E, Wyler Lazarevic CA, Iten A, Sudre P. Large measles outbreak in Geneva, Switzerland, January to August 2011: descriptive epidemiology and demonstration of quarantine effectiveness. Euro Surveill. 2013;18(6):20395. https://doi.org/10.2807/ese.18.06.20395-en

Oliveira MFS, Martinez EZ, Rocha JSY. Factors associated with vaccination coverage in children < 5 years in Angola. Rev Saude Publica. 2014;48(6):906-15. https://doi.org/10.1590/s0034-8910.2014048005284

Belmar-George S, Cassius-Frederick J, Leon P, Alexander S, Holder Y, Lewis-Bell KN, et al. MMR2 vaccination coverage and timeliness among children born in 2004 – 2009: a national survey in Saint Lucia, 2015. Rev Panam Salud Publica. 2018;42:e76. https://doi.org/10.26633/RPSP.2018.76

Sociedade Brasileira de Imunizações, Comissão Técnica para Revisão dos Calendários Vacinais e Consensos. Calendário de Vacinação da Criança. São Paulo: SBIM; 2013 [citado 14 jan 2022]. (Informe técnico; nº 1). Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/informe-tecnico-001-2013_esquema-mmr-e-mmrv_130225.pdf

Hunter PR, Colón-Gonzáles FJ, Brainard J, Majuru B, Pedrazzoli D, Abubakar I, et al. Can economic indicators predict infectious disease spread? A cross-country panel analysis of 13 European countries. Scand J Public Health. 2020;48(4):351-61. https://doi.org/10.1177/1403494819852830

Fortaleza CMCB, Guimarães RB, Catão RC, Ferreira CP, Almeida GB, Vilches TN, et al. The use of health geography modeling to understand early dispersion of COVID-19 in São Paulo, Brazil. PLoS One. 2021;16(1):e0245051. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0245051

Santos JPC, Praça HLF, Pereira LV, Albuquerque HG, Siqueira ASP. A difusão espacial da Covid-19 no Estado do Rio de Janeiro. Hygeia. 2020 Ed. Espec:263-73. https://doi.org/10.14393/Hygeia0054624

Publicado

2022-06-13

Número

Sección

Original Articles

Cómo citar

Makarenko, C. ., San Pedro, A., Paiva, N. S., Santos, J. P. C. dos, Medronho, R. de A., & Gibson, G. (2022). Ressurgimento do sarampo no Brasil: análise da epidemia de 2019 no estado de São Paulo. Revista De Saúde Pública, 56, 50. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2022056003805