Transliteração
Entre as várias dificuldades encontradas em se trabalhar com a cultura e a literatura russa em âmbito acadêmico está a ausência de padronização nas transliterações do alfabeto russo para o latino, principalmente uma formulada especificamente para o português brasileiro. Essa questão não escapou ao fundador do curso de russo na Universidade de São Paulo, Bóris Schnaiderman, que criou uma primeira tabela de transliteração, nascida dos seus anos de experiência como tradutor e professor. A partir desse esforço inaugural, o debate dessas práticas seguiu por muitos anos até se chegar a uma nova versão da tabela, que foi publicada no primeiro número deste periódico, na época ainda intitulado Caderno de Literatura e Cultura Russa.
A migração para o formato digital permitiu que a circulação da Rus se tornasse muito maior, o que trouxe muitos pontos positivos, mas aumentou a necessidade de um padrão para a transliteração. De uma perspectiva mais funcional, leitores do mundo inteiro passaram a encontrar artigos por meio de palavras-chave lançadas em buscadores online. Como muitos pesquisadores não utilizam o alfabeto cirílico, a falta de uma padronização significa que um pesquisador interessado precisaria fazer dezenas de buscas diferentes para um mesmo nome, com pequenas variações na grafia das palavras. Por exemplo, o escritor russo Fiódor Alekséiev poderia ter seu nome grafado de diversas maneiras: Fedor Alekseev, Fiodor Alieksieiev, Fiôdor Aleksiéev etc. Apesar de parecerem detalhes, as variações podem confundir os buscadores automáticos e impedir que eles encontrem os resultados almejados pelos pesquisadores.
Diante desses e de outros problemas dessa natureza, a Rus considera que a busca por um padrão para a transliteração do alfabeto russo significa um passo em direção aos objetivos da revista, pois ela ajuda as duas pontas da comunicação acadêmica: os pesquisadores podem encontrar textos de seu interesse com maior facilidade, e os autores terão maior chance de que seus textos alcancem um leitor interessado. Por isso, a Rus decidiu publicar suas práticas de transliteração que, embora tenham nascido com Boris Schnaiderman, foram desenvolvidas ao longo dos anos a partir de discussões amplas e das práticas adotadas no curso de russo da Universidade de São Paulo.
Tabela de transliteração
Considerações gerais
Os sinais brandos e duros são omitidos na transliteração, podendo ser usados para ressaltar algo no original, como o infinitivo dos verbos, no caso dos sinais brandos.
O uso de acentos na transliteração não deve alterar a sonoridade da palavra, mas servem apenas para indicar a sílaba tônica. Para isso, o autor poderá escolher livremente entre indicá-la preferencialmente com o acento agudo ( ´ ) ou circunflexo ( ^ ).
As consoantes M, N, L e F alteram a transliteração da vogal branda E, tirando-lhe o I para evitar a alteração na pronúncia que levaria, por exemplo, Liev a ser lido como “Lhev”.
Em português, a letra S tem sua sonoridade alterada se estiver em uma posição intervocálica (como em “asa” ou “rosa”), por isso, se estiver entre vogais, a letra S da transliteração é sempre dobrada.
Ao se transliterar a vogal russa Е, não se deve usar a transliteração “IE” mais de uma vez na mesma palavra, sendo preferível que ela seja usada para marcar a sílaba tônica, portanto челове́к seria transliterado como tcheloviék. Excetuam-se os casos em que ocorrem dois E consecutivos, nos quais a norma é invertida por eufonia, por exemplo: Андре́ев seria grafado Andréiev, não Andriéiev ou Andriéev.
Nomes próprios
Nos casos de sobrenomes masculinos com terminação de adjetivo, a transliteração não segue o modelo de adjetivos longos (-ii ou -yi), mas o de adjetivos curtos (-i ou -y). Dessa forma, a transliteração de Достое́вский seria Dostoiévski, e não Dostoiévskii. Essa regra não se aplica aos demais sobrenomes, como os femininos. Além disso, a forma utilizada como base deve estar no nominativo e no singular.
Nomes e sobrenomes estrangeiros em russo são transliterados conforme o original, então Иоганн Гёте seria grafado Johann Goethe. Os demais nomes seguem a forma utilizada em russo. Também não é adequado que seja feita a tradução dos nomes para equivalentes em português, como Jorge por Gueórgui. Os nomes que já possuírem formas consagradas, como Lênin ou Pedro, o Grande, devem ser mantidos na forma tradicional.
Acentuação
A acentuação das palavras transliteradas para o português deve seguir as regras de acentuação da língua de chegada. Uma breve exceção deve ser feita para as oxítonas, que levam acento se a última sílaba tiver uma vogal A, E ou O; do contrário, não precisam de acento.