Da liberdade como benefício e encenada como mágica: uma crítica à tecnologia emancipatória posta em cena pelo movimento abolicionista nos teatros (1880-1888)

Autores

  • Luiz Paulo Pimentel de Souza Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v24i2p162-194

Palavras-chave:

Conferências emancipadoras, História do teatro brasileiro, Movimento abolicionista, Teatro e emancipação, Teatro e escravidão

Resumo

Ao longo da década de 1880, teatros brasileiros se tornaram arena da militância abolicionista. Neles foram realizadas diversas conferências emancipadoras, cujo programa era diversificado: discursos se alternavam com números musicais, cenas teatrais, declamações de versos, entre outras modalidades de manifestação artística e política. Um dos pontos que mais chama atenção nessas conferências é o fato de que ali, em cena, distribuíam-se cartas de alforria para pessoas escravizadas, sendo sua libertação convertida em espetáculo, com tintas de mistério e efeitos catárticos. Neste artigo, analisamos a tecnologia performativa que articulou as práticas teatrais aos ideais de liberdade e cidadania, interrogando sua conexão com a lógica escravista e os mecanismos de tutela da liberdade mesmo após a alforria.

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Biografia do Autor

  • Luiz Paulo Pimentel de Souza, Universidade de São Paulo

    Doutor em Teoria e Prática do Teatro pelo PPGAC/ECA/USP sob orientação da professora Silvia Fernandes da Silva Telesi e do professor Christian Fernando Ribeiro Guimarães. Projeto fomentado pela CAPES. Ator, dramaturgo, roteirista e pesquisador em Artes Cênicas, atualmente vinculado como pós-doutorando ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo.

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Publicado

2025-08-11

Edição

Seção

DOSSIÊ: TEATRO BRASILEIRO COMO PROBLEMA HISTÓRICO, O BRASIL COMO PROBLEMA NO TEATRO

Como Citar

Souza, L. P. P. de. (2025). Da liberdade como benefício e encenada como mágica: uma crítica à tecnologia emancipatória posta em cena pelo movimento abolicionista nos teatros (1880-1888). Sala Preta, 24(2), 162-194. https://doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v24i2p162-194