Da liberdade como benefício e encenada como mágica: uma crítica à tecnologia emancipatória posta em cena pelo movimento abolicionista nos teatros (1880-1888)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v24i2p162-194Palavras-chave:
Conferências emancipadoras, História do teatro brasileiro, Movimento abolicionista, Teatro e emancipação, Teatro e escravidãoResumo
Ao longo da década de 1880, teatros brasileiros se tornaram arena da militância abolicionista. Neles foram realizadas diversas conferências emancipadoras, cujo programa era diversificado: discursos se alternavam com números musicais, cenas teatrais, declamações de versos, entre outras modalidades de manifestação artística e política. Um dos pontos que mais chama atenção nessas conferências é o fato de que ali, em cena, distribuíam-se cartas de alforria para pessoas escravizadas, sendo sua libertação convertida em espetáculo, com tintas de mistério e efeitos catárticos. Neste artigo, analisamos a tecnologia performativa que articulou as práticas teatrais aos ideais de liberdade e cidadania, interrogando sua conexão com a lógica escravista e os mecanismos de tutela da liberdade mesmo após a alforria.
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