Por um “teatro decente”: transformações do trabalho teatral na capital do vice-reino do Brasil-Rio de Janeiro (1808-1822)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v24i2p129-161Palavras-chave:
Trabalho teatral, Rio de Janeiro, Casa da Ópera, Real Teatro São João, Artistas negros, LunduResumo
O trabalho investiga o processo de mudança dos modos de organização do trabalho teatral no Rio de Janeiro, disparado pela vinda da família real portuguesa, em 1808. Até então, a única casa de espetáculos existente na capital do vice-reino, a Casa da Ópera de Manoel Luiz Ferreira seguia padrões de arquitetura, repertório, cenários, indumentárias e formas de organização dos teatros públicos portugueses setecentistas, mas com uma característica peculiar: a maior parte dos seus artistas eram luso-brasileiros, negros e mestiços, livres e escravizados. Tal realidade singular, que favoreceu o surgimento nos palcos do lundu, muda gradualmente com a vinda da corte dos Bragança para o Rio de Janeiro, em que há a ordenação para a construção do Real Teatro São João, o “teatro decente”, nas palavras do próprio príncipe regente D. João, em 1813, e com favorecimento para a contratação de atores e atrizes europeus. Ao explorar essa mudança em curso nas formas de trabalho teatral, a pesquisa busca constituir a cena colonial até a chegada da família real, em 1808, interrogar sobre o paradeiro dos artistas locais e buscar vestígios de sua presença na cena oitocentista.
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