Contribuição do laudo médico como prova técnica pericial nas decisões judiciais em casos de cirurgias de pterígio: uma análise da jurisprudência de 1997 a 2022 no estado de São Paulo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2317-2770.v30i1e-238233

Palavras-chave:

Pterígio, Erros Médicos, Responsabilidade Civil, Jurisprudência, Códigos Civis

Resumo

O pterígio é um crescimento fibrovascular subepitelial de forma triangular que avança da conjuntiva sobre a córnea. Em casos avançados, pode causar astigmatismo, irritação ocular, comprometimento visual e exigir remoção cirúrgica. A cirurgia de pterígio, embora seja o tratamento indicado para lesões que ameaçam o eixo visual ou causam sintomas significativos, apresenta risco considerável de recidiva se técnicas adequadas não forem empregadas (podendo haver recidiva em ~50-60% dos casos sem técnica apropriada). Nesse contexto, complicações ou resultados insatisfatórios podem motivar ações judiciais por suposto erro médico. Este estudo analisa a influência da prova técnica pericial nas decisões judiciais desses casos. Foi realizada uma pesquisa de jurisprudência no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) abrangendo de 1997 a 2022, identificando 34 acórdãos relativos exclusivamente a cirurgias de pterígio. Em todos os processos houve determinação de perícia médica judicial para esclarecimento dos fatos controvertidos. Os resultados revelam alto grau de alinhamento entre as conclusões periciais e o desfecho das sentenças: observou-se concordância em 88% dos casos analisados, evidenciando que, na grande maioria, os juízes decidiram de acordo com o laudo pericial. Em 100% dos casos em que a perícia constatou desvio técnico (falha médica), houve condenação do responsável, confirmando o peso determinante do parecer técnico quando este identifica erro. Por outro lado, em 12% dos casos totais (4 processos), registrou-se divergência: apesar de o perito não ter apontado erro na conduta médica, o julgamento resultou na condenação do profissional ou da instituição de saúde. Não foi encontrado nenhum caso em que o laudo pericial indicou erro médico e, ainda assim, o réu foi absolvido. Conclusão: A prova técnica pericial mostra-se um elemento essencial para o esclarecimento de alegações de erro em cirurgias de pterígio, contribuindo decisivamente para a formação do convencimento judicial. A forte correlação entre laudos e vereditos confirma que os magistrados, em regra, se apoiam nas conclusões dos peritos para decidir. Entretanto, as condenações ocorridas mesmo sem constatação pericial de falha sugerem que outros fatores jurídico-probatórios podem influenciar o desfecho – tais como teorias de responsabilidade civil (objetiva vs. subjetiva), violação do dever de informação ao paciente ou a aplicação do princípio do livre convencimento motivado do juiz. Em suma, este estudo ressalta a importância da integração entre Medicina Legal e Direito: a atuação qualificada dos peritos médicos oferece subsídios técnicos imprescindíveis à Justiça, mas a decisão final pode envolver elementos extras aos dados científicos puros. Recomenda-se atenção a esses casos de divergência, e reflexão sobre critérios de valoração da prova pericial e das demais provas, visando fortalecer a segurança jurídica e a equidade nas decisões.

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Publicado

2025-07-01

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Seção

Artigo

Como Citar

1.
Rodrigues VA, Schmidt GF de C, Marques MB, Muñoz D, Sá EC. Contribuição do laudo médico como prova técnica pericial nas decisões judiciais em casos de cirurgias de pterígio: uma análise da jurisprudência de 1997 a 2022 no estado de São Paulo. Saúde ética justiça [Internet]. 1º de julho de 2025 [citado 27º de dezembro de 2025];30(1):e-238233 . Disponível em: https://revistas.usp.br/sej/article/view/238233