Liminaridades do saber-fazer na produção cotidiana dos espaços opacos

Resumo

Ao lançar luz sobre as formas hegemônicas de produção do espaço e ao obscurecer as táticas espaciais opacas, gestadas nas periferias urbanas, os discursos e as práticas urbanísticas reforçam o privilégio simbólico e material conferido à racionalidade tecnocientífica moderna. Nessa perspectiva, as práticas originadas fora desse domínio são tidas como precárias e os não especialistas são vistos como leigos, detentores de saberes considerados hierarquicamente inferiores. Este trabalho busca, com base em uma perspectiva liminar, tensionar dialeticamente as diferentes maneiras de saber-fazer dos especialistas — conhecedores das normas urbanísticas e dos métodos convencionais de projeto — e também dos não especialistas, que constroem cotidianamente seus espaços de vida, de forma gradual e com seus próprios recursos. Essa reflexão materializa-se em uma investigação exploratória sobre o potencial da gambiarra como ação tática, capaz de desestabilizar a separação entre o ato de projetar e o ato de construir, indicando nexos mais horizontais entre o saber e o fazer, e atuando como uma insubordinação horizontal à racionalidade do projeto urbano hegemônico. Como resultado, buscamos vislumbrar nas táticas cotidianas subalternizadas possibilidades de dissolução das fronteiras epistêmicas impostas pela teoria e práxis dominantes no campo da arquitetura e do urbanismo, desafiando o entendimento do projeto como algo acabado e imposto de cima para baixo.