Pela conservação das marcas da dor

Autores

  • Vitor Cavalcanti Garcia Universidade Federal de Goiás
  • Eline Maria Mora Pereira Caixeta Universidade Federal de Goiás

Palavras-chave:

Patrimônio arquitetônico, Desastres, Intervenção, Memória, Esquecimento

Resumo

Este artigo aborda o tema das intervenções em patrimônios arquitetônicos avariados por desastres. Observamos em casos recentes um pensamento hegemônico de maior valorização dos aspectos estético-materiais destas obras que resultou na reconstrução das edificações a um estado anterior ao incidente, eliminando as marcas dos sismos. Nosso objetivo é rediscutir esse modo de preservação por uma perspectiva contra-hegemônica, isto é, defender uma abordagem interventiva que conserve essas marcas. Para tanto, a metodologia adotada envolveu o estudo de dois recentes casos de intervenção em edificações danificadas por calamidades, o do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, Brasil, e o da Catedral de Notre-Dame, em Paris, França, e uma revisão bibliográfica sistemática e transdisciplinar sobre a concepção de memória. Desse estudo, concluímos que os sinais dos desastres são marcas da dor capazes de reavivar a memória da dor provocada pelos desfortúnios. Sem elas, perdemos a fonte de rememoração do acontecido. A ausência de memória tem como consequência o esquecimento, que, por sua vez, desperta a ameaça da repetição do fato deslembrado. Portanto, vemos nas marcas incrustadas no patrimônio arquitetônico um caminho para não olvidarmos desses infortúnios e, assim, constituir meios para não se repetirem. Por isso, sustentamos que intervenções dessa natureza as conservem.

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Biografia do Autor

  • Vitor Cavalcanti Garcia, Universidade Federal de Goiás

    é Arquiteto e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Projeto e Cidade da Universidade Federal de Goiás (UFG). Estuda intervenções no patrimônio cultural arquitetônico.

  • Eline Maria Mora Pereira Caixeta, Universidade Federal de Goiás

    é Arquiteta e Doutora em História da Arquitetura e da Cidade. É Professora Associada da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do Programa de Pós-Graduação em Projeto e Cidade da mesma instituição, onde coordena pesquisas sobre História da Arquitetura e do Urbanismo Modernos, cultura arquitetônica e suas relações com o projeto, a construção e a apropriação do espaço edificado e urbano (séculos XIX, XX e XXI), arquitetura brasileira, patrimônio histórico e cultural, paisagem e morfologia urbana.

Publicado

23-12-2022

Como Citar

Garcia, V. C., & Caixeta, E. M. M. P. (2022). Pela conservação das marcas da dor. Revista V!RUS, 1(24), 207-216. https://revistas.usp.br/virus/article/view/229116