Bando que se lançou a respeito dos Índios Jucás: edição e contribuição ao estudo da colonização do Ceará
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v17i2p353-384Palavras-chave:
Toponímia, Colonização, CearáResumo
Neste estudo, apresentamos uma edição semidiplomática de um bando que Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca, capitão-mor do Ceará, lançou em 28 de setembro de 1767, pelo qual anunciou que a aldeia do Jucá, onde os índios jucás foram reduzidos em 1727, passasse a se chamar lugar de Arneiroz, hoje município. Nele, o autor coloca que a mudança decorreu de uma política pela qual as vilas e lugares novos não deviam ter “nomes bárbaros”, ou seja, de origem indígena, mas nomes das vilas e lugares do “reino”, ou seja, de Portugal. A partir das referências ao contexto histórico que o próprio texto encerra, empreendemos, então, uma pesquisa com o intuito de responder, ou ao menos discutir, a duas perguntas: qual é a origem desta política e como foi executada, especialmente na capitania do Ceará? Expusemos o que pudemos apurar em três seções além das considerações iniciais e da edição do documento: considerações codicológicas, diplomáticas e textuais, que além de informarem sobre o estado e a localização do documento, são relevantes por o gênero textual, o bando, estar obsoleto; e considerações históricas, nas quais procuramos esmiuçar as referências ao contexto histórico contidas no próprio texto, como subsídio para as respostas às perguntas norteadoras. Nas considerações finais, evidenciamos que compartilhamos do entendimento de que nomear um lugar não é simplesmente referenciar o espaço, mas é um ato político, imbuído de poder e cultura, atravessado por ideologia(s), que no caso estudado perfez o espólio do mundo indígena, que começou pela religião.Downloads
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