Descolonizar o pensamento museológico: reintegrando a matéria para re-pensar os museus
DOI:
https://doi.org/10.1590/1982-02672020v28e1Palavras-chave:
Museologia, Museus, Descolonização, Matéria, MaterializaçãoResumo
O artigo apresenta uma reflexão com bases teóricas sobre as estruturas coloniais dos museus, considerando historicamente o desenvolvimento dessas instituições no Brasil desde a criação do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1818. Propõe a descolonização do pensamento museológico por meio do reconhecimento crítico de suas bases no Iluminismo e na reiteração material do sujeito racional como sujeito ontológico herdado desde o cogito cartesiano. Abordando a crítica decolonial, identifica na separação entre sujeito e objeto e entre pensamento e matéria – estruturantes do pensamento filosófico ocidental – o principal traço do colonialismo nos regimes museais e patrimoniais. Entendendo os museus como dispositivos de “materialização”, segundo o conceito de Judith Butler, o artigo propõe a reintegração da matéria ao pensamento na teoria museológica como caminho para re-pensar as práticas museais em regimes pós-coloniais.
Downloads
Referências
LIVROS, ARTIGOS E TESES
AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? Outra travessia, Ilha de Santa Catarina, n. 5, p. 9-16, 2005.
ALMEIDA, Cícero Antônio F. de. Museologias possíveis: “a novidade do Brasil não é só litoral”. Musas, v. 2, p. 178 187, Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), 2006.
ASAD, Talal. Anthropology and the Colonial Encounter. Nova York: Humanities, 1973.
BALANDIER, Georges. La situation coloniale : approche théorique. Cahiers internationaux de sociologie [online], v. 11, pp. 44-79, 1951. Paris: Les Presses universitaires de France. Disponível em: <http://classiques.uqac.ca/>. Acesso em: 10 jan. 2012.
BRULON, Bruno. Provocando a Museologia: o pensamento geminal de Zbyněk Z. Stránsky. Anais do Museu Paulista, v. 25, n. 1, p. 403-425, 2017.
BUTLER, Judith. Bodies that matter. On the discursive limits of “sex”. Nova York; Londres: Routledge, 1993.
DESVALLÉES, André; DE BARRY, Marie Odile; WASSERMAN, Françoise (coords.). Vagues: une anthologie de la Nouvelle Muséologie. 2v. Collection Museologia. Savigny-le-Temple: W-M.N.E.S., 1992.
DUSSEL, Enrique. The invention of the Americas. Eclipse of the “Other” and the Myth of Modernity. Nova York: Continuum, 1995.
FOUCAULT, Michel. Surveiller et punir. Paris: Gallimard, 2016 [1975].
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2007 [1966].
GAY, Peter. The naked heart. The bourgeois experience: Victoria to Freud. Volume IV. Nova York: Norton, 1996.
GREGOROVÁ, Anna. In: MUWOP: Museological Working Papers/DOTRAM: Documents de Travail en Muséologie. Museology – Science or just practical museum work? Stockholm: ICOM, International Committee for Museology/ICOFOM; Museum of National Antiquities, v. 1, p. 19-21, 1980.
GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 1, p. 25-49, 2016.
GRUZINSKI, Serge. El pensamiento mestizo. Cultura amerindia y civilización del Renacimiento (2ª ed.). Barcelona: Paidós, 2007.
HARAWAY, Donna. Situated Knowledges: The Science Question in Feminism and the Privilege of Partial Perspective. Feminist Studies, v. 14, n. 3, p. 575-599, 1988.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica. Os museus e as ciências naturais do século XIX. Brasília: UnB; São Paulo: Hucitec, 2009 [1997].
MARINS, Paulo César Garcez. Nas matas com pose de reis: a representação de bandeirantes e a tradição da retratística monárquica européia. Revista do IEB, n. 44, p. 77-104, fev. 2007.
MIGNOLO, Walter D. Delinking. The rhetoric of modernity, the logic of coloniality and the grammar of de-coloniality. Cultural Studies, n. 21(2-3), p. 449-514, 2007.
MORENO, Luis Gerardo Morales. Museología subalterna (sobre las ruinas de Moctezuma II). Revista de Indias, v. LXXII, n. 254, p. 213-238, 2012.
MORIN, Edgar. O Methodo: 1 – A Natureza da Natureza. Mira-Sintra: Europa-América, 1977.
NASCIMENTO, Fátima Regina. A formação da coleção de indústria humana no Museu Nacional, século XIX. 2009. Tese (doutorado em Antropologia Social) – Programa de PósGraduação em Antropologia Social – PPGAS. Museu Nacional – UFRJ. Rio de Janeiro, 2009.
OLIVEIRA, João Pacheco de. O retrato de um menino bororo: narrativas sobre o destino dos índios e o horizonte político dos museus. Séculos XIX e XXI. Musas – Revista Brasileira de Museus e Museologia, n. 5, p. 36-59, 2011.
OLIVEIRA, João Pacheco de; SANTOS, Rita de Cássia Melo. Descolonizando a ilusão museal – etnografia de uma proposta expositiva. In: LIMA FILHO, Manuel; ABREU, Regina; ATHIAS, Renato (Orgs.). Museus e atores sociais: perspectivas antropológicas. Recife: UFPE/ABA, 2016, p. 17-55.
PEARCE, Susan. The collecting process and the founding of museums in the sixteenth, seventeenth and eighteenth centuries. In: PETTERSSON, Susanna; HAGEDORN-SAUPE, Monika; JYRKKIÖ, Teijamari; WEIJ, Astrid (eds.). Encouraging collections mobility. A way forward for museums in Europe. Kaivokatu: Finnish National Gallery, 2010, p. 12-32.
POMIAN, Krzysztof. Musée et patrimoine. In: JEUDY, Henri Pierre. (dir.) Patrimoines en folie. Paris: Éd. De la Maison des sciences de l’homme, 1990. p. 177-198.
POULOT, Dominique. Musée et muséologie. Paris: La Découverte, 2009.
QUIJANO, Aníbal. Coloniality of Power, Eurocentrism and Latin America. Nepantla: Views from South, n. 1, v. 3, p. 533-580, 2000.
ROCA, Andrea. Acerca dos processos de indigenização dos museus: uma análise comparativa. Mana, v. 21 n. 1, p. 123-155, 2015. Disponível em: <https://bit.ly/2D3ltly>. Acesso em: 5 ago. 2019.
RÚSSIO, Waldisa. In: MUWOP: Museological Working Papers/DOTRAM: Documents de Travail en Muséologie. Interdisciplinarity in Museology. Stockholm: ICOM, International Committee for Museology/ICOFOM/Museum of National Antiquities, v. 2, p. 56-57, 1981.
RÚSSIO, Waldisa. Existe um passado museológico brasileiro? O Estado de S. Paulo, Suplemento Cultural, Ano III, n. 143, 29 jul. 1979, p. 6-8.
SANJAD, Nelson. A “simpatia do povo” pelo Museu Paraense: raízes históricas. Musas, n. 2, Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), p. 171-174, 2006.
SCHAER, Roland. L’invention des musées. Paris: Gallimard; Réunion des musées nationaux, 2007.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil. 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
SEYFERTH, Giralda. A invenção da raça e o poder discricionário dos estereótipos. Anuário Antropológico, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, n. 93, p. 175-203, 1995.
SODRÉ, Muniz. Pensar Nagô. Petrópolis: Vozes, 2017.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: UFMG, 2010.
TORNATORE, Jean-Louis; PAUL, Sébastien. Publics ou populations? La démocratie culturelle en question, de l'utopie écomuséale aux «espaces intermédiaires». In: DONNAT, Olivier; TOLILA, Paul (dir.). Le(s) publie(s) de la culture. Politiques publiques et équipements culturels. Paris, Presses de Sciences Po, vol. II (CD-ROM), p. 299-308, 2003.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).