Objetos mundanos e ofícios banais: desabilidade dos gestos e genealogia da exclusão moderna
DOI:
https://doi.org/10.11606/1982-02672025v33e15Palavras-chave:
Arqueologia do Mundo Moderno, Estudos de cultura material, Estudos de materialidade, História de Minas Gerais, Artífices e artesãos, Panelas de pedra-sabãoResumo
Através dos conceitos de materialidade, objetos mundanos e ofícios banais propomos uma reflexão sobre o potencial da arqueologia e dos estudos de cultura material na percepção de genealogias da exclusão moderna. Utilizaremos, para tal, nossas etnografias desenvolvidas com artesãos que confeccionam panelas de pedra-sabão na região de Ouro Preto e Mariana (Minas Gerais), enfatizando ser este um ofício indisciplinado e percebendo as sociabilidades das quais participam artesãos e artefatos que, no caso em questão, é marcado por um abandono ontológico. A partir da materialidade e do processo de constituição mútua que caracterizam as relações coletivas, portanto também sociais, foi possível perceber estigmas das atividades manuais e da desabilidade dos gestos que contribuem com a invisibilidade ou marginalização de seres humanos (artesãos) e materiais (panelas de pedra) desde o período colonial brasileiro até os dias de hoje. Atualmente, esse processo se manifesta na maneira como os museus tratam e expõem os artefatos e as panelas de pedra-sabão, além de questões políticas e de legislação que afetam as comunidades de artesãos.
Downloads
Referências
AGOSTINI, Camilla. Dinâmica de fronteiras entre comunidades escravas e de Lavradores Livres. Revista Habitus. Goiânia, v. 8, n. 1/2, p. 7-57, 2010.
BEAUDRY, Mary. Words for things: linguistic analysis of probate inventories. Documentary archaeology in the New World. Cambridge: Cambridge University Press, 1988. p. 43-50.
BEZERRA, Olívia Maria de A. Condições de vida, produção e saúde em uma comunidade de mineiros e artesãos em pedra-sabão em Ouro Preto, Minas Gerais: uma abordagem a partir da ocorrência de pneumoconioses. 2002. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Belo Horizonte. 2002.
BLUTEAU, Raphael. Vocabulário Portuguez & Latino, áulico, anatômico, architectonico. Coimbra. Disponível em . Acesso em: 1 dez. 2017.
BORGES, Maria Eliza Linhares. Cultura dos ofícios: patrimônio cultural, história e memória. Varia História, Belo Horizonte, v. 27, n. 46: p. 481-508, 2011.
BOSCHI, Caio. O Barroco Mineiro: artes e trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1988.
CASTILHOS, Zuleica et al. Trabalho familiar no artesanato de Pedra-sabão – Ouro Preto, Brasil. In: CASTILHOS, Zuleica C.; LIMA, Maria Helena Rocha; CASTRO, Núria F. (Orgs.). Gênero e trabalho infantil na pequena mineração: Brasil, Peru, Argentina e Bolívia. Rio de Janeiro: CETEM/CNPQ, 2006.
CASTRO, Hebe M. Mattos de. Das cores do silêncio: os significados da liberdade no sudeste escravista – Brasil, século XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995.
CHUVA, Márcia. Por uma história da noção de patrimônio cultural no Brasil. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, [s. l.], n. 34, p. 147-165, 2012.
CROSS, Morag. Accessing the inaccessible: disability and archaeology. In: INSOLL, Timothy (Ed.). The Archaeology of identities: a reader. Londres: Routledge, 2007. p. 179-194.
LOPES DIAS, Victória. Sobre pessoas, pedras e formigas: relações simbiopoéticas na escultura de pedrasabão mineira. 2023. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Belo Horizonte, 2023.
LOPES DIAS, Victória. Panela de pedra-sabão mineira: estudo de um bem cultural pela perspectiva interdisciplinar do design. 2018.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Design. Belo Horizonte, 2018.
LOPES DIAS, Victória. O pré-design nas panelas de pedra-sabão de Minas Gerais. In: BRAGA, Marcos; ALMEIDA, Marcelina; DIAS, Maria Regina (Orgs). Histórias do Design em Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora UEMG, 2017.
FAGAN, Brian. M. Southern Africa during the iron age. London: Thames and Hudson Press, 1965.
FAGAN, Brian. M. As bacias do Zambeze e do Limpopo, entre 1100 e 1500. In: NIANE, Djibril Tamsir (Coord.). História Geral da África: Vol. IV: A África do século XII ao século XVI. São Paulo: Ática, 1988.
FERREIRA, Lúcio M. Essas coisas não lhes pertencem: Relações entre legislação arqueológica, cultura material e comunidades. Revista de Arqueologia Pública, Campinas, n. 7, p. 87-106, 2013.
GARRAFFONI, Renata Senna. Identidades, discurso e poder: Estudos de Arqueologia Contemporânea. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 15-16, p. 435-437, 2006.
GELL, Alfred. Art and Agency: An Anthropological Theory. Oxford: Clarendon Press, 1998.
GUEDES, Roberto. Ofícios mecânicos e mobilidade social: Rio de Janeiro e São Paulo (Sécs. XVII-XIX). TOPOI, [s. l.], v. 7, n. 13, p. 379-423, 2006.
INGOLD, Tim. The perception of environment: Essays in Livelihood, Dwelling and Skill. Londres: Routledge, 2000.
INSOLL, Timothy. The Archaeology of identities: a reader. Londres: Routledge, 2007.
JOHNSON, M. H. Concepções de agência em interpretação arqueológica. Vestígios - Revista Latino-Americana De Arqueologia Histórica, [s. l.], v. 4, n. 2, p. 148-173, 2010.
JONES, Sian. Categorias históricas e a prática da identidade: a interpretação da etnicidade na arqueologia histórica. In: FUNARI, Pedro Paulo; ORSER, Charles; SNDO, Schiavetto (Eds.). Identidades, Discurso e Poder: Estudos da Arqueologia Contemporânea. São Paulo: Annablume, 2005. p. 27-43.
JUNQUEIRA, Paulo A. O grande abrigo Santana do Riacho com sepultamentos em Minas Gerais. 1984. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo, 1984.
KNAPPETT, Carl. Materials with materiality? Archaeological Dialogues, [s. l.], v. 14, n. 1, 2007.
LATOUR, Bruno. Ethnography of a "high-tech" case: about Aramis. In: LEMONNIER, Pierre (Org.). Technological choices: Transformation in material cultures since the Neolithic. Londres: Routledge, 2002.
LATOUR, Bruno. Políticas da natureza: Como fazer ciência na democracia. Bauru: EDUSC, 2004.
LATOUR, Bruno. Technical does not mean material. Journal of Ethnographic Theory, [s. l.], v. 4, n. 1, p. 507-510, 2014.
LEMONNIER, Pierre. Mundane Objetcts: Materiality and Non-verbal Communication. California: Left Coast Press; Walnut Creek, 2012.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Tradução de Maria Celeste da Costa e Souza e Almir de Oliveira Aguiar. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.
MARTINS, Judith. Dicionário de artistas e artífices dos séculos XVIII e XIX em Minas Gerais. Rio de Janeiro: Departamento de Assuntos Culturais, Ministério da Educação e Cultura, 1974.
MELQUÍADES, Vinícius. Pedras artesãs: materialidade, tecnologias e mobilidades das panelas de pedra-sabão em Minas Gerais. 2017.
Tese (Doutorado em Arqueologia) - Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
MELQUÍADES, Vinícius. Os artesãos da pedra: arqueologia e museologia das vasilhas de pedra-sabão em Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em Arqueologia). Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
MENESES, José N. C. Artes fabris e ofícios banais: o controle dos ofícios mecânicos nas Câmaras de Lisboa e das Vilas de Minas Gerais (1750-1808). Belo Horizonte: Fino traço, 2013.
MENESES, José N. C. Homens que não mineram: Oficiais mecânicos nas Minas Gerais Setecentistas. In: RESENDE, Maria Efigênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos (Orgs.). História de Minas Gerais: as minas setecentistas. v. 1. Belo Horizonte: Autêntica; Companhia do Tempo, 2007a.
MENESES, José N. C. A aprendizagem na oficina, entre a lei e a tradição: As câmaras e a preocupação com a aprendizagem dos ofícios mecânicos nas vilas mineiras. In: CONGRESSO DE PESQUISA E ENSINO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM MINAS GERAIS, 4., 2007, Juiz de Fora. Anais […]. Juiz de Fora, 2007b.
MESKELL, Lynn. Archaeology of identities. In: INSOLL, Timothy (Ed.). The Archaeology of identities: a reader. Londres: Routledge, 2007. p. 23-43.
MESKELL, Lynn. Archaeologies of Materiality. Malden (MA): Blackwell, 2005.
MESKELL, Lynn. The intersections of identity and politics. Archaeology Annual Review of Anthropology, [s. l.], v. 31, p. 279-301, 2002.
NATAL, Caion Meneguello. Ouro Preto e as primeiras representações da cidade histórica. Urbana - Revista Eletrônica do Centro Interdisciplinar de Estudos da Cidade, [s. l.], v. 1, p. 1-25, 2006.
NORMAK, Johan. The Roads In-Between. Causeways and Polyagentive Networks at Ichmul and Yo’okop, Cochuah Region, Mexico. Department of Archaeology and Ancient History, Göteborg University: Sweden, 2006.
PEREIRA, Fabrício Luiz. Ofícios necessários para a vida humana: a inserção social dos oficiais da construção em Mariana e seu termo (1730 – 1808). 2014. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Departamento de História. Programa de Pós-Graduação em História, Ouro Preto, 2014.
PHILLIPS, Tom. Africa: The Art of a Continent. Munique: Londres: Nova York: Prestel, 1999.
PREFEITURA MUNICIPAL DE MARIANA. Registro do Bem Imaterial. Ouro Preto, 2014.
PROUS, André; MALTA, I. M. (Coord.). Santana do Riacho – Tomo I. Arquivo do Museu de História Natural UFMG. Belo Horizonte. Vol. XII, 1991.
RIOS, Wilson de O. A lei e o estilo: a inserção dos ofícios mecânicos na sociedade colonial brasileira. Salvador e Vila Rica (1690-1790).
Tese (Doutorado) - Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Niterói, 2000.
SILVA, Fabiano Gomes da. Viver honradamente de ofícios: trabalhadores manuais livres, garantias e rendeiros em Mariana (1709-1750). Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em História, 2017.
SILVA, Fabiano Gomes da. Pedra e Cal: os construtores de Vila Rica no século XVIII (1730-1800). 2007. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Belo Horizonte, 2007.
SILVA, Fabiano Gomes da. O caminho das pedras: canteiros de Vila Rica no século XVIII, a partir de inventários post-mortem e testamentos. In: SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFOP, 11., 2003, Ouro Preto. Seminário […]. Ouro Preto: UFOP, 2003.
SILVA, Fabíola. A etnoarqueologia na Amazônia: contribuições e perspectivas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Belém, 2009.
SILVA FILHO, Geraldo. O oficialato mecânico em Vila Rica no século XVIII e a participação do escravo e do negro. 1996. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras, Ciência Social, São Paulo, 1996.
TILLEY, Christopher. Materiality in materials. Archaeological Dialogues, Cambridge, v. 14, p. 16-20, 2007.
THOMAS, Julian. Archaeology’s humanism and the materiality of the body. In: INSOLL, Timothy (Ed.). The Archaeology of identities: a reader. Londres: Routledge, 2007. p. 211-224.
VON BURGUER, Oskar. Estudos sobre “pedras de sabão” de Minas Geraes. Boletim do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, [s. l.], v. 3, p. 519-548, 1927.
WILKIE, Laurie A. Documentary archaeology. In: HICKS, Dan; BREAUDRY, Mary (Ed.). The Cambridge Companion to Historical Archaeology. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. p. 13-33.
WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Sonhos africanos, vivências ladinas – escravos e forros no município de São Paulo (1850-1880). São Paulo: Hucitec, 1998.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Vinícius Melquíades, Victória Carolina Pinheiro Lopes Dias

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).