Relatos de campanha: a expansão colonial portuguesa sobre os quilombos do Alto São Francisco e Alto Paranaíba no século XVIII
DOI:
https://doi.org/10.1590/1982-02672021v29d1e24Palavras-chave:
Quilombos, Expansão territorial portuguesa no século XVIII, Povoamento do Triângulo Mineiro, Alto São Francisco e Paranaíba, Sertão do Campo Grande, Cartografia históricaResumo
Abrigando um expressivo número de quilombos ao longo do século XVIII, a zona entre os rios Grande, São Francisco e Paranaíba era conhecida como sertão do Campo Grande, tendo em seu entorno importantes núcleos de exploração mineradora e agropecuária das capitanias de Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Com o objetivo de dilatar seus domínios, o Estado português organizou campanhas militares para conquistar esse planalto fértil habitado por quilombolas e ameríndios inimigos. Neste artigo abordamos a expedição liderada por Ignacio Correya Pamplona em 1769, analisando as estratégias usadas por essa campanha para a expansão territorial luso-americana por meio do combate aos quilombolas e da apropriação de suas terras. Para isso, examinamos um conjunto de documentos produzidos pelos próprios expedicionários que conta com relatos escritos, desenhos do interior de quilombos e um mapa da região explorada. Na análise documental e na tradução do mapa sertanista para a cartografia recente, verificamos que os quilombos destruídos (que possuíam roças, pilões, manufaturas e diversificadas organizações sociopolíticas) foram usados como base para o estabelecimento da estrutura colonial luso-americana, por meio da instalação de estradas, ranchos para descanso e abastecimento de tropas, demarcação de fazendas e povoados destinados aos súditos da coroa Bragança. O estudo desse episódio da guerra entre quilombolas e luso-americanos revela que, involuntariamente, tais quilombos foram elementos pioneiros na formação da malha territorial nessa região que atualmente integra o Triângulo Mineiro.
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