Lundu Imperfeito: o poema-canção Uma Orquestra de Luiz Gama
DOI :
https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i31p228-243Mots-clés :
Luiz Gama, Poesia brasileira, Lundu, Poema-canção, Engajamento literárioRésumé
Fundamentado na vida e obra do advogado, jornalista e poeta Luiz Gama (1830-1882), homem negro, escravizado na juventude, que transitou espaços institucionais do Brasil Imperial, e nas origens do lundu como amálgama de concepções estéticas europeias e afro-brasileiras, o presente artigo explora a composição temática, formal e ideológica de “Uma orquestra”, poema-canção integrante do volume Primeiras trovas burlescas de Getulino (1859). Trata-se de uma composição conciliadora do duplo entrelugar (SANTIAGO, 2000) habitado tanto por seu autor, quanto pelo seu gênero musical-literário, dos quais expressa o temperamento engajado nos embates, contradições, resistências e assimilações historicamente presentes na arte e na sociedade brasileira. Por intermédio de pesquisas históricas sobre a elaboração e a performance do lundu, de José Ramos Tinhorão (2013) e Edilson Vicente de Lima (2010), e o conceito de sujeito lírico abrangente, que excede o texto literário, de Dominique Combe (2010), “Uma orquestra” afigura-se uma manifestação do alcance e do valor do lundu – em sua versão desprezada e compelida à marginalidade no século XIX – e que encontrou em Luiz Gama o vate que não apenas o registrou literariamente, mas o reputou relevante e belo em sua suposta imperfeição, afirmando-o como componente idealizado de um engajamento romântico.
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