A cultura ensaística entre a fabulação e o ensaísmo acadêmico: uma leitura

Autores

  • Christian Fernando Ribeiro Guimarães Vinci Universidade do Estado de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248243164por

Palavras-chave:

Ensaio, Pesquisa acadêmica, Fabulação, Poética

Resumo

Este ensaio almeja pensar os elementos constitutivos da cultura ensaística surgida nos séculos XVI e XVII, e de que maneira essa cultura vem sendo recuperada nos meios universitários contemporâneos. Apropriada tanto pelos adeptos de um ensaísmo acadêmico — autores interessados em combater a sanha produtivista que tomou de assalto a pesquisa acadêmica — quanto pela produção educacional inspirada no pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari, interessada em erigir uma poética do pesquisar de tom mais fabulatório. O ensaio seguirá o seguinte excurso argumentativo: em primeiro lugar, apresentaremos a emergência de uma cultura ensaística na Europa ao longo dos séculos XVI e XVII, atentando para o fato de que o ensaio não surge apenas da pena de um ou outro renomado autor — Michel de Montaigne ou Francis Bacon; antes, configura-se como um modo de pensamento preocupado em apreender e experienciar a crise de consciência europeia de uma maneira distinta daquela buscada pelo racionalismo. Em seguida, procuraremos compreender como essa cultura ensaística resgata certa ideia de fabulação que, de algum modo, ressoará no pensamento de Gilles Deleuze como uma crença no mundo; por fim, finalizaremos com alguns breves apontamentos sobre como essa cultura ensaística ressoa nas discussões promovidas tanto pelos adeptos do ensaísmo acadêmico, em sua luta contra o produtivismo, quanto pela produção educacional deleuziana e deleuzo-guattariana recente.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ALBETINO, Orlando Lopes. O ensaio como tese, a tese como tese, a tese como ensaio: prolegômenos a uma prática ensaística. In: SEMINÁRIO ESPECIFICIDADES DA POESIA, DA LITERATURA E DO POEMA, 2011, Vitória. Anais […]. Vitória: UFES, 2011. p. 1-52.

ARCINIEGAS, Germán. Nossa América é um ensaio. In: PIRES, Paulo Roberto (org.). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia Serrote. São Paulo: IMS, 2018. p. 128-142.

BARRENTO, João. O gênero intranquilo: anatomia do ensaio e do fragmento. Lisboa: Assírio & Alvim, 2010.

BAUMGARTEN, Alexander Gottlieb. Estética: e outros ensaios. Petrópolis: Vozes, 1993.

BENSE, Max. O ensaio e sua prosa. In: PIRES, Paulo Roberto (org.). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia Serrote. São Paulo: IMS, 2018. p. 111-124.

BENSE, Max. Pequena estética. São Paulo: Perspectiva, 2003.

BIRCHAL, Telma de Souza. O eu nos Ensaios de Montaigne. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

BONEFANT, Joseph. O pensamento inacabado do ensaio. Língua e Literatura, São Paulo, n. 17, p. 59-64, 1989.

CALLAI, Cristiana; RIBETTO, Anelice (org.). Uma escrita acadêmica outra: ensaios, experiências e invenções. Rio de Janeiro: Lamparina, 2016.

COMPAGNON, Antoine. Uma temporada com Montaigne. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015.

CORRAZA, Sandra Mara. Artistagens: filosofia da diferença e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

CORRAZA, Sandra Mara. O que se transcria em educação? Porto Alegre: Doisa, 2013.

COSTA, Luciano Bedin da; COSTA, Cristiano Bedin da. Short scenes: a escrita acadêmica como combate. Revista Polis e Psique, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 171-186, 2019.

DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. Tradução Eloisa de Araújo Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 2007. (Cinema; v. 2).

DELEUZE, Gilles. Nietzsche e a filosofia. Rio de Janeiro: Rio, 1976.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? São Paulo: Ed. 34, 1992.

DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. Lisboa: Relógio D’Água, 2004.

DESCARTES, René. Meditações metafísicas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

FEBVRE, Lucien. O problema da incredulidade no século XVI: a religião de Rabelais. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

FREIRE, Raúl Rodríguez. La forma como ensayo: crítica ficción teoría. Buenos Aires: La Cebra, 2020.

GODOY, Ana. Uma escrita para um combate incerto. In: AMORIM, Antônio Carlos; MARQUES, Davina; DIAS, Susana Oliveira (org.). Conexões: Deleuze e vida e fabulações, e… Petrópolis: DP et Alii, 2011. p. 37-48.

HAZARD, Paul. A crise de consciência europeia: 1680-1715. Rio de Janeiro: UFRJ, 2015.

HUME, David. A arte de escrever ensaio. São Paulo: Iluminuras, 2011

LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc. A exigência fragmentária. Revista Terceira Margem, Rio de Janeiro, v. 10, n. 15, p. 67-94, 2004.

LARROSA, Jorge. O ensaio e a escrita acadêmica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 28, n. 2, p. 101-115, 2003.

LINHARES, Célia. Prefácio. In: CALLAI, Cristiana; RIBETTO, Anelice (org.). Uma escrita acadêmica outra: ensaios, experiências e invenções. Rio de Janeiro: Lamparina, 2016. p. 7-11.

LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultura, 1988.

MARTIN, Jean-Clet. Le siècle deleuzien. Paris: Kimé, 2016.

MONTAIGNE, Michel de. Os ensaios: livro I. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

MONTAIGNE, Michel de. Os ensaios: livro III. São Paulo: Martins fontes, 2009.

PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

PELLEJERO, Eduardo. Literatura e fabulação: Deleuze e a política da expressão. Polymatheia, Fortaleza, v. 4, n. 5, p. 61-78, 2008.

RIBETTO, Anelice. Experiência, experimentação e restos na escrita acadêmica. In: CALLAI, Cristiana; RIBETTO, Anelice (org.). Uma escrita acadêmica outra: ensaios, experiências e invenções. Rio de Janeiro: Lamparina, 2016. p. 58-67.

RIBEIRO, Cintya Regina. Uma abordagem deleuzo-guattariana sobre a escola e o vitalismo de seus problemas. Educar em Revista, Curitiba, v. 36, p. 1-18, 2020.

RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. O ensaio como tese: estética e narrativa na composição do texto científico. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.

SANTIAGO, Homero. Três notas sobre a relação entre filosofia e forma textual nos ensaios de Bacon. Cadernos Espinosanos, São Paulo, v. 1, n. 17, p. 58-70, 2007.

SARAIVA, Francisco Rodrigues dos Santos. Dicionário latino-português. Rio de Janeiro: Garnier, 2006.

STAROBINSKI, Jean. É possível definir o ensaio? In: PIRES, Paulo Roberto (org.). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia Serrote. São Paulo: IMS, 2018. p. 12-26.

SULLIVAN, John Jeremiah. Essai, essay, ensaio. In: PIRES, Paulo Roberto (org.). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia Serrote. São Paulo: IMS, 2018. p. 28-42.

TODOROV, Tzvetan. Montaigne ou la découverte de l’individu. Paris: Les Ouvres, 2001.

VINCI, Christian Fernando Ribeiro Guimarães; RIBEIRO, Cintya Regina. Experimentações com a pesquisa educacional Deleuze-Guattariana no Brasil. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 43, n. 1, p. 23-44, 2018.

WALKER, Hugh. The English essay and essayists. London: J. M. Dent & Sons, 1915.

WAMPOLE, Christy. A ensaificação de tudo. In: PIRES, Paulo Roberto (org.). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia Serrote. São Paulo: IMS, 2018. p. 242-249.

Downloads

Publicado

2020-05-13

Como Citar

A cultura ensaística entre a fabulação e o ensaísmo acadêmico: uma leitura. (2020). Educação E Pesquisa, 48(contínuo), e243164. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248243164por