Língua, gênero e diversidade: o que tem a semiótica a ver com isso?
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2022.203778Palavras-chave:
Discurso, Gênero, Intolerância, Língua, VeridicçãoResumo
Neste trabalho, objetivamos demostrar como discursos sexistas e sobre a língua são construídos para perpetuar preconceitos de gênero, raça e classe, à medida que o discurso anticientífico é usado para estabelecer a língua normatizada por gramáticas e dicionários como a única correta e aceitável, e performances linguísticas sexistas e intolerantes perpetuam formas de violência contra o corpo feminino (mulheres cis e identidades de gênero LGBTQIA+), e sua consequente exclusão social. Utilizando a visada teórico-metodológica da semiótica discursiva, verificamos a construção figurativa e veridictória do nosso córpus, revelando valores como a negação das transformações da/na língua em uso em artigo jornalístico veiculado na revista Veja em 2001, na Portaria nº 604/21, do Ministério do Turismo, e no Projeto de Lei 948/21, dispositivos legislativos que vetam o uso de linguagem neutra na esfera pública brasileira. Conforme explicitamos como a linguagem sexista inflige a exclusão e violências simbólicas à população que não é exclusivamente masculina, simultaneamente, analisamos o Manual para o uso não sexista da linguagem (2014), publicado pelo Governo do Rio Grande do Sul. Como resultado, apresentamos o que é e como o falante do português pode usar a linguagem não sexista e a linguagem neutra em diferentes situações de interação social.
Downloads
Referências
BRASIL. Decreto nº 8.727, de 28 de abril de 2016. Dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 153, n. 81, p. 1, 29 abr. 2016. Disponível em: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=1&data=29/0 4/2016. Acesso em: 17 out. 2022.
BRASÍLIA. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei (PL) nº1676/99. Dispõe sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da Língua Portuguesa e dá outras providências. Restringe o uso de palavra em Língua Estrangeira ou 'estrangeirismo'. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=17069. Acesso em: 17 out. 2022.
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’. In: LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, p.151-172.
CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1972.
CASTILHO, Ataliba Teixeira de (org.). Gramática do português falado: a ordem. v. I. A ordem. 4. ed. Campinas: Editora da Unicamp/Fapesp, 2002.
COUTINHO, Laerte. [Manual do Minotauro: Muriel]. [S.l.:s.n.], 2022. 1 ilustração. Disponível em: https://laerte.art.br/tag/muriel/. Acesso em: 17 out. 2022.
COUTINHO, Leonardo. Todo mundo fala assim. Veja, São Paulo, n. 1710, p. 70-71, jul. 2001. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3253698/mod_resource/content/1/TODO%20MUNDO%20FALA%20ASSIM.pdf. Acesso em: 17 out. 2022
FIORIN, José Luiz. Operações discursivas do discurso da extrema-direita. Discurso & Sociedad, v. 13 (3), 2019, 370-382. Disponível em: http://www.dissoc.org/ediciones/v13n03/DS13%283%29Fiorin.pdf. Acesso em: 21 de março de 2022.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES. Manual para o uso não sexista da linguagem. O que bem se diz bem se entende. TOLEDO, Leslie Campaner de; ROCHA, Maria Anita Kieling da; DERMMAM, Marina Ramos;
DAMIN, Marzie. Rita Alves; PACHECO, Mauren (org.). Secretaria de Comunicação e Inclusão Digital: Porto Alegre, 2014. Disponível em: http://portalsemear.org.br/publicacoes/manual para-o-uso-nao-sexista-da-linguagem/. Acesso em: 21 mar. 2022.
GREIMAS, Algirdas Julien; COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. São Paulo: Contexto, 2008.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Grande dicionário Houaiss da língua portuguesa. Lisboa: Círculo de Leitores, 2015.
LAJOLO, Marisa. No jardim das letras, o pomo da discórdia. Instituto de Estudos da Linguagem - UNICAMP. Campinas, SP: UNICAMP, 1990. Disponível em: https://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/pomo.htm. Acesso em: 17 out. 2022.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O sexo dos astros. Tradução: Eurídice Figueiredo Lethbridge. In: LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural dois. 4. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. cap. XI, p. 219-228. (Biblioteca Tempo Universitário – 45).
LEWIS, Molly; LUPYAN, Gary. Gender stereotypes are reflected in the distributional structure of 25 languages. PsyArXiv, 15 mar. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.31234/osf.io/7qd3g. Acesso em: 30 abr. 2020.
NASCIMENTO, Letícia. Transfeminismo. São Paulo: Jandaíra, 2021 (Coleção Feminismos Plurais).
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Ed. Unesp, 2000.
PINKER, Steven. Do que é feito o pensamento: a língua como janela para a natureza humana. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
PRECIADO, Paul Beatriz. Manifiesto contra-sexual – Prácticas subversivas de identidade sexual. Madrid: Opera Prima, 2002.
QUEBRADA, Linn da. Oração. Participação Especial voz & piano: Liniker Barros. Coro: Verónica Valenttino, Ventura Profana, Urias, Danna Lisboa, Alice Guél e Jup do Bairro. Single, 2019.
RIBEIRÃO + colorida 25/09 Tarde. Youtube [Canal Maria Eugenia Biffi], [s.l], 25 set. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LENPRAAoOsA. Acesso em: 27 out. 2022.
SAMPAIO, Rebecca Demicheli. Linguagem, cognição e cultura: a hipótese Sapir-Whorf. Cadernos do IL, Porto Alegre, n. 56, novembro 2018. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/cadernosdoil/issue/view/3593. Acesso em: 23 jan. 2022.
SÃO JOSÉ (Costa Rica). Corte Interamericana de Direitos Humanos. Caso López Álvarez Vs. Honduras. Sentença de 1º de fevereiro de 2006 (Mérito, Reparações e Custas). Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_141_por.pdf. Acesso em: 19 out. 2022.
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Ação Popular nº 1009442- 85.2022.8.26.0071. Bauru, São Paulo, 2022.
SCHWARTZMANN, Matheus Nogueira. A doméstica como síntese do racismo brasileiro: discurso, formas de vida e cultura. Estudos Semióticos, v. 17 n. 2, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2021.181055. Acesso em: 12 dez. 2021.
SCHWARTZMANN, Matheus Nogueira; PORTELA, Jean Cristtus. Reflexões para uma semiótica das culturas: o caso da identidade trans. In: BUENO, Alexandre Marcelo;
MANZANO, Luciana Carmona; ABRIATA, Vera Lucia Rodella (org.). As crises na/da contemporaneidade. Franca/SP: Editora Unifran, 2017.
SCHWINDT, Luis Carlos. Sobre gênero neutro em português brasileiro e os limites do sistema linguístico. Revista da ABRALIN, [S. l.], v. 19, n. 1, p. 1-23, 2020. Disponível em: https://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/1709. Acesso em: 9 ago. 2022.
SEFIC/SECULT/Mtur - Secretaria Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo. Portaria nº604/2021. Dispõe sobre o uso e/ou utilização, direta ou indiretamente, além da apologia, do que se convencionou chamar de linguagem neutra. Brasília: SEFIC/SECULT/Mtur, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/turismo/pt-br/centrais-de-conteudo-/publicacoes/atos-normativos 2/2021-1/portaria-sefic-secult-mtur-no-604-de-27-de-outubro-de-2021. Acesso em: 17 out. 2022.
SOUZA, Jessé de. A elite do atraso. Rio de Janeiro: Leya, 2017.
SOUZA, Josy Maria Alves de. Nomes sociais de pessoas transgêneros e nomes artísticos de drag queens do Estado de Rondônia: questões de identidade linguística e de gênero. 2019. 204 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Porto Velho, 2019.
TONELI, Maria Juracy Filgueiras; BECKER, Simone. A violência normativa e os processos de subjetivação: contribuições para o debate a partir de Judith Butler. In: Fazendo gênero 9: diásporas, diversidades, deslocamentos. Florianópolis: UFSC, 2010. p. 1-8.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Matheus Nogueira Schwartzmann
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Os trabalhos publicados na revista Estudos Semióticos estão disponíveis sob Licença Creative Commons CC BY-NC-SA 4.0, a qual permite compartilhamento dos conteúdos publicados, desde que difundidos sem alteração ou adaptação e sem fins comerciais.