Dimensões de ícone para uma semiótica da arte e uma filosofia da imagem
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2025.241391Palavras-chave:
Semiótica da arte, Filosofia da Imagem, Iconicidade, ÍconeResumo
No âmbito da semiótica peirciana, ícone denota um dado signo que tem relação de semelhança com seu objeto. Por sua vez, os signos de iconicidade estão associados à primeiridade e, portanto, acarretam, igualmente, possibilidades e qualidades, ainda que seja comum associá-los à mera ideia de imagem semelhante. No entanto, imagem e semelhança nem sempre são sinônimos e parece ser justamente esse um dos pontos chaves para compreendermos por que Peirce pôde incluir numa mesma gama de iconicidades, não apenas imagens, mas diagramas e metáforas. Com efeito, seguindo seu modus operandi, ele recorreu ao vocabulário da filosofia antiga; todavia, há dois termos gregos associados às ideias de imagem e semelhança, a saber: eikón (ícone) e eídolon (ídolo). Embora possam ser tomados como sinônimos, desde Platão vêm se complementando e se contrapondo, incluindo assim, relações íntimas com as ideias de cópia e analogia; e também de imitação e representação; de verossimilhança e possibilidade; de simulacro e ilusão; imaginação e aparição, entre outros binômios. Eis então a complexidade do termo que Peirce tomou emprestado dos gregos. Sendo assim, propomos uma arqueologia conceitual do ícone e de seus principais correlatos no âmbito do vocabulário filosófico platônico e aristotélico — eikón; eídolon; phantasía; mímesis; eikós —, para analisar as diferenças e similaridades das possíveis dimensões do ícone na semiótica peirciana, em diálogo com uma filosofia da imagem na Antiguidade grega, que fundamenta uma filosofia da arte até hoje, e assim, delineia igualmente uma semiótica da arte.
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