O português como língua glocal: aspectos sócio-históricos e linguísticos de sua conformação
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v19i2p257-270Palavras-chave:
Sócio-história do português brasileiro. Unidade linguística. Diversidade linguística. Contatos entre línguas. Língua glocal.Resumo
Se se considerar que não existe uma gênese original linguística, senão processos contínuos e, consequentemente, históricos de constituição, todos mesclados pelas contingências socioculturais, econômicas e políticas dos contatos que, porventura, se possam interpor, é lícito dizer que não poderia ter a língua portuguesa permanecido incólume aos efeitos plurais que a sócio-história costuma imprimir em todas as línguas naturais. No advir de sua história, a partir da efetiva implantação da empresa exploratória do “além-mar”, no século XV e, especialmente, desde o século XVI, começou a se delinear a nova feição com que se iria reconhecer, na “história do presente”, a antiga língua registrada por Camões (1572): a de uma língua de cariz transcultural, transnacional e, por assim dizer, “glocal”, como aquela “que a mocidade tem no rosto perpétua”, com a licença da paráfrase ao poeta. Falado em diferentes espaços, em diferentes continentes do globo terrestre, o português, nas várias facetas com que seu “rosto linguístico” e sua “mocidade” passaram, paradoxalmente, a se identificar, conformou-se em veículo multicultural e multiespacial de expressão, tendo sido falado nos diversos cenários de colonização por que transitou, e é, hoje, veículo tanto em âmbito local, quanto global, isto é, intra, trans e internacionalmente, referenciando pluralidades e mediando níveis distintos de representação cultural e identitária, a despeito dos novos formatos que absorveu. Considerando esses pressupostos, é função deste trabalho apresentar uma reflexão sobre alguns aspectos sócio-históricos e linguísticos que contribuíram para que a língua portuguesa pudesse se reconhecer, na contemporaneidade, como o que se tem convencionado chamar de língua glocal, no sentido da noção de glocalização cunhada por Robertson (1995), cujas bases conceituais foram acima referidas. Pretende-se discorrer, especialmente, sobre a trajetória histórica de constituição da variedade do português brasileiro, os contatos linguísticos e culturais, os processos de mudança verificados, relacionando-os com os ocorridos em outros espaços nacionais, em que a língua portuguesa se manteve e se mantém una, conquanto sua imersão na diversidade, remetendo-se, na dimensão do possível, para a muito complexa discussão das ideias de unidade, diversidade e unidade na diversidade. Apoiar-se-á o trabalho, sobretudo, nos pressupostos teóricos da Linguística Histórica, da Sociolinguística e da Dialetologia pluridimensional, procurando estabelecer um diálogo com outros trabalhos interdisciplinares que se baseiam em perspectivas teóricas que operam sobre os processos de pós, descolonialismo e de globalização. Espera-se, com isso, poder contribuir para a reversão de vozes na história linguística e cultural da Ontologia moderna.Downloads
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