O alçamento não assimilatório das vogais /e, o/ pretônicas no português do sul do Brasil: uma abordagem fonológica de contraste e aperfeiçoamento

Autores

  • Elisa Battisti Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v26i2p199-219

Palavras-chave:

Representação fonológica, Vogais médias /e, o/, Alçamento não assimilatório, Português do sul do Brasil

Resumo

O artigo trata do alçamento das vogais médias pretônicas /e, o/ não desencadeado por vogal alta seguinte (senhora ~ s[i]nhora, colher ~ c[u]lher) no português de Porto Alegre. A análise baseia-se em Purnell e Raimy (2015), Purnell, Raimy e Salmons (2019), modelo que segue a abordagem de contraste e aperfeiçoamento de Hall (2011) e opera com traços fonológicos privativos, organizados conforme a geometria de traços de Avery e Idsardi (2001). Os objetivos da análise são (i) buscar, na representação fonológica, explicações para as proporções de alçamento observadas, relativamente menores para /e/ do que para /o/, e (ii) representar os contrastes vocálicos do português brasileiro em um modelo com traços privativos pouco explorado na literatura de fonologia do português. A análise mostra que a vogal /o/ é mais suscetível ao alçamento porque é menos marcada do que /e/ no sistema de contrastes da língua. Uma vantagem do modelo usado está em sua estrutura implicacional de traços privativos (gestos), dimensões (contrastes) e níveis superordenados, que explica e restringe a atividade fonológica possível na língua. Uma limitação da análise foi marcar a dimensão Altura da Língua em dois tiers da hierarquia contrastiva, para dar conta dos quatro contrastes de altura do português.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Avery P, Idsardi W. Laryngeal dimensions, completion and enhancement. In: Hall TA, editor. Distinctive feature theory. Berlin: Mouton de Gruyter; 2001. p. 41-70.

Battisti E, Cunha, VG. A representação dos contrastes vocálicos e a elevação não harmônica das vogais médias pretônicas em uma variedade de português brasileiro. XIII Congresso Internacional da ABRALIN; 30 out-03 nov. 2023; Curitiba, PR, Brasil.

Battisti E, Perozzo RV, Cunha VG. Alçamento sem motivação aparente em uma variedade de português brasileiro: efeitos de coarticulação de sequências CV e dispersão vocálica. Entrepalavras. 2020;10(1):12-35. [citado 13 jun. 2024]. Disponível em: https://doi.org/10.22168/2237-6321-11757.

Battisti E, Soares EPM. Representação fonológica e variabilidade de superfície da lateral palatal no português brasileiro. Letrônica. 2022;15(1):1-17. [citado 13 jun. 2024]. Disponível em: https://doi.org/10.15448/1984-4301.2022.1.42522.

Bermúdez-Otero R. Phonological change in Optimality Theory. In: Brown K, editor. Encyclopedia of language and linguistics. 2nd ed. Oxford: Elsevier; 2006. p. 497–505.

Bermúdez-Otero R. Amphichronic explanation and the life cycle of phonological processes. In: Honeybone P, Joseph Salmons J, editors. The Oxford handbook of historical phonology. Online edition: Oxford Academic; 2013. [citado 13 jun. 2024]. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199232819.013.014.

Biasibetti APCS. A aplicação variável da elevação sem motivação aparente das vogais médias pretônicas em Porto Alegre: considerações à luz da Teoria de Exemplares. Letrônica. 2014;7(2):496-521.

Bisol L. O alçamento da pretônica sem motivação aparente. In: Bisol L, Collischonn G, organizadoras. Português do Sul do Brasil: variação fonológica. Porto Alegre: EDIPUCRS; 2009. p. 73-92.

Brescancini CR, et al. Alçamento da vogal pré-tônica em Porto Alegre-RS: léxico e variação. ReVEL. 2017;14(Nº esp):4-24.

Calabrese A. Markedness and economy in a derivational model of phonology. Mouton de Gruyter: Berlin; 2005.

Camara Jr. JM. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis: Editora Vozes; 1970.

Chomsky N, Halle M. The sound pattern of English. New York: Harper and Row; 1968.

Clements GN. Vowel height assimilation in Bantu languages. Working papers of the Cornell Phonetics Laboratory. 1991;5:37-76.

Coetzee AW. A comprehensive model of phonological variation: grammatical and non-grammatical factors in variable nasal place assimilation. Phonology. 2016;33(2):211-146. [citado 13 jun. 2024]. Disponível em: doi:10.1017/S0952675716000117.

Cruz MC. As vogais médias pretônicas em Porto Alegre/RS: um estudo sobre o alçamento sem motivação aparente [dissertação]. Porto Alegre: Faculdade de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 2010.

Cunha VG. Estudo-piloto da percepção e avaliação da elevação sem motivação aparente por porto-alegrenses. XXX Salão de Iniciação Científica da UFRGS; 18-22 out. 2018; Porto Alegre, RS, Brasil.

Cunha VG. A elevação variável das vogais médias pretônicas não desencadeada por vogal alta seguinte no português de Porto Alegre: da produção à percepção e avaliação linguística [trabalho de conclusão de curso]. Porto Alegre: Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2022.

Dresher E. The contrastive hierarchy in phonology. Cambridge: Cambridge University Press; 2009.

Goldstein L, Byrd D, Saltzman E. The role of vocal tract gestural action units in understanding the evolution of phonology. In: Arbib M, editor. Action to language via the mirror neuron system. Cambridge: Cambridge University Press; 2006. p. 215-249.

Hall D. Phonological contrast and its phonetic enhancement: dispersedness without dispersion. Phonology. 2011;28(1):1-54.

Harris J. Representation. In: de Lacy P, editor. The Cambridge handbook of phonology. Cambridge: Cambridge University Press; 2007. p. 119-137.

Kiparsky P. Labov, sound change and phonological theory. Journal of Sociolinguistics. 2016;20(4):464-488.

Klunck P. Alçamento das vogais médias pretônicas sem motivação aparente [dissertação]. Porto Alegre: Faculdade de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 2007.

Labov W. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: University of Philadelphia Press; 1972.

Labov W. Resolving the neogrammarian controversy. Language. 1981;57(2):267-308.

Labov W. Principles of linguistic change. Oxford: Blackwell; 1994. (Vol. I: Internal factors).

Lee S-H. Contraste das vogais no PB. Portuguese-Brazilian studies. 2008;5:201-221.

Lee S-H. Variação fonológica e contraste no sistema vocálico do PB. In: Lee S-H, organizador. Vogais além de Belo Horizonte. Belo Horizonte: FALE/UFMG; 2012. p. 7-16.

Lee S-H, Oliveira MA. Variação inter- e intradialetal no PB: um problema para a teoria fonológica. In: Hora D da, Collischonn G, organizadores. Teoria linguística: fonologia e outros temas. João Pessoa: Editora da UFPB; 2003. p. 67-91.

Lindblom B. Phonetic universals in vowel systems. In: Ohala J, Jaeger J, editores. Experimental phonology. Orlando: Academic Press; 1986. p. 13-44.

Maddieson I. Patterns of sounds. Cambridge: Cambridge University Press; 1984.

Matzenauer CLB, Miranda ARM. Traços distintivos e aquisição das vogais do PB. SIS Vogais; 15-17 nov. 2007; João Pessoa, PB, Brasil.

Matzenauer CLB. Sobre as vogais médias pretônicas na aquisição do português brasileiro. Organon. 2009;29(46):71-108.

Mazaferro GT, Matzenauer CLB. Oposições entre segmentos: vogais médias na aquisição e em tipologias de línguas. Linguagem & Ensino. 2018;21(1):129-156.

McCarthy J, Prince A. Faithfulness and reduplicative identity. In: Beckman J, et al., editores. Papers in Optimality Theory – UMass Occasional Papers 18. Amherst, Massachusetts: GLSA; 1995. p. 249-384.

Monaretto VN. de O. O alçamento das vogais médias pretônicas /e/ e /o/ sem motivação aparente: um estudo em tempo real. Fragmentum. 2013;39:19-29.

Natvig D. Rhotic underspecification: deriving variability and arbitrariness through phonological representations. Glossa: a journal of general linguistics. 2020;5(1):1–28. [citado 13 jun. 2024]. Disponível em: https://doi.org/10.5334/gjgl.1172.

Prince A, Smolensky P. Optimality Theory: constraint interaction in generative grammar. Rutgers University/University of Colorado: Boulder; 1993. Relatório técnico.

Purnell TC, Raimy E. Distinctive features, levels of representation, and historical phonology. In: Honeybone P, Salmons J, editores. The Handbook of Historical Phonology. Oxford: Oxford University Press; 2015. p. 522–544.

Purnell TC, Raimy E, Salmons J. Old English vowels: diachrony, privativity, and phonological representations. Language. 2019;95(4):e447-e473. [citado 13 jun. 2024]. Disponível em: https://muse.jhu.edu/article/743116/pdf.

R Core Team. R: a language and environment for Statistical Computing [programa de computador]. Viena: R Foundation for Statistical Computing; 2021. [citado 13 jun. 2024]. Disponível em: https://www.r-project.org/.

Silva APC. Elevação sem motivação aparente das vogais médias pretônicas entre os jovens porto-alegrenses [dissertação]. Porto Alegre: Faculdade de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 2014.

Silva MB. Vogais pretônicas no Brasil: uma proposta de descrição a partir da fala de Salvador. São Paulo: Blucher; 2021.

Spahr C. Contrastive representations in non-segmental phonology [dissertação]. Toronto: University of Toronto; 2016.

Wetzels WL. The representation of vowel height and vowel height neutralization in Brazilian Portuguese (Southern Dialects). In: Goldsmith JA, Hume E, Wetzels WLM, editores. Tones and features: phonetic and phonological perspectives. Berlin: Walter de Gruyter; 2011. p. 331-359.

Downloads

Publicado

2024-12-31

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Battisti, E. (2024). O alçamento não assimilatório das vogais /e, o/ pretônicas no português do sul do Brasil: uma abordagem fonológica de contraste e aperfeiçoamento. Filologia E Linguística Portuguesa, 26(2), 199-219. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v26i2p199-219