Os efeitos do aprendizado das letras "e, o" na produção oral de vogais médias pretônicas e postônicas finais
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v26i2p221-239Palavras-chave:
Oralidade, Escrita, Vogais médias, Representação probabilísticaResumo
Este artigo investiga a influência do aprendizado das letras <e, o> na produção variável de vogais médias e altas pretônicas (ex: [me'ninʊ] ~ [mi'ninʊ]) e postônicas finais (ex: ['pato] ~ ['patʊ]) na fala do português brasileiro. Estudos já documentaram que, ao longo da escolarização, a escrita pode retroalimentar a fala (Chevrot; Beaud; Varga, 2000; Schiwindt et al., 2007; Adamoli, 2012). O presente texto avança em relação à literatura precedente por observar os efeitos da escrita na fala em dois contextos acentuais distintos: pretônico e postônico final. Foram coletados, experimentalmente, dados de fala e de escrita de alunos do 1°, 3°, 5°, 7° e 9° anos do Ensino Fundamental de Belo Horizonte - MG. Os resultados mostraram que os aprendizes aumentam a pronúncia de vogais médias, em relação à pronúncia de vogais altas, em contexto pretônico, mas não em contexto postônico final. Ancorando-se nos Modelos de Exemplares (Johnson, 1997; Bybee, 2001; Pierrehumbert, 2001), argumentamos que o conhecimento ortográfico pode auxiliar, probabilisticamente, na organização do conhecimento linguístico, contribuindo para o fortalecimento de categorias fonológicas. Contudo, a ortografia opera de maneira específica em cada categoria, tendo em vista que as categorias fonológicas são múltiplas, probabilísticas e dinâmicas.
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