O trabalho de campo como um lugar em processo: experiências de uma pesquisa geográfica com a população em situação de rua numa grande metrópole
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2018.137916Palavras-chave:
Fieldwork. Qualitative research. Spatiality. Epistemology. Homeless.Resumo
O trabalho de campo é uma importante prática da geografia em diferentes perspectivas. Este artigo insere-se nesse contexto com uma experiência de pesquisa que entende o trabalho de campo não só como instrumento específico para a obtenção de dados, mas como um processo de construção de conhecimento marcado pela vivência do pesquisador em campo, com lógicas e dinâmicas socioespaciais de interação, posicionalidade e reflexividade. A pesquisa qualitativa analisou espacialidades cotidianas de pessoas em situação de rua na área central da cidade do Rio de Janeiro. Procurou-se compreender essas espacialidades por meio de aproximação e entrada no campo, diálogos, conflitos, limites e ética na pesquisa. Assim, o próprio o trabalho de campo constituiu-se num desafio epistemológico e ensejou reflexões e eventuais subsídios para a pesquisa geográfica.
Downloads
Referências
ABREU, M. A. O estudo geográfico da cidade no Brasil: evolução e avaliação – contribuição à história do pensamento geográfico brasileiro. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 56, p.112-122, 1994.
BECKER, H. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
BERGER, P.; LUCKMAN, T. A construção social da realidade. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
BUTLER, J. Cuerpos que importan: sobre los limites materiales y discursivos del “sexo”. Buenos Aires: Paidós, 2008.
CABRERA, P. Huéspedes del aire: sociología de las personas sin hogar en Madrid. Madrid: Universidad Pontificia Comillas, 1998.
CASTRO, C. La geografía en la vida cotidiana: de los mapas cognitivos al prejuicio regional. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1997.
CICOUREL, A. Teoria e método em pesquisa de campo. In: GUIMARÃES, A. (Org.). Desvendando máscaras sociais. Rio de Janeiro, Forense, 1980. p. 87-122.
DALY, G. Homelessness and the street: observations from Britain, Canada and the United States. In: FYFE, N. (Org.). Images of the street: planning, identity and control in public space. London/New York: Routledge, 1998.
DALY, G. Migrants and gate keepers: the links between immigration and homelessness in Western Europe. Cities, v. 13, n. 1, p. 11-23, 1996.
DE CERTEAU, M. La invención del cotidiano 2: habitar, cocinar. Cidade do México: Universidad Iberoamericana, 1999.
DE CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
ESCOLAR, C. Epistemología del trabajo de campo en geografía: problemas en torno a la construcción de los datos. Biblio 3W – Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Barcelona, v. 96, n. 1, 1998. Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/b3w-96.htm. Acesso em: 26 abr. 2018.
ESCOREL, S. Vidas ao léu: trajetórias de exclusão social. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 1999.
EYLES, J. The geography of everyday. In: GREGORY, D.; WALFORD, R. (Org.). Horizons in human geography. London: Macmilian, 1989. p. 102-107.
FRANGELLA, S. Corpos urbanos errantes: uma etnografia da corporalidade de moradores de rua em São Paulo. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2010.
GARFINKEL, H. Estudios en etnometodología. México/Bogotá: Anthropos/Universidad Nacional de Colombia, 2006.
GIORGETTI, C. Moradores de rua: uma questão social? São Paulo: Fapesp/Educ, 2006.
GOFFMAN, E. Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. Petrópolis: Vozes, 2012.
GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1985.
GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
HÄGERSTRAND, T. ¿Que hay acerca de las personas en la ciencia regional? Serie Geográfica, Madrid: Universidad de Alcalá de Henares, n. 1, p. 93-110, 1991.
HELLER, A. Sociología de la vida cotidiana. Barcelona: Península, 1991.
HELLER, A. Historia y vida cotidiana: aportación a la sociología socialista. Barcelona/México: Grijalbo, 1972.
HOPE, M. The Importance of Direct Experience: A Philosophical Defense of Fieldwork in Human Geography. Journal of Geography in Higher Education, v. 33, n. 2, p. 169-182, 2009.
KASPER, C. Habitar a rua. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.
KATZ, C. Playing the field: questions of fieldwork in geography. Professional Geographer, v. 46, n. 1, p. 67-72, 1994.
LACOSTE, I. A pesquisa e o trabalho de campo: um problema político para os pesquisadores, estudantes e cidadãos. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, v. 84, n. 1, p. 77-92, 2006.
LEFEBVRE, H. Critique of everyday life. London/New York: Verso, 1991.
LEFEBVRE, H. La vida cotidiana en el mundo moderno. Madrid: Alianza, 1980.
LEITE, L. A razão dos invencíveis – meninos de rua: o rompimento da ordem (1554-1994). Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1998.
LEVANTAMENTO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Cadernos de Assistência Social, v. 18. Rio de Janeiro: Prefeitura do Rio de Janeiro, 2008.
LINDÓN, A. Los imaginarios urbanos y el constructivismo geográfico: los hologramas espaciales. Revista Eure, Santiago de Chile: Pontificia Universidad Católica de Chile, v. XXXIII, n. 99, p. 31-46, 2007.
LINDÓN, A. La espacialidad de la vida cotidiana: hologramas socio-territoriales de la cotidianidad urbana. In: NOGUÉ, J.; ROMERO, J. (Org.). Las otras geografías. Valencia: Tirant lo Blanch, 2006. p. 425-445.
LINDÓN, A. La vida cotidiana y su espacio-temporalidad. México: Anthropos, 2000.
NAIRN, K. Parties on geography fieldtrips: embodied fieldwork? New Zealand Women’s Studies Journal, v. 12, n. 2, p. 8-97, 1996.
PAIN, R.; FRANCIS, P. Living with crime: spaces of risk for homeless young people. Children’s Geographies, v. 2, v. 1, p. 95-110, 2004.
PAUGAM, S. Afastar-se das prenoções. In: (Org.). A pesquisa sociológica. Rio de Janeiro: Vozes, 2015. p. 17-32.
PIRES DO RIO, G. Trabalho de campo na (re)construção da pesquisa geográfica: reflexões sobre um tradicional instrumento de investigação. Geographia – UFF, Niterói, v.13, 25, p. 42-58, 2012.
RIZZINI, I. Life on the streets: life trajectories of children and youth on the streets. Rio de Janeiro: Loyola/Ed. PUC-Rio, 2003.
ROBAINA, I. M. M. Entre mobilidades e permanências: uma análise das espacialidades cotidianas da população em situação de rua na área central da cidade do Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
ROBAINA, I. M. M. “Nas margens do centro”: as populações de rua, suas sobrevivências e os espaços das grandes metrópoles. Caderno de Geografia, Belo Horizonte: PUC Minas, v. 23, p. 1-14, 2013.
ROSA, C. Vidas nas ruas. São Paulo: Hucitec/Rede Rua, 2005.
RUELLAN, F. O trabalho de campo nas pesquisas originais de geografia regional. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 35-50, 1944.
SCHMIDT, K.; ROBAINA, I. M. M. Beyond Removal: Critically Engaging in Research on Geographies of Homelessness in the City of Rio de Janeiro. Journal of Latin American Geography, Austin, v. 16, n. 1, p. 93-116, 2017.
SCHÜTZ, A. Fenomenologia e relações sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
SILVA, H.; MILITO, C. Vozes do meio-fio: etnografia sobre a singularidade dos diálogos que envolvem meninos e adolescentes ou que tomam a adolescência e a infância por tema e objeto nas ruas da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.
SNOW, D.; ANDERSON, L. Desafortunados: um estudo sobre o povo da rua. Petrópolis: Vozes, 1998.
SNOW, D.; BECKER, S.; ANDERSON, L. Criminality and Homeless Men: An Empirical Assessment. Social Problems, Oxford, 36, 5, p. 532-549, 1998.
SPRINGER, S. Homelessness: A proposal for a global definition and classification, Habitat International, v. 24, n. 4, p. 475-484, 2000.
STOFFELS, M. Os mendigos na cidade de São Paulo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
SUERTEGARAY, D. M. A. Pesquisa de campo em geografia. Geographia, Niterói, v. 4, n. 7, p. 64-68, 2002.
VARANDA, V.; ADORNO, R. Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade da população de rua e o desafio para políticas de saúde. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 56-69, 2004.
VIEIRA, M. A. C.; BEZERRA, E. M. R.; ROSA, C. M. M. (Org.). População de rua: quem é, como vive, como é vista. São Paulo: Hucitec, 1992.
WOLF, M. Sociología de la vida cotidiana. Madrid: Cátedra Teorema, 1979.
ZUSMAN, P. La tradición del trabajo de campo en geografía. Geograficando, La Plata, v. 7, n. 7, p. 15-32, 2011.
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2018 Igor Robaina
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho com licença de uso da atribuição CC-BY, que permite distribuir, remixar, adaptar e criar com base no seu trabalho desde que se confira o devido crédito autoral, da maneira especificada por CS.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line (ex.: em repositórios institucionais ou em sua página pessoal) a qualquer altura antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).