Arquitetura, humanização e saúde pública no Brasil: um debate sobre projetos-padrão para unidades básicas de saúde

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/gtp.v19i1.209977

Palavras-chave:

Políticas públicas, Atenção primária de saúde, Arquitetura de edifícios de saúde, Ambiência

Resumo

As políticas de humanização implementadas pelo Ministério da Saúde (MS) representam avanços no enfrentamento dos desafios para melhorias nos equipamentos de saúde pública. Entretanto, muitos estabelecimentos ainda possuem estrutura física inadequada. Para suprir as demandas, aprimorar e ampliar a rede de atenção pública, o Governo Federal e do Estado de Minas Gerais disponibilizaram projetos-padrão, visando a construção de edificações capazes de atender com qualidade os usuários do sistema. Todavia, questiona-se se esses projetos respondem, além dos critérios normativos e de funcionalidade, às premissas de humanização, tencionando uma arquitetura que contribua positivamente para a saúde e o bem-estar da população. Diante disso, o objetivo deste artigo é analisar como a arquitetura tem sido tratada na implementação de uma política de saúde pública humanizada, tomando como objeto de estudo uma tipologia de UBS modelo do MS e outra de Minas Gerais, de modo a avaliar a qualidade da proposta projetual. Para tanto, verificou-se a aplicação prática do conceito de humanização e dos princípios de ambiência nos projetos-padrão dessas UBSs, por meio da análise qualitativa das peças gráficas dos projetos e perspectivas, considerando aspectos técnico-construtivos, programáticos, funcionais e ambientais, segundo a percepção das autoras. A análise dos estudos de caso mostrou como vantagens da padronização a agilidade da construção, o atendimento aos critérios normativos e a redução dos custos. Como desvantagem, ressalta-se a distância entre projeto e lugar. Conclui-se que houve uma melhoria qualitativa nos ambientes, porém, o foco permanece na construção e não na promoção do bem-estar e saúde integral dos sujeitos.

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Biografia do Autor

  • Maíra Vieira Dias, Centro Universitário de Várzea Grande | UNIVAG

    Doutora em Arquitetura, Tecnologia e Cidade e Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Professora do Mestrado Acadêmico em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Várzea Grande em associação com a Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Líder do Grupo de Pesquisa Tecnologia e Inovação no Ambiente Construído do CNPq.

  • Grasiele Márcia Magri Grossi, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais

    Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2009), Mestre (2013) e Doutora (2019) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Grandes Projetos de Desenvolvimento Urbano (GPDU/PPGAU/UFF). Servidora pública da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. 

  • Natally Puiati, Centro Universitário Presidente Antônio Carlos

    Graduada em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Presidente Antônio Carlos - Unipac Barbacena

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Publicado

2024-06-13

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

DIAS, Maíra Vieira; GROSSI, Grasiele Márcia Magri; PUIATI, Natally. Arquitetura, humanização e saúde pública no Brasil: um debate sobre projetos-padrão para unidades básicas de saúde. Gestão & Tecnologia de Projetos, São Carlos, v. 19, n. 1, p. 29–49, 2024. DOI: 10.11606/gtp.v19i1.209977. Disponível em: https://revistas.usp.br/gestaodeprojetos/article/view/209977.. Acesso em: 21 jun. 2024.