Geocronologia U-Pb (LA-ICPMS) de zircões dos distritos pegmatíticos de Santa Maria de Itabira e São José da Safira (Minas Gerais): populações contrastantes na região da Província Pegmatítica Oriental do Brasil?
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9095.v24-212737Palavras-chave:
Datações U-Pb, Zircões Magmáticos, Pegmatitos tipo-NYF, Pegmatitos tipo-LCTResumo
Os distritos pegmatíticos de Santa Maria de Itabira (DPSM) e de São José da Safira (DPSJ) são classicamente integrantes da Província Pegmatítica Oriental do Brasil (PPOB), embora até então com carência de dados geocronológicos em termos regionais. Neste estudo apresentam-se novas datações U-Pb (LA-ICPMS) de zircões extraídos de três pegmatitos desses distritos (Ponte da Raiz, Jaguaraçu e Ipê). Os zircões do Pegmatito Ponte da Raiz (DPSM), considerados magmáticos, fornecem uma robusta idade-concórdia em 1675 ± 5 Ma, indicando sua cristalização compatível com o magmatismo anorogênico da Suíte Granítica Borrachudos (~1,7 Ga). Os zircões do Pegmatito Jaguaraçu, do mesmo distrito, são metamícticos, fornecendo uma média de idades mais jovens de 508 ± 19 Ma que podem representar manifestações hidrotermais pós-colisionais no Orógeno Araçuaí. Os zircões do Pegmatito Ipê (DPSJ) apresentam idade-concórdia em 467 ± 5 Ma, interpretada como a da cristalização do corpo, valor similar à larga maioria das outras datações de pegmatitos do orógeno. Estes dados, aliados aos atributos mineralógicos dos pegmatitos/distritos estudados, evidenciam que o DPSM se caracteriza por pegmatitos berilíferos ricos em fluorita, amazonita e topázio, pertencendo à família NYF (nióbio-ítrio-flúor); possuem idade estateriana e representam magmas residuais de granitos da Suíte Borrachudos. Em contraste, o DPSJ constitui um distrito pegmatítico da família LCT (lítio-césio-tântalo), cujos pegmatitos são provenientes de magmas residuais de granitos tardi-orogênicos (pós-colisionais) do Orógeno Araçuaí. Em sentido mais amplo, a serem confirmados tais dados, o DPSM deve ser separado da PPOB, embora os depósitos quartzo-feldspáticos hidrotermais ricos em esmeralda/alexandrita que ocorrem em sua área geográfica estejam relacionados a um episódio hidrotermal tardio do Brasiliano.
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