Mães, santas e bruxas: mística e feminino na escrita de Michela Murgia
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2238-8281.i49p5-20Palavras-chave:
Michela Murgia, literatura feminista , AccabadoraResumo
Com a ascensão de uma perspectiva crítica sobre a representação da mulher na literatura cristã ocidental, observa-se um crescente descontentamento com a maneira pela qual a igreja manipulou a imagem feminina, confinando-a socialmente a dois extremos: a santa e a sedutora. Símbolos e arquétipos proliferam-se, contribuindo para idealizações que atendem apenas a fragmentos singulares da identidade feminina. Neste contexto, considerando os diversos espectros femininos retratados nas personagens de Michela Murgia (1972-2023), especialmente no que se refere às questões que circunscrevem a maternidade, nosso objetivo é investigar a representação do feminino em suas obras. Em Accabadora (2009), somos apresentados a uma protagonista imersa em uma tradição sarda que evoca a memória da mãe e da anciã. Esta narrativa dialoga com a visão da imagem da mulher na igreja apresentada em seu ensaio Ave Mary. E la Chiesa inventò la donna (2011), estudo sobre a figura feminina para o Catolicismo lida pela perspectiva da teologia feminista. Por meio de uma leitura que é tanto social quanto antropológica, vislumbramos os espectros da escrita feminista de Michela em suas personagens, que dialogam com uma longa tradição na qual a mulher assume características múltiplas que transgridem as dualidades tradicionais preconizadas por uma longa convenção em que pouco ouvíamos a mulher sarda falando sobre si.
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