O repetível de um gênero do discurso e o repetível da história: centralização e universalização
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v37i4p23-39Palavras-chave:
Carta de Caminha, Carta pras Icamiabas, CartaResumo
Neste trabalho, assumimos o repetível dos gêneros do discurso para estabelecer um paralelo entre duas cartas emblemáticas na história da produção literária (e documental) do Brasil: a Carta pras Icamiabas (capítulo do romance Macunaíma, de Mário de Andrade) e a Carta de Caminha. No repetível dos gêneros habita também o repetível da história e é essa a leitura que, neste trabalho, orienta a exploração da imanência do dado histórico no dado linguístico. Ambas as cartas apresentam um deslocamento no espaço, uma viagem. Como resultado, temos: a) no caso da Carta de Caminha, um dado de centralização do poder por um estado e um soberano, linguisticamente presente na busca de exatidão para as descrições e cálculos, como elementos universalizáveis; b) no caso da Carta pras Icamiabas, a centralização do poder é pura quimera e a universalização não passa de contenção, apesar do anúncio hiperbólico – fora de qualquer pretensão de exatidão – de um poder que gira em falso; c) as aproximações entre as duas cartas, marcadamente por um pedido de ajuda, põem o aspecto lendário do herói mítico na ordem da personagem histórica, ao mesmo tempo em que permite observar o ser histórico encarnado no escrivão oficial em seu aspecto lendário.
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