O repetível de um gênero do discurso e o repetível da história: centralização e universalização

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v37i4p23-39

Palavras-chave:

Carta de Caminha, Carta pras Icamiabas, Carta

Resumo

Neste trabalho, assumimos o repetível dos gêneros do discurso para estabelecer um paralelo entre duas cartas emblemáticas na história da produção literária (e documental) do Brasil: a Carta pras Icamiabas (capítulo do romance Macunaíma, de Mário de Andrade) e a Carta de Caminha. No repetível dos gêneros habita também o repetível da história e é essa a leitura que, neste trabalho, orienta a exploração da imanência do dado histórico no dado linguístico. Ambas as cartas apresentam um deslocamento no espaço, uma viagem. Como resultado, temos: a) no caso da Carta de Caminha, um dado de centralização do poder por um estado e um soberano, linguisticamente presente na busca de exatidão para as descrições e cálculos, como elementos universalizáveis; b) no caso da Carta pras Icamiabas, a centralização do poder é pura quimera e a universalização não passa de contenção, apesar do anúncio hiperbólico – fora de qualquer pretensão de exatidão – de um poder que gira em falso; c) as aproximações entre as duas cartas, marcadamente por um pedido de ajuda, põem o aspecto lendário do herói mítico na ordem da personagem histórica, ao mesmo tempo em que permite observar o ser histórico encarnado no escrivão oficial em seu aspecto lendário.

Downloads

Biografia do Autor

  • Manoel Luiz Gonçalves Correa, Universidade de São Paulo

    Doutor em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil (1997). Docente Sênior na Universidade de São Paulo, Brasil.

Referências

ALMEIDA PRADO, J. F. de. A carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de janeiro: Agir, 1965.

ANDRADE, M. de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. 13. ed. São Paulo: Martins, 1976.

BENSA, A. Images et usages du temps. Terrain: Carnets du Patrimoine Ethnologique Vivre le temps. Paris, s/v, n. 29, p. 5-18, 1997.

CANDIDO, A. A passagem do dois ao três (contribuição para o estudo das mediações na análise literária). Revista de História, São Paulo, s/v., n. 100, p. 787-800, 1974. Disponível em: https://revistas.usp.br/revhistoria/article/view/132672/128757. Acesso em: 17 jan. 2025.

CASCUDO, L. da C. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: EDUSP/Belo Horizonte, Itatiaia, 1983.

CAVALCANTI PROENÇA, M. Roteiro de Macunaíma. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/Brasília: INL, 1977.

CORTESÃO, J. A carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1943.

FONSECA, M. A. B. A carta pras Icamiabas. In: ANDRADE, M. de. Macunaíma o herói sem nenhum caráter (Edição Crítica de Telê P. Ancona Lopez). 1ed. Unesco, Coleção Archivos, 1988 (1ª. ed.), pp. 278-294. Reprodução do capítulo disponibilizada no site da Academia.edu, com páginas numeradas de 1 a 22: https://www.academia.edu/36937133/A_carta_pras_icamiabas. Acesso em: 17 jan. 2025.

HOLANDA, S. B. de. Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. 3. ed. São Paulo: Nacional, 1977.

PIZARRO, J. La “Carta pras icamiabas”: o la falta de carácter de un héroe imperial. Revista do IEB, n. 46, p. 179-199, fev 2008.

RAMA, A. A cidade das letras. Trad. Emir Sader. São Paulo: Brasiliense, 1985.

SCHWARZ, R. Que horas são?. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

SILVA, M. B. N. da. A carta-relatório de Pero Vaz de Caminha. Ide (São Paulo), Volume 33, nº 50, p. 26-35, jul. 2010. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31062010000100005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 17 jan. 2025.

TAVARES DE LIMA, R. Abecê do folclore. 3. ed. São Paulo: Ricordi, 1972.

VEYNE, P. Inventário das diferenças (história e sociologia). Trad. Sônia Salzstein. São Paulo: Brasiliense, 1983.

VOGT, C. Caminhos cruzando-se. In: Caminhos cruzados: linguagem, antropologia e ciências naturais. São Paulo: Brasiliense, 1982, p. 7-8.

Downloads

Publicado

27-12-2024

Como Citar

CORREA, Manoel Luiz Gonçalves. O repetível de um gênero do discurso e o repetível da história: centralização e universalização. Linha D’Água, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 23–39, 2024. DOI: 10.11606/issn.2236-4242.v37i4p23-39. Disponível em: https://revistas.usp.br/linhadagua/article/view/225891.. Acesso em: 31 mar. 2025.

Dados de financiamento